Luana Ozemela, ao nascer em 1980 em Porto Alegre, enfrentou um contexto político desafiador marcado por transformações e hostilidade em relação às questões raciais. Nessa época, o movimento negro estava ganhando força ao promover a valorização da identidade negra e o orgulho de ser uma pessoa preta. 

Luana, junto com o seu irmão gêmeo, foi criada em um ambiente familiar envolvente, no qual seus pais – ainda jovens estudantes quando os conceberam – eram ativos no movimento, o que proporcionou uma infância permeada por valores, luta por causas importantes e busca pelos estudos. 

Na década de 90, quando a palavra “internet” começou a chamar atenção e despertar especulações sobre ser o futuro da tecnologia, o pai de Luana Ozemela a incentivou a seguir uma formação técnica em informática. Com apenas 15 anos, ela já estava inserida no mercado de trabalho, fazendo estágios em grandes empresas desse setor.  

“Mesmo com as oportunidades desde cedo, eu não deixei de sentir na pele os desafios de ser uma mulher negra nesse ambiente que ainda era pouco diverso, então senti uma vontade muito grande de continuar o que meus pais construíram e estudar algo relacionado ao enfrentamento da desigualdade”, afirma.  

Após ler um artigo que se posicionava contra as cotas raciais nas universidades, Luana tomou a decisão de estudar economia – naquela época, ainda não existiam leis sobre o tema. Anos depois, Luana Ozemela embarcaria para Inglaterra para fazer o seu mestrado de economia política.  

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Do mercado tradicional ao empreendedorismo  

Luana acumulou 8 anos de experiência no Inter-American Development Bank (BID), um banco sediado em Washington. Durante sua passagem de 8 meses no Haiti, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento de estratégias de equidade de gênero para a instituição financeira. Além de liderar diversas iniciativas, como a mobilização de capital para pessoas negras e indígenas, elaboração de planos nacionais de desenvolvimento para equidade de gênero e combate à violência contra a mulher. Ela fundamentou essas ações com base não apenas em princípios morais, éticos e sociais, mas também em justificativas econômicas. 

Em 2019, Luana Ozemela passou a empreender e fundou a Dima Ventures Lab, uma consultoria de investimentos de impacto sediada no Catar. A missão da empresa é aproximar a América Latina do Oriente Médio – incluindo, mais tarde, o continente Africano e fornecer dados e informações que contribuam para a redução da desigualdade racial e de gênero, por meio da implementação de políticas e processos mais eficientes, tanto no setor público quanto no privado. 

Através do programa PreCapLab, a Dima facilita a conexão entre investidores e empreendedores diversos, simplifica o processo de investimento e auxilia na identificação de aspectos críticos para aumentar as chances de captação de recursos. Alguns de seus clientes são o Carrefour, ICE – Instituto de Cidadania Empresarial, BID e Unicef. 

“Eu costumo dizer que historicamente a população negra tem sido vista apenas como beneficiária de políticas de assistência social, e não como protagonista das políticas econômicas. Então, nesse período, comecei a me dedicar mais a essa questão”, explica. 

Luana Ozemela também é cofundadora da GRYND Tech, uma startup sediada nos Estados Unidos e fundada por sócios de descendência africana. Atualmente, a empresa está desenvolvendo um aplicativo com o objetivo de capacitar agricultores em Ruanda. O empreendimento nasceu com a intenção de gerar um impacto positivo na economia do continente africano, e ao perceberem o potencial da agricultura no país, decidiram seguir em frente com a criação de uma startup nesse setor. 

Trajetória como investidora-anjo 

Em 2012, muito antes de imaginar que fundaria uma consultoria de investimentos de impacto, Luana fez seu primeiro investimento em uma startup – a Diáspora.Black, hub de cultura negra. Ao todo já foram 5 investidas em negócios fundados por pessoas negras. 

O interesse em investir surgiu quando Luana Ozemela estava envolvida na criação do primeiro programa de apoio ao afro-empreendedorismo no Brasil, enquanto trabalhava no BID. Durante esse período, ela mapeou as startups existentes e estabeleceu parcerias com organizações como a Endeavor e Anjos do Brasil para estruturar o programa e oferecer suporte aos negócios. Muitas dessas iniciativas, como a Preta Hub e o EmpregueAfro, se tornaram empreendimentos de sucesso e atualmente apoiam outras startups em ascensão. 

“Hoje a ideia é usar o meu capital pessoal e familiar para poder alavancar esses negócios. Eu entendi que o investimento-anjo é eficaz para apoiar negócios. O primeiro cheque muitas vezes é fundamental para um negócio fundado por uma pessoa negra funcionar. Assim ele pode focar 100% no seu negócio, porque, de início, o financiamento está garantido”, explica Luana Ozemela. 

Com toda sua bagagem no mercado e conhecimento sobre investimento, em junho de 2022, Luana cofundou a Black Women Investment Network, um grupo de investidoras-anjo que investe em startups e contribui para outras mulheres negras se tornarem investidoras.  

“Eu tive um sonho onde estava em uma mesa de conselho com várias mulheres negras investidoras. Quando acordei me perguntei onde elas estavam, porque eu só conhecia uma. Liguei para ela, contei o sonho e ela falou vamos fazer isso. No final tínhamos vinte mulheres negras preparadas para investir”, explica sobre a origem da BlackWIN.  

Hoje, Luana Ozemela é vice-presidente de impacto social do iFood 

Hoje, além de empreendedora, investidora, mãe e esposa, Luana Ozemela é vice-presidente de impacto social do iFood, mas começou como VP in Residence em 2022.  

Luana encara sua trajetória profissional como uma culminação no iFood, porque lá ela pode aplicar toda sua experiência em tecnologia, desenvolvimento internacional, investimentos e redução das desigualdades. Para Luana Ozemela, o iFood é o local ideal para colocar em prática seu conhecimento e experiência, criando algo que traga benefícios em diversas áreas. 

E questionada sobre como ela concilia todas as áreas da sua vida com maestria, Luana responde que não é uma tarefa fácil. “Tenho um filho de cinco anos e todas essas agendas ganharam uma força ainda maior com o seu nascimento. Apesar dos desafios de conciliar tudo, isso é o que me impulsiona há mais de trinta anos. Sempre afirmo que um dos principais legados que desejo deixar para meu filho é essa motivação para mudar o mundo e a crença de que ele é capaz e tudo é possível. Além disso, sou cercada por pessoas incríveis que me apoiam e que foram fundamentais para chegar até aqui e continuar avançando”, conclui Luana Ozemela. 


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