





A Endeavor é a rede formada pelas empreendedoras e empreendedores à frente das scale-ups que mais crescem no mundo e que são grandes exemplos para o país.
É na luta que nasce a grandeza.
Essa frase do Ben Horowitz, do livro ‘O lado difícil das situações difíceis’, é a definição da jornada empreendedora do Flávio, do Pedro e do Rodrigo.
Desde que se encontraram em 2015 para fundar a Docket, não faltaram momentos de luta. Momentos em que, segundo Horowitz, se perguntaram por que resolveram fundar a empresa; que se viram sem dinheiro, sem esperança e até sem caminhos; em que promessas foram descumpridas e sonhos despedaçados; em que nada é fácil ou parece correto.
Na luta, se tem 1% de esperança. E é exatamente esse 1% que impede de desistir. É o lugar de resiliência. De persistência. De resistência.
E é essa história cheia de altos e baixos, que começa lá na década de 90, que você vai ler.
Era década de 90
1997
A internet chegava no Brasil.
Rodrigo, aos 11 anos, sonhava em ter um computador. Parecia impossível, mas seus pais juntaram suas economias para realizar esse sonho. Depois disso, passou todo o tempo livre aprendendo a programar.
“Lembro que, depois de ganhar o computador, fui até uma banca de revista com meu pai e vi um livro sobre programação. Esse livro me ajudou a dar meus primeiros passos para criar os primeiros websites. Hoje em dia você encontra tudo online, mas naquela época meu ponta-a-pé inicial foi com esse livro de HTML”, comenta Rodrigo.
Para colocar em prática seus aprendizados, começou a fazer sites das coisas que mais gostava: Corinthians e cachorros. Os sites começaram a ser bastante acessados. Com isso, decidiu colocar anúncios do Mercado Livre dentro dessas páginas e, da forma mais despretensiosa possível, ganhou seu primeiro dinheiro na vida.
Eram anos 2000
2001
Pedro é o irmão mais velho. Cresceu no meio de um dilema escolar: sempre ia mal na escola e quase repetia de ano.
Para criar senso de responsabilidade, seu pai arrumou um estágio em um escritório. Para a surpresa de todas e todos, Pedro ia muito bem. Adorava trabalhar, adorava resolver problemas reais e adorava ajudar as pessoas.
Com seu primeiro salário, assinou a revista Exame. “Eu tinha paixão por revistas de negócios. Isso me ajudou, inclusive, a ter clareza do que eu faria no futuro. Queria trabalhar com comunicação”, conta Pedro.
2002
Depois de ficar um tempo no estágio, Pedro decidiu que queria dar mais um passo rumo a sua vida independente e responsável.
Tinha parentes em Ribeirão Preto, SP, e, aos 17 anos, saiu da capital São Paulo para ver como seria a vida no interior. Gostou tanto de morar sozinho que decidiu fazer faculdade de Administração por lá mesmo.
“Vi que a faculdade de Administração não era pra mim. Peguei minha mala, voltei pra São Paulo para cursar o que eu sempre quis: Comunicação Social”, divide Pedro.
2003
Antes de 2003, pulamos para 1985, ano em que Flávio nasceu em São Manuel, interior de São Paulo.
Perdeu seu pai muito cedo, aos nove anos. Na sua ausência, teve em seus tios, avós e padrinho o apoio que precisava em seu desenvolvimento.
A família sempre teve o Direito como caminho profissional a ser percorrido, possuíam escritório de advocacia na cidade e filiais parceiras em algumas capitais, com atuação principalmente na esfera tributária. Um de seus tios mais próximos, o tio Dion, conduzia o crescimento do escritório em diversas partes do país, atuação que sempre admirou.
“Eu via no meu tio uma figura inspiradora para mim. Ele tinha muita força de vontade, de fazer acontecer e de desbravar novas teses e defender causas difíceis de se resolver. Ele cresceu muito na esfera tributária e essa atuação profissional sempre me motivou”, conta Flávio.
Em 2003, ao completar 17 anos, se mudou para São Paulo para cursar o terceiro ano do ensino médio. Quando chegou na nova escola, fez um teste de aptidão profissional para decidir qual seria o destino da sua carreira, apesar de sempre querer ser advogado. O resultado? Comunicação Social.
2004
Foi na faculdade de Comunicação Social que Flávio e Pedro se conheceram e criaram uma amizade que mudaria o rumo de suas vidas.
Porém, Flávio entendeu que ali não era seu lugar. Ficou apenas um ano no curso de Publicidade e Propaganda e depois disso foi para onde sempre se imaginou: a faculdade de Direito.
Pedro, por sua vez, se encontrou. Era um dos melhores alunos da sala. Queria se desenvolver na área e trabalhar como executivo em uma grande empresa. Fez pós-graduação e MBAs, passou por multinacionais e chegou a um cargo de liderança muito cedo em uma startup.
2006
A paixão por computadores e internet levou Rodrigo para a faculdade de Análise de Sistemas na FIAP, em São Paulo. Essa experiência, por sua vez, o levou para o universo das startups.
“Trabalhar com startups me mostrou o que eu realmente queria na vida. Inspirado por empreendedoras e empreendedores ao meu redor, comecei a criar os meus próprios produtos. Eu era ótimo em tecnologia, mas péssimo em vendas”, compartilha Rodrigo.
Com a dificuldade em vendas, decidiu continuar sua jornada profissional como líder de tecnologia. Sabia que não faria pelo resto da vida. Sabia que precisava de conhecer alguma pessoa que queria resolver algum problema da humanidade e com habilidades administrativas e de vendas. Sabia, também, que era questão de tempo para isso acontecer.
2007
Flávio passou seus anos de faculdade de Direito fazendo estágios em diferentes escritórios, até que passou em um processo seletivo da Construtora Tenda, local onde se identificou como profissional.
“Na Construtora Tenda, entendi que não queria trabalhar em escritórios de advocacia. Descobri que meu lugar era no mundo corporativo, dentro de estruturas jurídicas de empresas”, divide Flávio.
Por três anos, passou por diferentes áreas corporativas – participou do IPO e em transações de M&A da Construtora. Aprendeu muito sobre o direito imobiliário e, com essa experiência, além de adquirir know-how na esteira do desenvolvimento imobiliário, também conheceu as dores de estar no time jurídico de uma grande empresa.
2010
Flávio saiu da Construtora Tenda para empreender.
Co-fundou uma empresa focada em real estate e navegou nas diversas vertentes do desenvolvimento imobiliário. Porém, após cinco anos, depois de uma crise imobiliária em 2014, falta de foco no core business e formas de conduzir o negócio, fez com que a experiência em empreender pela primeira vez não saísse como planejado: nessa época, se via cada vez mais frustrado com os rumos da sua vida profissional.
Até que, em agosto de 2015, decidiu recomeçar do zero. Se desligou do negócio e voltou para casa de sua mãe em São Vicente, para pensar no que viria a seguir: iria empreender de novo ou se reinserir no mercado de trabalho?
“Essa foi uma época muito difícil. Estava abalado emocionalmente e financeiramente. Voltei para a casa da minha mãe, sem um tostão no bolso e com 30 kg a menos. Entre empreender e voltar para o mercado, fiz os dois. Fiquei tentando dar consultorias na seara do desenvolvimento imobiliário para construtoras enquanto tentava empreender novamente, esboçando um site para vender documentos e certidões para pessoas físicas, que também tinha potencial para empresas”, conta Flávio.
2014
Em 2014, Rodrigo e Pedro trabalharam juntos no Zolkin. Nunca foram amigos, mas tinham uma simpatia grande um pelo outro.
“Eu não sei explicar. O Rodrigo sempre me pareceu muito familiar. Sabe aquelas pessoas que você olha e cria um apreço logo de cara? Com o Rodrigo foi assim”, recorda Pedro.
Decidiram sair para almoçar. Nesse primeiro encontro, uma certeza: empreenderiam juntos. O que fariam? Só o futuro para saber.
O ano em que tudo começou foi 2015
Em setembro, Flávio tinha conseguido uma reunião em São Paulo para dar uma consultoria e pediu para ficar na casa do Pedro.
Aproveitaria a oportunidade para mostrar o site de documentos e certidões que estava construindo. Em menos de uma hora, já tinham encontrado uma dor não resolvida. Não existia um player no mercado de documentos que tivesse ou usasse tecnologia para otimizar a entrega e usabilidade para quem precisasse de um documento ou certidão.
O cenário era o seguinte: uma pessoa morava no Tocantins e precisava acessar um documento do Rio Grande do Sul. Era impossível fazer isso sem encarar os mais de dois mil quilômetros de distância. Não havia soluções inovadoras para esse problema de grande parte da população.
Pedro, então, chamou Rodrigo para liderar a parte de tecnologia. “Essa foi a primeira ideia que minha noiva, na época, disse que realmente era boa, dentre os inúmeros produtos que eu já tinha imaginado”, conta Rodrigo.
O que seria um bate-volta de Flávio para São Paulo se tornou as 24 horas mais decisivas da vida dos três.
Flávio dividiu seus principais desafios lidando com burocracias na esfera do desenvolvimento imobiliário e também com documentos para pessoas físicas; Pedro tinha aptidão por gerir e administrar negócios e identificar oportunidades disruptivas em mercados diversos; e Rodrigo tinha trabalhado para diversas empresas e desenvolvido tecnologia desde os 11 anos.
A véspera do aniversário de 29 anos do Rodrigo ficou marcada como o primeiro Day1 que viveriam juntos: tinham um modelo de negócio e estavam prontos para embarcar na grande jornada que viriam a ter com a Docket.
O ano do lançamento foi 2016
O ano do lançamento da solução era o mesmo em que Rodrigo estava recém-casado, Pedro levaria sua noiva ao altar e era o momento em que Flávio criava coragem e resiliência para empreender novamente pois estava falido, abalado financeiramente e emocionalmente.
Em uma fase que exigiu muito planejamento, eles arriscaram tudo para empreender e lançar o e-commerce.
“Eu tinha dívidas e conhecimento, foi assim que comecei essa jornada do meu ponto de partida”, brinca Flávio. “Criamos o MVP em menos de um mês, estávamos muito empolgados com o que estávamos criando, mesmo nesse cenário caótico”, complementa Rodrigo.
A solução era simples: uma espécie de e-commerce de documentos, focado em pessoas físicas com atendimento em todo o Brasil. Rodrigo cuidava da tecnologia, Flávio da operação e Pedro do administrativo e vendas. Mesmo no perrengue, era uma combinação infalível.
Nos primeiros meses, o negócio acontecia na casa do Flávio. Aos poucos, foi crescendo e eles mudaram a base de São Vicente para São Paulo.
Ainda não tinham dinheiro, Flávio chegou a dormir no carro em frente ao coworking e ficou alguns dias em um hostel. “O espaço onde eu dormia parecia um cemitério vertical, pois era construído dentro da parede”, brinca. “Mas a vontade de querer fazer o negócio acontecer era enorme e também tive muita resiliência nesses momentos de incerteza”, complementa.
“2016 foi um ano muito louco. Compramos notebook de segunda mão, cadeiras de plástico no supermercado para o pessoal trabalhar. Não tínhamos muito fluxo de caixa, nem investimento. Então, fizemos do jeito que deu”, conta Pedro.
Com persistência, foco, amizade e bom humor, o e-commerce começou a crescer. Venderam 3 mil reais no primeiro mês. 15 mil no terceiro mês. No final do ano, chegaram a 1 milhão de reais. “O EBITDA era positivo”, brinca Pedro.
O ano em que tudo mudou foi 2018
Conforme o negócio ia crescendo e os empreendedores iam entendendo o mercado, eles perceberam que ainda tinha uma fatia do setor não explorada: as empresas.
O e-commerce estava no ar e funcionando super bem. Além de pessoas comprando, empresas entravam por lá e perguntavam se existia uma solução B2B.
“Nosso primeiro cliente chegou pelo formulário do nosso site. Naquela época, também marcamos uma conversa com a Construtora Tenda. Lá, eles tinham muita dor com documentos na esteira do desenvolvimento imobiliário, sabíamos que poderia ser um tiro certeiro. Mostramos o e-commerce, mas saímos de lá prometendo uma plataforma. E sem o Rodrigo saber”, divide Flávio.
Durante o desenvolvimento da plataforma, que seria a solução para empresas, os empreendedores decidiram deixar de ser bootstrapping e captar com fundos. No mesmo ano, em 2017, realizaram rodada Seed e Series A com a Canary e Kaszek.
Esse capital deu fôlego para que pudessem, em 2018, tomar uma decisão importante para o futuro da empresa: focariam apenas no B2B para escalar com um modelo SaaS – software como serviço.
Abririam mão do B2C, que representava 80% das vendas, mantendo todas e todos os colaboradores. Enquanto o time do Rodrigo corria para melhorar a plataforma, Pedro e Flávio tentavam, sem grandes sucessos no começo, vender para empresas.
Seis meses de sufoco. Todo mês que conseguiam sobreviver era um Day1 diferente.
“Foi um momento muito difícil, mas sobrevivemos. Esse período provou que resiliência e trabalho duro valem a pena no final”, desabafa Pedro. “Estávamos rodando duas empresas diferentes. Parecia um beco sem saída. Mas, quando entendemos para qual caminho seguir, tudo mudou”, complementa.
Além disso, também participaram do Programa Scale-Up Endeavor nessa época. “A aceleração da Endeavor ajudou muito. Contar com a rede de mentoras e mentores e com pares que viviam os mesmos desafios foi importante para acalmar nossa ansiedade”, conta Flávio.
Até que, assim que recuperaram a receita, voltaram a crescer e fizeram uma rodada adicional ao Series A com a ONEVC, Valor Capital e Wayra. Ao final desse período, pivotaram o negócio. Surgia, ali, a Docket.
…
Hoje, a Docket é a principal plataforma que oferece infraestrutura e tecnologia para otimizar operações que dependem de documentos, de ponta a ponta em todo o Brasil, ajudando empresas a reduzir custos de forma ágil e inteligente. Desde 2016, a scale-up já transacionou 1 bilhão de reais em operações de financiamento imobiliário, crédito agrícola, CPR, CGI e desenvolvimento imobiliário.
De 2018 pra cá, passaram por programas de aceleração do Google, Pulse e Oracle. Além disso, estiveram no Top Startups do LinkedIn, 100 Startups to Watch e 100 Govtechs de maior impacto na América Latina.
“Nós temos o sonho grande de ser um dos maiores players de infraestrutura do Brasil e da América Latina. Com a Docket, a gente resolve a burocracia no Brasil e, com isso, conseguimos melhorar a vida das pessoas. Por exemplo, uma pessoa consegue um crédito com garantia imobiliária em banco, com uma experiência melhor, em menor tempo e com uma taxa melhor, porque eles usam nossa infraestrutura e tecnologia”, conta Rodrigo.
O marco em 2021
Agora, Flávio, Pedro e Rodrigo contam com o apoio da rede global da Endeavor para dar passos ainda mais largos e destravar a burocracia não só do Brasil, como da América Latina.
Também, como Empreendedores Endeavor, são grandes exemplos de que pode parecer difícil, mas não é impossível. De que é preciso estar atento, forte e resiliente diante dos percalços. E que a grandeza está, de fato, na luta.
…
“Eu acredito que todo empreendedor tem um papel transformador na sociedade. Agora, como Empreendedor Endeavor, eu conto com uma rede que encurta caminhos. E que vai nos transformar em empreendedores com, cada vez mais, vontade de fazer acontecer”, finaliza Pedro.
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