* Por Marlon Itaboray
A experiência do usuário (UX, na sigla em inglês) sempre esteve aí, mas foi nos anos 80, junto com a revolução dos computadores pessoais, que o tema passou a ganhar importância. As principais empresas de tecnologia foram obrigadas a se preocupar com a usabilidade de seus produtos, numa espécie de presságio sobre o que viria em seguida, entre os anos 90 e 2000, com a disseminação da internet.
Junto com a até então chamada de rede mundial de computadores, mais empresas, e não apenas os fabricantes de equipamentos eletrônicos, passaram a prestar mais atenção na qualidade das interações dos clientes com seus produtos e serviços. Isso não significa, porém, a completa disseminação do conceito de experiência do usuário, como veremos a seguir.
Ainda que designers como Don Norman, o primeiro arquiteto de experiência do usuário da Apple, em 1993, e Brenda Laurel, que atuava na indústria de games, o termo e a importância relegada a ele nas grandes empresas eram praticamente irrelevantes. Nas pequenas e médias, então, eram inexistentes, salvo exceções de empresas de tecnologia, como as ascendentes da época Apple e Microsoft.
A virada começou a ocorrer no início dos anos 2000, com a consolidação do e-commerce e de outras empresas vendendo seus serviços na web. E de lá para cá chegou ao atual patamar de imprescindível para qualquer empresa que tenha interface com o consumidor.
A experiência do usuário responde a alguns
preceitos: o que, onde, quando, por que e como alguém utiliza um produto ou um
serviço, além de entender quem essa pessoa é, levando sempre em consideração o
contexto em que ela está inserida e buscando entender as razões por trás de seu
comportamento.
Com o crescimento da produção de conteúdos, comunidades e eventos, a experiência do usuário tem ganhado bastante força no mundo como uma disciplina do design. No Brasil não é diferente. Além de projetos de web, mobile, aplicativos e sistemas, que são os mais comuns no mercado, o profissional de UX também trabalha em diferentes áreas e com tecnologias mais recentes, como chatbots, serviços, realidade virtual e wearables.
Atua principalmente na construção e testes de projetos que sejam fáceis de usar, com baixa fricção nas interações e que permitam aos usuários realizar suas tarefas o mais rápido possível, sem ruídos e obstáculos. E tal cenário ganha ainda mais força com a evolução do mercado nacional de startups, em franca expansão.
Mas por que é importante uma startup investir em UX?
A experiência do usuário é a fonte principal para propor melhorias de um problema utilizando uma abordagem iterativa e centrada no usuário. Na era das experiências, startups precisam focar mais nas interações e problemas dos usuários ao invés de somente melhorar a tecnologia. Com isso, é possível identificar o que vale a pena ser construído e testado, o que está sendo, de fato, criado e qual é o valor entregue pela startup.
Um profissional de experiência do usuário pesquisará sobre tudo, desde o que já está sendo feito no mercado, possíveis usuários, até a viabilidade do projeto e como construir protótipos robustos que aceleram o ciclo de aprendizado da startup. Trata-se de uma investigação aprofundada, que, antes de lançar um produto ou serviço, irá poupar tempo e dinheiro.
Um ótimo exemplo é a GuiaBolso, startup que fornece um aplicativo para melhorar a saúde financeira do usuário. Com mais de três milhões de clientes, a startup acreditou que a simplicidade e uma boa experiência do usuário são diferenciais. O aplicativo exporta e categoriza automaticamente todas as receitas e despesas da conta bancária do cliente, gratuitamente. Aliando tecnologia com UX, a startup ficou conhecida no mercado brasileiro, chamando atenção de investidores e garantindo uma vaga para o programa de aceleração global da Google, o Launchpad.
Segundo a Guia Bolso, após três meses de uso, 12% dos usuários que não poupavam despesas passam a economizar e um em cada quatro usuários consegue sair de uma dívida. Para começar a se preocupar com experiência do usuário dentro da sua startup é necessário assumir uma mentalidade focada no aprendizado. Os requisitos de um serviço ou produto precisam ser fundamentados em resultados de negócio, redefinindo os fatores de sucesso e pensando o que é possível alcançar com as soluções propostas. Assim fica fácil de priorizar e testar hipóteses com base em risco, viabilidade e potencial de sucesso.
O objetivo principal é construir e aprender mais rapidamente quais elementos de toda a experiência do usuário estão funcionando e quais não estão, o que possibilita mudar de ideia sem muito esforço, seja por meio de um protótipo de baixa fidelidade ou testes de usabilidade, reduzindo o máximo de desperdícios durante esse processo.
Marlon Itaboray é UX Strategist da Kyvo Design-Driven Innovation
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