De acordo com especialistas, os
últimos anos têm sido um pesadelo para os varejistas, mas a partir de agora, o
segmento está voltando a se aquecer no Brasil. De acordo com o Balanço de
Vendas da Associação Comercial de São Paulo, o comércio na capital paulista
aumentou 2,6% no último mês, em relação a janeiro de 2018. Vendas à prazo e à
vista aumentaram 0,4% e 4,8%, respectivamente.  Este índice mede o movimento das vendas à
prazo e à vista da cidade de São Paulo, sendo assim um dos maiores termômetros
do varejo nacional.

“É um ritmo ainda moderado, na
esteira das férias escolares, mas espera-se que ele acelere ao longo do ano”,
comenta Alencar Burti, presidente da ACSP e da Federação das Associações
Comerciais de São Paulo (Facesp). E não é só a Associação que acredita que este
mercado se movimentará. Por todo o Brasil os números deste segmento estão
subindo, e as startups são uma parte significativa desta mudança.

O Startupi conversou com algumas
startups que estão movimentando o segmento do varejo no Brasil, as chamadas
Retailtechs, para saber como está o mercado no país para estas startups, além
de conhecer tendências e desafios apresentados por este setor para os
empreendedores.

Hub de inovação

Localizado em Pinheiros, uma das regiões mais movimentadas da capital paulista, o Oasislab Innovation Space foi o primeiro hub do Brasil dedicado especificamente ao segmento varejista. Com pouco mais de um ano de atuação, o coworking abriga cerca de 30 empresas atualmente. “Já passaram por aqui mais de 60 startups”, afirma Marcos Mello, community manager do espaço.

Como uma das referências sobre varejo nacional, o espaço recebe eventos de alguns dos maiores varejistas do Brasil, como Unilever, Leroy Merlin e Grupo Pão de Açúcar, que rodou, dentro do Oasislab, uma aceleração em parceria com a Liga Ventures voltada ao varejo. “Por aqui passam cerca de 150 empresas mensalmente, em busca de conexões com as startups ou participando de eventos”, afirma Marcos.

Espaço de Coworking do Oasislab Innovation Space

Além do espaço de trabalho e das
conexões que podem ser realizadas dentro do Oasislab, as startups residentes do
espaço também podem se beneficiar de um programa de mentorias de parceria do
Oasislab, voltado principalmente para startups early stage. “Nosso objetivo com
o Oasislab é ajudar a fomentar o ecossistema de startups de varejo, porque há
um oceano azul de oportunidades para estes empreendedores, tanto online quanto
off-line”, completa Marcos.

Comércio eletrônico

Um dos maiores desafios dos empreendedores atualmente, especialmente das retailtechs, é atingir as expectativas dos consumidores com ofertas relevantes direcionadas ao público final. Neste cenário, as startups que souberem estruturar um bom plano de negócio encontram grandes oportunidades, como foi o caso da Shopback.

Inaugurada no mercado em 2015 e fundada por Isaac Ezra, Sergio Blacheniene e André Teixeira, a startup é uma multiplataforma para recaptura de usuários abandonados e retenção de clientes por meio de Big Data e inteligência artificial. Em 2017, foi adquirida pela Linx, líder em software de gestão para o varejo, em uma transação de até R$56,5 milhões.

De acordo com Isaac Ezra, fundador
da ShopBack e atual diretor de Soluções de Reengajamento da unidade de negócios
Linx Impulse, na Linx, não é de hoje que o varejo vem passando por uma verdadeira
transformação. “Isso é muito positivo para os empreendedores que, ao notarem as
necessidades do setor, desenvolvem soluções capazes de satisfazer pequenos,
médios e grandes varejistas, com plataformas que geram benefícios até mesmo
para o consumidor final”, afirma.

Segundo um estudo da Deloitte, 71% das pessoas usam ferramentas virtuais antes de visitar uma loja. E esta mudança do comportamento do consumidor, hoje infinitamente mais conectado, gerou um movimento de mudança irreversível no varejo. “A maior transformação pela qual o setor está passando é o OmniChannel, isto é, a integração de canais físicos e virtuais de um determinado varejista”, diz Isaac.

Isaac Ezra, fundador da ShopBack e atual diretor de Soluções de Reengajamento da unidade de negócios Linx Impulse

Omnichannel

Um estudo do Google diz que até 2021 o comércio eletrônico terá
dobrado sua participação no varejo brasileiro, em relação a 2016, crescendo em
média 12,4% ao ano. O papel fundamental da internet nos processos de compra
hoje oferece ao lojista a possibilidade de vender online e despachar o produto
de uma loja, em vez de um centro de distribuição, ou permitir que o consumidor
retire sua encomenda em um ponto de venda físico, além de integrar estoques e
otimizar a relação entre e-commerce e ambiente offline. “Por este motivo, é
extremamente necessário que os lojistas invistam em ferramentas que vão desde o
primeiro impacto do cliente com um produto, até sistemas de reengajamento para
casos de abandono de carrinho, por exemplo.”

Para Issac, o mercado varejista
está cercado de tendências para 2019, quase todas elas relacionadas ao digital.
“É possível dizer que o OmniChannel deve liderar essa transformação e, com
isso, ferramentas como chatbots, reengajamento, inteligência artificial e nuvem
devem ser protagonistas no novo varejo. Entretanto, é preciso destacar o papel
que o e-commerce continuará exercendo no processo de compra e venda e, neste
sentido, é natural que haja um crescimento nos marketplaces, uso de
criptomoedas, entregas no mesmo dia, aumento do uso de dispositivos móveis para
a realização de transações e muito mais”, finaliza.

Desafios e oportunidades

Quando falamos de varejo online, um dos maiores desafios do segmento são os golpes. De acordo com a Konduto, o e-commerce brasileiro sofre uma tentativa de fraude a cada cinco segundos. Só em 2018, a startup ajudou a evitar R$3 bilhões em fraudes, o equivalente a 10% do volume financeiro total processado pelos sistemas da empresa.

Tom Canabarro, cofundador da Konduto, diz que empreender neste mercado é altamente desafiador, pois o comércio eletrônico está em franco crescimento, e conta com profissionais extremamente qualificados e criativos e com empresas/fornecedores muito bons. “É um setor com enormes oportunidades justamente porque o varejo brasileiro ainda está longe de atingir a fase de estagnação. O maior desafio que ainda vejo neste setor, porém, é justamente a integração entre on e offline: ainda há empresas enormes, importantíssimas para a sociedade brasileira, que ainda não entenderam bem a importância do online – muitos ainda veem o online não como um canal de vendas, ou uma parte (fundamental) do negócio, mas sim como uma empresa concorrente. Neste ponto de digitalização o varejo brasileiro ainda precisa amadurecer bastante”, afirma.

Neste sentido, Tom acredita que há dois movimentos principais com essa mudança do comportamento do consumidor: 1) ele definitivamente precisa de empresas que tenham estratégia multicanal, ou seja,  falar com o chat no Facebook da empresa com o mesmo padrão de qualidade em que ele é atendido na loja física, pagar o mesmo preço que ele vê no site e receber o mesmo carinho que ele tem nos e-mails marketing, e 2) também os padrões de qualidade: “o consumidor está muito mais exigente, em vários aspectos. E tudo isso é muito bom, pois gera um crescimento e um amadurecimento muito interessantes para todo o mercado.”

Fraudes

Conforme o segmento evolui, também aumentam as tentativas de fraude. Tom acredita, entretanto, que o mercado está amadurecendo muito em relação a essa questão, e nos últimos anos empresas dos mais variados segmentos têm se aproximado para debater este assunto. “Acreditamos que esta união entre vários players é um movimento crucial para a prevenção de fraude – até porque as tecnologias disponíveis hoje são muito eficientes, o mercado está recheado de opções boas, de soluções internacionais e principalmente de soluções brasileiras. Somos um dos melhores mercados no que diz respeito ao combate de fraudes de pagamentos online. O próximo movimento talvez seja das autoridades, de intensificar investigações criminais – algo que hoje praticamente inexiste”, diz.

Equipe da startup Konduto

Anualmente, as vendas em
datas-chave, como Dia das Mães, Black Friday e Natal, batem recordes no
e-commerce brasileiro. Além da prevenção de fraudes, é importante que o
empreendedor se prepare para evitar surpresas nestas datas. Tom aconselha que o
planejamento do empreendedor não comece meses antes deste dia, mas sim no dia
seguinte à data-chave – já mirando o evento do ano seguinte. “Acredito que
muitos lojistas já saibam exatamente o que devem fazer para se planejar para
esta data, mas uma coisa que vemos poucos fazerem é a realização deste
planejamento com os seus fornecedores. Não adianta nada a loja ter o melhor
planejamento e a melhor estratégia possíveis se não puder contar com seus
fornecedores. Então uma dica que posso dar em relação a este
“planejamento” que não seja mais do mesmo é: veja os seus
fornecedores como verdadeiros parceiros, e use e abuse dessa relação para a sua
loja”, finaliza.

Investimento

Na base da Associação Brasileira de
Startups, são mais de 450 startups de varejo. Com o mercado aquecido, é também
uma excelente oportunidade para que os investidores-anjo e fundos de
investimento apostem neste segmento.

Para Gabriel Sidi, sócio e cofundador da DOMO Invest, depois da popularização do smartphone, o tamanho do mercado de endereçáveis digitais deu um grande salto. “É difícil hoje usar a expressão ‘online’ ou ‘off-line’ e isso se reflete no varejo. A visão omnichannel é a primeira delas, trazer as informações do mundo digital para os pontos de vendas físicos trás muita eficiência e melhoras importantes no atendimento. Esse é só o primeiro passo.”

Para o investidor, um obstáculo deste setor foi que os varejistas mais eficientes ganharam, por muito tempo, a corrida na competitividade das operações deste mercado, uma vez que o ganho desta “briga” se deu pela capacidade de escalabilidade dos varejistas. “Agora, com a revolução digital, esse jogo começa novamente. Ou os grandes se abrem para as novas tecnologias e soluções ou perderão espaço. O grande desafio hoje é que, embora alguns dos grandes já tenham se movimentado nessa direção, há outros que ainda estão no processo de “negação” e fechados a parcerias”, afirma. Este cenário abre, de diversas formas, oportunidades para startups do segmento.

Gabriel Sidi (esq.), Rodrigo Borges (centro) e Felipe Andrade (dir.), sócios da DOMO Invest, uma das principais gestoras de Venture Capital do Brasil

Tendência

O varejo está caminhando para um
lugar onde substituirá grande parte dos serviços financeiros? Sobre as chamadas
private labels e a oferta de crédito aos consumidores Felipe Andrade, também
sócio e cofundador da DOMO Invest, diz que os players do setor financeiro têm
base sólida pra continuar adicionando valor nessa cadeia de consumo.

” O consumidor atuando como poupador/investidor demanda informações, análises, reports, típicos do setor financeiro.  Acredito que o varejo “offline” já trilhou o caminho das parcerias (várias JVs de grandes varejistas e bancos atuantes) e esse deve ser o caminho para as novas startups de varejo quando buscam entrar nos serviços financeiros.  É um pouco diferente quando o consumidor transaciona e também quando esse se torna tomador de recursos (devedor).  Nesses casos, há espaços a serem ocupados pelo varejo e espaços a serem explorados em parceria, dependendo muito de regulamentação e das forças competitivas de cada player envolvido (startups, grandes varejistas, instituições financeiras).  Acho que o novo espaço será ocupado por companhias de varejo inovadoras (startups ou empresas estabelecidas) e fintechs, trazendo valor para o mercado como um todo”, explica.

Para o investidor, alguns segmentos do varejo estão demorando a prover os serviços que o consumidor demanda. Isso deixa um espaço relevante para as startups que, utilizando as tecnologias existentes, atendem melhor o consumidor. “Como a ‘velha estrutura’ carrega custos desnecessários, as startups conseguem ser competitivas em custo mesmo em volumes pequenos. O desafio é conhecido – executar de forma diferenciada, com velocidade e eficiência e ocupar o espaço de mercado. Lembrando que, no varejo, já existem players fortes, com tecnologia. As startups precisam ocupar os espaços deixados por esses, pois bater de frente implica em riscos muito elevados, além de demandar aportes muito altos.”

Para conhecer melhor este mercado, o STARTUPI realiza, em 29 de março, um Startupi Innovation Tour especial Varejo, o primeiro segmentado de 2019. Grandes companhias do segmento e retailtechs que são referência de sucesso no Brasil estão na programação. Quer saber detalhes sobre como participar? Envie um email para education@startupi.com.br.

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