* Por Wendell Toledo

No  Vale do Silício, como a mentalidade é de crescer rápido e criar monopólios, os empreendedores começam a pensar na marca em estágios mais avançados. Não é uma questão de criar um logo bonito ou uma identidade refinada, mas, sim, de ter um alinhamento de propósito, ou seja, um motivo pelo qual a organização existe e o real valor que ela entrega em todas as pontas do processo.

Tive a oportunidade de me encontrar com o professor de Marketing da Universidade de Berkeley, Rodrigo Espinosa, referência no setor, que atende clientes de grande expressão, como o Uber. Segundo Spinosa, uma grande varejista dos Estados Unidos, que tinha o propósito de ser um provedor de saúde da família americana foi pressionada a vender cigarros em seus estabelecimentos, o que acarretaria em um ganho de milhões em vendas para a empresa. A companhia, no entanto, decidiu abrir mão dessa receita para manter a confiança dos seus clientes e, principalmente, o seu posicionamento como marca. Ser um empreendedor com propósitos é ter que lidar incontáveis vezes com tomadas de decisões como essa.

Como CEO, indaguei-o sobre a estruturação de uma marca de maneira coerente (o que demanda tempo e consome recursos) e a necessidade das startups atuarem com o objetivo de serem simples, ágeis, baratas e com rápido crescimento. A resposta foi que, mesmo nos early stages de uma startup, é possível pensar no branding sem implicar em grandes ações. À medida que a organização cresce, deve-se refinar tudo o que gira ao redor da marca, mas, definitivamente, essa não é uma preocupação colocada em debate no início da criação de um produto.

Todo o ecossistema do Vale do Silício funciona de forma interligada e efetiva. Isso inclui instituições de ensino, como a Berkeley e a tradicional Stanford. A formação de empreendedores é algo tão importante que Tim Draper, um dos maiores Venture Capitalists (tipo de investimento importante nos mercados de capitais dos países) da região, fundou sua própria universidade que recebe aspirantes a empreendedores de todo o mundo em um programa de cinco semanas. Para se ter uma ideia da importância de Draper para o setor, é só lembrar que ele já investiu na Tesla e Skype, por exemplo, e gerou alguns unicórnios, empresas que valem mais de U$S 1bi.

Apesar de ser o eixo central desse mindset, nem só de startups é feito o Vale do Silício. Grandes empresas de tecnologia também estão situadas por aqui, como é o caso da NVIDIA, dona de um monopólio de GPU’s (Unidades de Processamento Gráficos). Hoje, a organização é a fornecedora de empresas como Facebook, LinkedIn, Google, Amazon e Tesla, e lidera o processamento de inteligência artificial. O prédio tem aspecto futurista e a iluminação simula a luz do sol, além de toda a arquitetura ser a prova de terremotos. O faturamento da NVIDIA é maior que o PIB de muitos países.

Por falar em PIB e na importância da formação de empreendedores, em especial os profissionais saídos de Stanford, em 2015 um estudo avaliou o faturamento das empresas que nasceram de empreendedores formados na universidade. O resultado é que se elas formassem um país, seria a 10ª maior economia do mundo. Isso significa que está sendo criado um monopólio da tecnologia e isso gera impacto de maneira muito forte no mercado.

Apesar de todo o universo de inovação, agilidade e criação de produtos e serviços que devem entregar valor à sociedade, cabe aqui uma observação muito pessoal. Espanta-me a quantidade de moradores de rua que perambulam pelas travessas da Union Square, em São Francisco, e, embora não tenha pesquisado sobre as políticas públicas nesse sentido, não me parece que essa seja uma situação avaliada pelos maiores empreendedores da região. No entanto, a situação não é a mesma em Palo Alto, onde vive Mark Zuckerberg e viveu Steve Jobs, ou em Cupertino, com dezenas de prédios da Apple e cidade sede da Singularity University, que fica dentro da Nasa e discute questões de interesse global. Mas isso é um assunto para os próximos insights.

* Wendell Toledo é Fundador da Artluv, plataforma que conecta artistas a clientes. Wendell iniciou sua carreira no mundo da arte aos 15 anos, desenhando storyboard para um filme do Mojica. CEO da Blachere Iluminação Brasil, Toledo é formado em desenho industrial pela ESPM e Administração Financeira pela FGV, além de ter cursos pelo ITS Rio, Massachusetts Institute of Technology e pela Harvard Business School.

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