Converter concorrência em cooperação te ajuda a ir mais longe?

As paredes caíram. Inovação não precisa mais acontecer em salas fechadas, com segredos guardados a 7 chaves. Principalmente quando falamos da iminência da tecnologia que vai se inserindo no core business das grandes empresas, e o efeito que isso tem na propagação de programas de Open Innovation pelo Brasil e pelo mundo.

As grandes corporações estão passando por um processo de transformação digital muito forte e as scale-ups têm sido um fator importante nesse cenário. Elas estão não só fazendo uma pressão indireta para que isso ocorra ao revolucionar certos mercados, como também cooperando para que indústrias consigam conduzir esse processo. E quando as ideias podem fluir com menos barreiras, todo mundo ganha.

Mês passado moderei, durante o Digital House Summit, um painel com Caio Rigoldi e Rafael Kiso, fundadores do MLabs — participantes do programa Algar Ventures Open em 2018, realizado em parceria com a Endeavor.

Foram tantos insights que resolvi organizá-los aqui em 4 dicas fundamentais tanto para empreendedores que crescem (ou buscam crescer) aceleradamente por meio de parcerias desse tipo, quanto para executivos de corporações que veem no Open Innovation uma oportunidade de se reinventar.

Uma das únicas formas de sobreviver é pela inovação

“Sua capacidade de existência é proporcionalmente igual à sua capacidade de inovar”, afirmou Rafael durante o painel. Mas no caso da MLabs, inovação não é apenas um ‘nice-to-have’; é uma necessidade.

Não estamos falando de inovar uma vez por ano, e sim dez ou doze.

“Como a gente é SaaS, uma das únicas formas de retenção é ter novidade todos os meses — até porque o mercado não é blindado, podem surgir novos concorrentes e precisamos crescer rápido”, explica.

A demanda aparece também do lado das grandes corporações. O processo de digitalização se intensifica, os processos internos se tornam mais ágeis e a procura por talento em tecnologia só aumenta.

Mas Rafael também acredita que inovação não tem como vir só de dentro: “As empresas que estão conseguindo executar bem a transformação digital do próprio modelo de negócio estão se aproximando do ecossistema de startups e scale-ups.” O crescimento de programas de Open Innovation são um ótimo exemplo. Isso porque…

1. Inovar sozinho é desnecessariamente desafiador

Não é à toa que, nos Estados Unidos, cerca de 23% dos investimentos de Venture Capital são de Corporate Venture Capital, de acordo com relatório de 2018 da CB Insights. Parcerias entre corporações e scale-ups facilitam o desenvolvimento de inovação de ambos os lados.

No nosso painel apareceu o exemplo do Grupo Bimbo (dono de marcas como Pullman, Ana Maria e Rap10), que tem iniciativas próprias de aceleração para conseguir incentivar tecnologias de distribuição, manufatura, produção e outros da indústria alimentícia — além de, claro, começar um relacionamento com empresas que influenciam o setor de alguma forma.

Imagine uma indústria tradicional tirar o foco de seu core business (nesse caso, panificação) para elaborar e testar todas essas novas tecnologias? Acaba sendo mais estratégico e eficiente abrir as portas para inovação aberta e acompanhar de perto as empresas que estão crescendo para incorporar, ao seu modelo, o que fizer sentido no futuro.

Mesmo negócios do porte da MLabs (hoje com 3 anos de operação, 40 mil clientes e 16 funcionários) mantêm o mindset de inovação de grandes corporações para se manterem relevantes e inovadoras no contato com startups e scale-ups do ecossistema.

“Vai chegar o momento em que vamos ter que nos aproximar de outras startups e scale-ups que tenham correlação para fazer parte do ecossistema e, eventualmente, fazer uma fusão ou aquisição. A MLabs nasceu para ser plataforma, então algumas já estão muito próximas, inclusive se integrando ao nosso negócio”, diz Rafael, “Não tem que esperar ser grande pra começar, desde pequenininho a gente já tem esse pensamento.”

A Resultados Digitais, por exemplo, recentemente adquiriu a PlugCRM, startup especializada em relacionamento com o cliente. Essa aproximação da scale-up com as startups do setor acelera a inovação trazendo para o negócio expertise, recursos e um core business complementares ao seu. A Neoway, também apoiada pela Endeavor, fez um movimento semelhante ao adquirir a Sevennova, plataforma de inteligência artificial para customização de campanhas digitais. A inovação aberta associada a outras startups acelera ainda mais a curva de crescimento das empresas de médio porte que já estão crescendo.

Isso não quer dizer, no entanto, que não haja desafios com os quais se preocupar em Open Innovation também, já que:

2. São muitos os contrastes entre corporação e scale-up

Sempre escutamos aqui na Endeavor, de ambos os lados, como as diferenças culturais são um ponto de atenção fundamental.

Corporações têm, naturalmente, processos um pouco mais engessados. Crescimento vem com complexidade e, às vezes, a burocracia acompanha. O ritmo das decisões acaba sendo impactado também.

“A gente, pelo Whatsapp, quer resolver tudo na mesma hora”, diz Rafael. Normal, scale-ups têm times mais enxutos e se movem aceleradamente. “A gente vai aprendendo ao longo da jornada, porque a gente prioriza a velocidade”, complementa.

Além disso, em geral, elas já nascem com a cultura de que errar faz parte do processo, e por isso o apetite a riscos também é um ponto relevante nessa interação. Empreendedores dependem dele para que suas empresas se mantenham no jogo. Empresas maiores, no entanto, costumam ser mais conservadoras.

Cabe às scale-ups mostrar o potencial valor gerado por projetos mais audaciosos, utilizando números no processo de convencimento, e incutir o mindset empreendedor na cabeça dos executivos — sem perder de vista o que podem também aprender com eles.

Por fim, incentivos e a recompensas de curto e longo prazo tendem a ser vistos de forma diferente por cada lado. Corporações tendem a utilizar métricas financeiras para medir o sucesso de uma parceria externa, enquanto scale-ups podem vê-la como um ciclo finito de aprendizado, desenvolvimento, ou algo que se estende como uma relação fornecedor-cliente mais independente.

Retornos maiores costumam andar de mãos dadas com o alinhamento de objetivos estratégicos de ambos os lados, e uma vez que estejam todos na mesma página, fica mais fácil estruturar uma parceria duradoura com benefícios mútuos.

3. É preciso colaboração e flexibilidade para dar certo

Em programas de Open Innovation, é de praxe cada scale-up selecionada ter, dentro da corporação, um sponsor. Essa pessoa é, geralmente, um executivo que conhece bastante do mercado em questão e ajuda a facilitar as pontes necessárias para o desenvolvimento da scale-up, tanto entre os empreendedores e os tomadores de decisão dentro da grande empresa, quanto com potenciais parceiros e clientes fora dela.

Ao trabalharem verdadeiramente juntas, se multiplicam também as oportunidades de scale-ups e grandes corporações aprenderem umas com as outras.

Um exemplo: a Neurotech, que utiliza Inteligência Artificial para solucionar desafios de empresas, participou do programa CPFL Inova ano passado. O objetivo principal do empreendedor Domingos Monteiro, era claro: conhecer melhor a indústria de energia — quem sabe até mergulhar nesse mercado mais para frente.

E o aprendizado foi intenso, principalmente por meio das interações com o próprio corpo executivo da CPFL, facilitadas pelo sponsor Um dos diretores, inclusive, passou um dia inteiro dentro da Neurotech na semana seguinte ao kick-off do projeto. O time de inovação da Neurotech então passou alguns dias em Campinas, com o time da CPFL. Hoje a parceria continua, mesmo após o fim do programa.

Mas acima da troca de conhecimento técnico ou sobre um setor, também temos as corporações se tornando mais lean e ágeis graças ao exemplo das menores.

A Algar, por exemplo, tem criado estruturas apartadas para projetos específicos que já nascem mais dinâmicas, com a prática de experimentos e growth hacking. Quando chega o momento de esses núcleos serem importados para a estrutura tradicional da Algar, os líderes dos núcleos viram disseminadores dessa nova cultura.

Ao mesmo tempo, empresas de alto crescimento tendem a se organizar melhor e prestar mais atenção a processos. Para os empreendedores da MLabs, na verdade, o aprendizado foi um dos principais motivos da participação no Algar Ventures Open. “Não dá pra ser herói pra sempre, é preciso estruturar”, declarou Rafael, “A gente critica [as grandes corporações], mas todo mundo quer se espelhar e crescer como eles.”

O post Inovação colaborativa: 4 lições sobre Open Innovation do Digital House Summit aparece em Endeavor.

Publicação Original


0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder