Artigo do presidente do Sebrae reflete sobre o crescimento do segmento de serviços na economia brasileira

João Henrique de Almeida Sousa
Presidente do Sebrae

O começo de ano é, tradicionalmente, o momento preferido para começar a colocar em prática os projetos, sonhos e promessas que – por qualquer motivo – recusam-se a sair do papel. Isso acontece com a maioria de nós, tanto no nível pessoal, quanto profissional. Por esse motivo, não é coincidência o fato de que janeiro e fevereiro sejam os dois meses do ano que concentram o maior volume de abertura de novos negócios.

O grande dilema com o qual os futuros empreendedores se deparam no momento de concretizar aquele que é apontado por pesquisas do Sebrae com um dos principais sonhos do brasileiro (abrir o próprio negócio) é: como decidir em qual setor abrir a empresa? Quais são as escolhas corretas que podem assegurar maior chance de sucesso ao empreendimento?

Mesmo em tempos de alta tecnologia, quando o empreendedorismo passa por uma verdadeira revolução, algumas premissas continuam válidas. As chances de sucesso de um negócio são significativamente maiores se o empreendedor escolhe uma atividade com a qual tenha afinidade, onde ele tenha uma reconhecida competência e na qual possa entregar aos clientes um produto ou serviço que vai ao encontro dos desejos e necessidades do público. As empresas existem, fundamentalmente, para resolver os problemas das pessoas.

Mas isso não é tudo… A economia global passa por profundas mudanças e exige que o negócio esteja sincronizado com um novo perfil de consumidor, que tem sido chamado de cliente 4.0. Atento às tecnologias, exigente com qualidade e preço, vigilante quanto à sustentabilidade socioambiental, esse cliente não espera da empresa a simples entrega de um serviço ou produto. Ele quer mais… É o que costumamos chamar de “agregar valor”. Em outras palavras, o negócio precisa entregar, além do benefício (produto ou serviço), uma experiência; algo único que transforme a relação com o público e confira um significado especial a quem compra.

Seguindo a tendência de valorizar a experiência de consumo, esse novo cliente prioriza o uso em detrimento da posse. Por que comprar um carro se o que a pessoa quer é se locomover de forma rápida dentro da cidade? Foi assim que surgiu nos últimos anos uma infinidade de startups oferecendo opções de deslocamento aos usuários.

Na mesma linha, por que comprar uma casa de praia (com todos os custos que essa opção acarreta), se grande parte do público quer apenas usufruir de um final de semana à beira-mar? Melhor é poder escolher um imóvel entre as centenas disponíveis nos aplicativos de aluguel por temporada. Ou ainda, por que comprar uma furadeira, se a única coisa que o cliente quer é pendurar um quadro na parede?

Essa onda de “servitização” ou de transformar em uso o que até então era regido unicamente pela lógica da posse de um bem, veio para ficar. Isto faz do setor de serviços um dos que mais cresce na economia. Por exemplo, segundo dados do Cadastro Central de Empresas, do IBGE, o número de empresas de serviços de saúde, educação e transporte vem crescendo, respectivamente, a taxas de 6,5% a.a., 5,1% a.a. e 4% a.a. Quem conseguir se adaptar a esse movimento, com certeza, terá muito mais chances de sucesso no mercado, independente do segmento de atuação em que a empresa estiver inserida.

Assim, a pergunta que toda pessoa que planeja empreender precisa se fazer antes de abrir o próprio negócio é: para onde a estrada aponta? Tempos fluidos como o nosso são, antes de tudo, tempos de incerteza. Por isso, não há fórmulas fáceis ou atalhos para o sucesso. É preciso ter sensibilidade para antecipar as tendências de consumo e sintonizar a empresa com as expectativas do público. Isso representa também estar atento às oportunidades. Isso raramente acontece por um golpe de sorte, mas é resultado de estudo e capacitação permanentes. Como dizia Louis Pasteur: “A sorte favorece a mente preparada”.

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