* Por Maurício Sirotsky Neto
Depois de pouco mais de uma década de euforia e intensas rodadas de investimento, o setor de tecnologia passou por uma correção e o ciclo de abundância parece ter chegado ao fim. Somado a isso, o cenário de juros altos torna os ativos de alto risco menos atrativos e o capital para startups e negócios em fase inicial, mais criterioso.
Os investidores avançam em 2023 mais seletivos, em busca de startups focadas na estratégia, na escalabilidade de suas soluções e preocupadas com a sustentabilidade de seus negócios. E, na disputa pelo volume menor de recursos, o setor e o capital humano das empresas serão fatores decisivos.
Nessa indústria, costumamos dizer que o valor do cheque é proporcional ao tamanho do problema que o empreendedor se propõe a resolver. Não é por acaso que fintechs e health techs recebem grande atenção. Em ambas as áreas, as empresas vêm surgindo para inovar e, muitas vezes, modificar a lógica de funcionamento do mercado.
No mundo financeiro, a Warren é um ótimo exemplo: chegou com o desafio de mostrar que é possível fazer gestão de investimentos respeitando o perfil de cada cliente. Já no setor de saúde, temos diversos exemplos de negócios de sucesso, como o Dr. Consulta, rede de centros médicos rápidos e acessíveis, com consultas presenciais e online e exames, e a Alice, gestora de saúde com foco em prevenção de doenças e atendimentos médicos.
Só que a área de atuação da startup, sozinha, não é suficiente para determinar o sucesso na hora de captar. Tem grande vantagem competitiva o empreendedor que conhece a fundo indústria e o problema que está tentando resolver. A escolha dos integrantes do time e a familiaridade que eles têm com o setor em que se propõem a atuar também devem ficar no radar do mercado. Mais do que uma boa ideia, os investidores estão em busca de empreendedores mais experientes.
Se por um lado a disponibilidade de capital diminuiu, por outro, as formas de captação aumentaram. Crowdfunding, investidores anjos, fundos, family offices e media for equity. Há uma grande variedade de formas de financiamento e participação para impulsionar o desenvolvimento de negócios. Diante deste novo cenário, cada empreendedor precisa entender o estágio e o perfil de seu negócio para saber em qual porta bater. Para quem ainda não sabe por onde começar, aqui vão minhas dicas.
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1 – Investimento-anjo
Aporte geralmente realizado por pessoa física, com capital próprio, em companhias em estágio muito inicial, apenas um Power Point com uma ideia. O investimento anjo tem como foco ajudar o empreendedor a tirar a ideia do papel e começar a testar o produto no mercado. Além dos recursos financeiros, investidores anjo costumam oferecer expertise, mentoria e acesso à rede de networking. Há grupos de “Anjos” muito bem organizados e estruturados, como o Poli Angels e o GV Angels.
Investidores neste estágio podem ter retornos realmente atraentes, mas é importante haver clareza de que existe uma grande probabilidade do investimento “virar pó”. Do lado do empreendedor, duas dicas: escolher bem os seus anjos, pois eles estarão com você por um longo período, e ter cuidado para não ceder uma participação do capital relevante neste momento. Afinal, você pode precisar de mais investimento no futuro e, com isso, seu capital será ainda mais diluído.
2 – Family Offices
São escritórios de investimento estruturados de famílias e/ou empreendedores que já fizeram um valor de liquidez relevante. Embora cada FO tenha sua própria tese de investimento que pode ser focada em um setor específico, no estágio da empresa ou no valor a ser investido, eles têm a visão de longo prazo como característica comum.
Family Offices investem recursos próprio, pensando na rentabilidade de longo prazo, afinal, a premissa principal é de que o patrimônio gerido dure por algumas gerações. Para o empreendedor, é importante ter clareza de como ele pode usar a expertise do family office a seu favor, seja através de networking, conhecimento específico ou mentoria.
3 – Media For Equity
Segundo levantamento do Distrito, maior banco de dados de startup no Brasil, de 40% a 50% do valor investido nas empresas é utilizado em marketing e mídia para acelerar o crescimento. Como consequência desta realidade, empresas de mídia e ou celebridades com alto poder de penetração nos seus públicos têm utilizado seus canais de comunicação também como forma de investimento.
Movimentos como os de RBS Ventures, Globo Ventures e 4Equity Media Ventures, dos meus amigos Renato Mendes e Felipe Hatab, comprovam essa tendência.
4 – Crowdfunding
O financiamento coletivo é uma espécie de “vaquinha” com regras regulamentadas pela CVM. Com ela, as pessoas têm a oportunidade de investir em empresas com alto potencial de crescimento sem precisar colocar muito dinheiro. Plataformas como a israelense ourcrowd.com e a brasileira Captable, fazem um trabalho excelente com esta forma de investimento.
Já vi tanto empresas em estágios iniciais quanto algumas mais avançadas conseguirem levantar recursos desta forma. A modalidade ajuda especialmente aqueles empreendedores que não têm muito acesso a capital, uma vez que, por meio dessas plataformas, é possível alcançar muitas pessoas. Vale um alerta: o importante aqui é criar uma boa estratégia para se comunicar com as centenas ou milhares de investidores que apostaram no seu negócio.
5 – Fundos de Venture Capital (VC) e Private Equity (PE)
São fundos que fazem a gestão de capital de terceiros e investem para fomentar o crescimento de empresas com alto potencial de crescimento. Existem vários tipos de fundos com as mais diversas características. Alguns mais ativos nas empresas, através de conselhos e comitês, outros mais passivos, atuando estritamente investidores financeiros.
Em geral, cada fundo de venture capital tem como foco um estágio do negócio. Desde pré-seed, com investimentos de aproximadamente R$ 500 mil para empresas que estão em fase de identificação de público e construção de MVP, até Serie B ou C, com investimentos que podem ultrapassar os R$ 50 milhões.
A grande diferença dos fundos de VC para os fundos de PE é o estágio em que a empresa está e o tamanho do cheque. Fundos de VC normalmente buscam empresas com altas taxas de crescimento. Já fundos de PE buscam empresas mais robustas que, muitas vezes, estão em vias de abrir seu capital na bolsa.
* Mauricio Sirotsky Neto é sócio-fundador da RBS Ventures e sócio-diretor da Maromar Investimentos
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