* Por Tomás Ferrari

Há anos a competição por profissionais de tecnologia, principalmente por desenvolvedores de software, é extremamente acirrada. Isso não ocorre apenas no Brasil, mas no mundo todo e está relacionado à oferta e a demanda totalmente desbalanceada, ou seja, faltam profissionais qualificados para o grande volume de oportunidades que existem no mercado.

Com a pandemia da Covid-19, essa disputa ficou ainda mais acentuada e fez com que essa mão de obra, antes praticamente restrita a empresas de tecnologia, passasse a ser ainda mais buscada por outros setores. Hoje, empresas tradicionais, cujo core business não é o de tecnologia, também veem a necessidade de ter em suas equipes desenvolvedores para suportar sua transformação digital, impulsionada pelo distanciamento social. Além disso, diversas áreas como marketing e vendas, por exemplo, ampliaram suas necessidades e também precisam de profissionais de TI qualificados.

No entanto, a cada ano aumenta o gap entre o número de profissionais formados e o que o mercado requer. Neste setor há algumas variáveis que prejudicam ainda mais esse contexto. A super acelerada evolução das tecnologias acaba por exigir qualificações constantemente atualizadas. Não são todas as pessoas que conseguem esse nível de atualização. As próprias universidades tradicionais, muitas vezes, não dão conta de acompanhar a evolução de suas grades curriculares com o que o mercado necessita no momento específico de formação dos profissionais. 

O crescente número de vagas abertas está caminhando para um nível de desafio ainda maior e insustentável. Infelizmente, a falta de mão de obra no setor deixa de impactar pontualmente o desenvolvimento de um produto dentro de uma companhia e passa a prejudicar a economia do país como um todo. As empresas têm potencial de crescer muito mais, se desenvolver e criar empregos em outras áreas, mas começam a estagnar de forma a afetar toda a sociedade.

Como uma potencial alternativa, vemos grandes empresas de tecnologia adquirindo outras menores, muitas vezes, para aumentar seu time de TI e continuar crescendo. Mas, e aquelas que não têm essa disponibilidade de capital para investir? Outro ponto é que para atrair esses profissionais, as empresas precisam oferecer benefícios e salários atrativos, o que nem sempre é possível para as de pequeno e médio portes, visto que a competitividade com companhias do exterior também é crescente. Com isso, além de frear o crescimento, corremos o risco de perder a capacidade necessária de competitividade para a sobrevivência de muitas das pequenas e médias empresas. 

Parte da solução que enxergamos para mudar essa realidade no médio e longo prazo, sem dúvida, é a formação de novos programadores e a mudança de comportamento das empresas. Já vimos nos últimos dois, três anos, um crescimento dos investimentos em formação técnica. Escolas tradicionais começam a perder espaço para as novas instituições, como as edtechs, que promovem bootcamps de aproximadamente 12 meses, focados na preparação alinhada com a necessidade do mercado de trabalho. É algo que certamente vai continuar se fortalecendo.

Do outro lado, vemos a necessidade de adaptação de muitas empresas que contratam dentro desse contexto. Já há uma onda de profissionais formados, mas ainda sem experiência e, diferente de outros setores, são as pessoas com mais trajetória de carreira as mais disputadas pelo mercado. Por isso, as companhias precisam se adaptar para, também, absorverem essa mão de obra júnior e ajudar na formação desse profissional dentro de casa. Desenvolver quem está começando hoje, para que ele seja pleno e sênior amanhã.

Ou ocorre essa força-tarefa, que pode incluir incentivos governamentais para solucionarmos esse problema de falta de mão de obra qualificada e ainda melhorarmos os índices de desemprego, ou ficaremos competindo por profissionais escassos e reduzindo as chances de o país crescer junto.


* Tomás Ferrari, é CEO e fundador da GeekHunter, startup de recrutamento especializada na contratação de profissionais de tecnologia.

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