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Publicado em: 24 de julho, 2023
Iana da Hora

Apesar da evolução do ecossistema de Corporate Venture Capital (CVC), muitas empreendedoras e empreendedores ainda têm dúvidas sobre essa modalidade de captação. 

As perguntas que mais ouvimos das scale-ups que apoiamos são: 

  1. 1. CVC é sinônimo de M&A? 
  2. 2. É possível combinar investimentos de Venture Capital e Corporate Venture Capital, ou eles são incompatíveis? 
  3. 3. O que considerar antes de captar? 

Direcionamos estas dúvidas para a Fabiana Fagundes, Mentora Endeavor e Founding Partner do FM/Derraik, que apoia empresas e fundos em questões legais e estratégicas de Venture Capital, Private Equity, M&As e IPOs há mais de 20 anos.

Nossa mentora, que também acompanha várias Empreendedoras e Empreendedores Endeavor, compartilhou sua experiência em uma mentoria do Scale-Up Endeavor

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“Quando se está captando, é importante entender a mentalidade de quem gerencia o fundo de corporate venture capital, considerando se a corporação quer comprar seu negócio no futuro ou se possui visão de investimento de longo prazo. Além disso, é importante considerar se os objetivos dos fundos são condizentes com a sua necessidade.”Fabi Fagundes

Qual é o estágio de maturidade mais apropriado para se relacionar com uma corporação?

Depende da startup e da corporação. Embora não exista “receita de bolo”, existem corporações com iniciativas de corporate venturing mais preparadas para engajar com empresas em momento de Seed/Series A, enquanto existem aquelas que só conseguem gerar e capturar valor em um estágio mais próximo de Series B.

É recomendável fazer um background check com outras startups e scale-ups que já começaram sua jornada de engajamento com a corporação e checar se a interlocução e os processos são fluidos. 

Se a corporação atuar como cliente, é ainda mais importante entender os ciclos de validação e pagamentos, pois os prazos podem ser incompatíveis com a velocidade de queima de caixa da scale-up ou startup. 

Em séries mais avançadas, quando a startup já atingiu o product market fit, a corporação consegue identificar interesses em comum de forma mais ágil, realizar go-to-markets conjuntos e até lançar produtos em parceria. Porém, isso tende a fazer com que a corporação olhe apenas para o curto prazo e suas possíveis sinergias imediatas, e menos com as adjacências estratégicas de médio e longo prazo. Se o foco da corporação e as expectativas da startup ou scale-up estão alinhadas, o saldo é positivo. 

Como empreendedoras e empreendedores em estágios mais early podem acessar CVC de forma saudável?

Na nossa experiência, entendemos que corporações com unidades de inovação aberta e CVC mais maduras (em termos de compreensão do que é um Corporate Venture Capital) permitem um equilíbrio maior entre horizontes de curto e longo prazo. E aqui está a oportunidade para negócios em estágios mais iniciais. 

CVCs mais voltados à experimentação e ao olhar para o futuro sempre vão buscar startups e scale-ups que desafiem o status quo, trazendo possibilidades de novos negócios e tecnologias. 

É importante que empreendedoras e empreendedores façam um levantamento sobre quais corporações podem ter sinergia, agregar valor ou realizar uma construção conjunta no médio ou curto prazo. A segunda etapa é identificar quais corporações já possuem iniciativas de investimento em startups e scale-ups. Dessa forma, a fundadora ou fundador consegue elaborar um pitch direcionado e estratégico – posicionando seu negócio para um possível investimento. 

O founder deve atentar, no entanto, de que se a startup parar de olhar para o mercado, para atender apenas às necessidades da corporação, pode colocar sua escalabilidade em jogo. 

Quais são as principais diferenças na dinâmica de relacionamento entre o Corporate Venture Capital e o Venture Capital?

  • Processo de investimento: Fundos de Venture Capital tendem a tomar decisões rapidamente (ainda que normalmente acompanhem a trajetória dos fundadores há algum tempo) e avaliam negócios sob a ótica do potencial de mercado: fit com sua tese, geografia, valor do cheque, estágio de maturidade. Já Fundos de Corporate Venture Capital tendem a tomar decisões de forma mais demorada, pois, além dos aspectos observados pelos VCs, também analisam o fit com a corporação-mãe. 
  • Tamanho do cheque e papel na rodada: a maior parte dos CVCs não lidera rodadas, o que impacta o tamanho dos cheques, que tendem a ser menores. Isto também contribui para uma visão de investimento e não de aquisição. Na maioria das vezes, é melhor que a rodada não seja liderada pelo CVCe  que o nível de governança não limite o crescimento e o valor da empresa investida.
  • Papel na governança e conselho: CVCs costumam ter participação menor, pensando até na liberdade que desejam dar a quem conduz a startup, para não limitar o crescimento do negócio com possíveis conflitos de interesse. 
  • Value creation: existe um grande acervo de contribuições não-financeiras nas corporações-mãe dos CVCs que podem valer mais do que aportes de capital, como acesso a novos mercados. É importante avaliar cada caso.
  • Expectativas sobre o investimento: o Venture Capital, em sua essência, olha objetivamente para os retornos sobre o investimento e para a valorização de seus ativos. O Corporate Venture Capital também, mas seu foco é sobre ganhos estratégicos da corporação junto às startups – desde aumento de eficiência até a criação de um produto único. 

O relacionamento com CVC pode diminuir a possibilidade de captação com VC? Como empreendedoras e empreendedores podem acessar ambos?

Esse é um preconceito que a indústria tinha, pois o CVC no Brasil iniciou-se com várias iniciativas de “M&A pelas beiradas”. Mas a indústria está aprendendo a desconstruir essa ideia conforme o volume de CVCs vai crescendo em tempo e maturidade e vai evoluindo em mindset e uma massa crítica de profissionais ligados ao segmento vai difundindo corretamente a melhor técnica. 

Aos poucos, CVCs inspirados nos modelos internacionais estão surgindo com maior diferenciação de teses de build or buy (or invest) e clareza dos horizontes de inovação.

Hoje, vemos uma evolução do ecossistema de CVCs. Especialmente no mercado atual, a aproximação entre startups e corporações é uma relação ganha-ganha: por um lado, acesso a capital, a canais de distribuição prontos (o que reduz muito o custo de aquisição de clientes), a senioridade de executivos que podem acelerar a curva de aprendizado da startup, etc. De outro, as corporações têm acesso a novas tecnologias, mentalidade disruptiva e maior facilidade e agilidade em lidar com erros e consertá-los rapidamente (o famoso fail fast).

É importante sempre avaliar se corporações, startups e scale-ups estão sendo assessoradas de maneira adequada para impulsionar o crescimento das empreendedoras e empreendedores e gerenciaras expectativas das corporações. 

Se os termos da rodada requeridos pelos CVCs não forem razoáveis, as próximas captações da startup poderão ser prejudicadas. Além disso, direitos de preferência e exclusividade são pontos de atenção quando solicitados por corporações interessadas em fazer cheques por investimentos minoritários.

Ter um mix de aportes de VCs e CVCs pode ser uma ótima opção. Inclusive, a diversificação dentro da mesma rodada é uma estratégia que tem se mostrado vencedora. Cada modalidade acaba dando o melhor de sua essência visando o sucesso do investimento. Os investidores de VC, às vezes podem, inclusive, auxiliar na construção de uma tese que compatibilize todos os objetivos.

Como qualquer captação, investidoras e investidores precisam ter clareza sobre o negócio, quais são as estratégias para seu crescimento sustentável e quais características o time fundador precisa ter para alcançar o objetivo final. 

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