Empreender significa bem mais do que construir um negócio.
Para empreender é preciso expandir os mundos. Sair da zona de conforto em direção ao desconhecido. Partir as linhas de fronteira.
É por isso que quem estuda, quem possui carteira assinada e até quem faz parte de uma ONG pode empreender.
No Ceará, o David cresceu sem grandes exemplos de empreendedorismo próximo. Achava que não era pra ele. O que não sabia é que ele empreenderia antes mesmo de fundar o isaac, a scale-up que cuida do fluxo financeiro de mais de 400 escolas pelo Brasil.
Educação para crescer
David cresceu em Fortaleza, no Ceará. Em sua casa, educação era prioridade. Para sua família, era uma forma dele e dos seus irmãos ascenderem socialmente. Por isso, os recursos e esforços eram focados no desenvolvimento escolar das crianças. Até o silêncio era sagrado para que pudessem estudar.
“No Ceará, eu cresci com uma escassez de exemplos de empreendedorismo. Por muito tempo, não tive contato com empreendedoras e empreendedores de sucesso que me provassem que poderia ser um caminho que eu poderia trilhar. Mas, por outro lado, a educação sempre esteve presente. Pra mim, era o único meio pelo qual eu transformaria a minha vida e das pessoas ao meu redor”, conta David.
Há alguns anos atrás, ele ouvia que tinha apenas três opções se quisesse trilhar uma carreira de sucesso:
- Medicina,
- Concurso público, ou
- ITA.
David gostava de engenharia. Tinha uma mente muito focada em exatas. Mas, como seus pais eram funcionários públicos, sempre olhou para as carreiras públicas com muita admiração.
“O que a gente sonhava em casa era fazer concurso público. Queria virar juiz. Brincava que eu seria chefe dos meus pais”, complementa.
Decidiu então cursar Direito na melhor faculdade do país. Buscou na internet o “ranking das melhores faculdades de direito do Brasil”. Em primeiro lugar estava a USP – Universidade de São Paulo.
E foi pra lá que ele foi.
Educação para alargar as fronteiras
Além de ter uma mente voltada para as exatas, no Ceará, a maioria dos seus amigos eram engenheiros do ITA.
Chegou em São Paulo com uma visão de mundo homogênea. Era um engenheiro dentro do direito. Em poucos meses, a realidade era outra. “Quando me conectei com diferentes pessoas de diferentes contextos, entendi o valor da diversidade. Meu mundo se transformou”, complementa.
Durante a faculdade, começou a analisar a carreira dos grandes advogados e juristas. Logo percebeu uma coisa em comum: todos tinham mestrado nos Estados Unidos, especialmente no programa LLM.
Decidiu que precisava estudar nos EUA o quanto antes.
Na hora de definir para onde iria, usou o mesmo critério que para a faculdade: jogou no Google “melhores programas em direito nos Estados Unidos” e descobriu a Yale Law School.
Mas, para ir, um desafio: David não falava inglês. Não tinha nível nem para entrar nas turmas do preparatório do TOEFL.
Foi pra casa e passou 75 dias estudando inglês. Eram 12 horas por dia. Contadas no relógio. Três horas de escrita, três de leitura, mais três de escuta e outras três de fala.
Em menos de três meses, teve sua aprovação no TOEFL. E na Escola de Direito de Yale.
Chegou nos Estados Unidos e vivenciou mais uma expansão de mundo. A cada segundo que passava, David já não era mais o mesmo. Na infância queria ser juiz. Na faculdade, advogado corporativo. Em Yale conheceu o mundo de Investment Banking. Queria trabalhar levantando capital para empresas, governos ou outras entidades.
Educação para transformar vidas
Voltou para o Brasil e começou sua carreira no Credit Suisse, cuidando de IPOs e fusões e aquisições. Nos quatro anos que ficou por lá, aprendeu soft e hard skills, ampliou seu universo profissional.
No meio desse período, em 2011, Ricardo Sales, seu amigo de infância, também cearense, o procurou com uma pulga atrás da orelha. Anos atrás, David havia dado aulas de física para ele, e mais tarde se formou no ITA e foi para Stanford cursar seu MBA.
Ricardo queria apoiar jovens de alto potencial de escolas públicas para retribuir os privilégios que teve ao longo de sua trajetória. O plano era doar seus bônus do trabalho para conceder bolsas para esses jovens em escolas de qualidade.
Foi assim que surgiu a Primeira Chance, uma ONG com a missão de oferecer acesso ao ensino privado de qualidade assim como ajuda financeira – para despesas como moradia e alimentação – para adolescentes de baixa renda do ensino público. Com isso, conseguem trilhar um caminho na direção das universidades de ponta do país e do exterior.
“Foi aí que comecei a fazer algo pela educação. E foi isso que me levou até o Ari de Sá, um dos primeiros doadores do projeto”, conta David.
Por meio da Primeira Chance, David conheceu o Ari de Sá, hoje Embaixador Endeavor, que o convidou para ser sócio e CFO do SAS – Sistema Ari de Sá -, uma plataforma de educação que desenvolvia conteúdo, tecnologia e serviços para escolas em todo o Brasil.
David aceitou. E o projeto deu tão certo que se tornaria a ARCO Educação, uma das maiores companhias brasileiras focadas em soluções educacionais. Com um crescimento acelerado, alguns anos depois, em 2018, a ARCO virou o primeiro unicórnio de educação do Brasil e fez IPO em Nova York. David acompanhou de perto esses grandes marcos como Vice Presidente.
Essa experiência trouxe grandes aprendizados que levaria consigo para as suas próximas aventuras:
- Colocar o cliente no centro: ter um carinho enorme com as escolas,
- Trabalhar com pessoas boas: não se pode subestimar a importância de ter um time forte e diverso,
- Ter foco para lidar com os desafios e confiar no time para lidar com os problemas.
Depois de seis anos, queria fazer algo diferente.
Educação para mudar o mundo
Quando finalizou sua jornada na ARCO, em 2020, David parou para refletir sobre tudo o que havia vivido, seus maiores aprendizados e as dores do setor de educação.
“A gente sempre soube que havia uma oportunidade das escolas melhorarem a gestão. No Brasil, as escolas têm uma frente muito forte de pedagogia, mas não têm acesso a ferramentas de qualidade que de fato apoiem a gestão financeira. E isso atrapalha o crescimento do negócio, sendo um grande desafio para que entreguem uma educação de qualidade a seus alunos”, conta David.
Por outro lado, mesmo sabendo da dor, não sabia o que iria fazer. Não tinha certeza se deveria ou não começar um negócio em educação.
Pensou em infinitas possibilidades. Pensou até em sair do Brasil ou montar um fundo de investimento. Mas concluiu que o próximo passo seria construir um negócio.
O impacto foi o decisor. David queria gerar impacto. Elencou, então, três setores:
- Educação,
- Saúde,
- Segurança.
Queria melhorar uma dessas coisas. Optou pela educação. Ele tinha experiência. E o mais importante: teve grandes exemplos dentro de casa do quanto a educação pode mudar a vida das pessoas.
Chamou seu velho amigo Ricardo Sales, que, além de ter fundado a ONG Primeira Chance ao seu lado, também havia trabalhado com ele na construção da ARCO Educação – Ricardo era o representante da General Atlantic, um dos fundos de investimento da companhia.
Era uma relação próxima de muita quilometragem. David cuidaria da parte operacional do dia a dia, e Ricardo, da parte estratégica. “Ele é o navegador e eu o motorista”, brinca.
Juntos, fundaram o isaac. A scale-up que faz a gestão financeira das escolas de um jeito diferente, com o propósito de democratizar o acesso à educação de qualidade no país.
“O nome isaac é uma homenagem ao físico Isaac Newton, que descobriu a lei fundamental da gravitação durante uma epidemia de peste bubônica. Enquanto isso, em 2020, eu e Ricardo também estávamos construindo algo novo no setor educação durante uma pandemia”, conta
Hoje, com 14 meses de vida, o isaac já impactou mais de 200 mil estudantes. O crescimento acelerado da scale-up advém de uma série de razões:
David e Ricardo são dois empreendedores de segunda viagem.
Que encontraram uma dor latente.
Em um setor que anseia – há muito tempo – por inovação.
Mas até hoje é muito mal atendido.
“A educação é um setor com tanta dor para solucionar. De certa forma, bem parecido com o varejo de 20 anos atrás. O produto que a gente entrega foi criado para o varejo em 1990. As escolas ainda vendem um produto e parcelam em 12 vezes e enviam um carnê para os responsáveis financeiros efetuarem o pagamento. Nosso produto muda essa lógica e a aproxima da realidade das maquininhas, que já são o padrão no varejo brasileiro, melhorando a experiência das escolas e das famílias. Isso é uma inovação significativa para o setor de educação. Mas ainda existe muita oportunidade aqui”, comenta.
Além disso, existe mais um motivo para que a scale-up continue nessa trajetória de crescimento: em 2021, participou com o isaac do Programa Scale-Up Endeavor Edtech e foi aprovado como o mais novo Empreendedor Endeavor e passa a contar com a rede global da Endeavor.
Agora, pode contar com as referências em alto crescimento do mundo para transformar o isaac no sistema operacional de todas as escolas do Brasil. “Eu quero que o isaac possa ajudar gestores de escolas em tudo que precisam para crescer. Uma vez que, se as escolas do Brasil crescerem 30%, imagina o impacto causado com o número de pessoas que passariam a ter acesso à educação de qualidade”, conta.
Educação para construir o futuro
Escalar uma empresa em 14 meses já comprova o potencial da nova geração de empreendedoras e empreendedores, que chegam mais preparados para liderar a revolução que precisamos para o futuro.
“Com 14 meses de empresa, a sensação é de que ainda estamos no primeiro dia, ou melhor, nas primeiras horas do primeiro dia. Fizemos tão pouco, mas existe tanta coisa a ser feita para melhorar o dia a dia das escolas. Ainda assim, eu aprendo muito. Sobre mim. Sobre educação. Sobre como construir uma empresa de base tecnológica. Eu sempre olho para os desafios e lembro da minha mãe falando que nunca fica mais fácil, mas fica melhor. É daí que tiro força, foco e resiliência para seguir em frente”, divide.
A história do David prova que é preciso ir em busca do desconforto. Seja empreendendo, estudando, mudando de cidade ou de país. Seja tirando uma ideia do papel ou mudando o modo como as coisas já são feitas.
É assim que se muda o mundo.
…
“Ao empreender, é necessário entender que existem pessoas que vivem os mesmos desafios que você. E trocar aprendizados faz todos crescerem juntos. A Endeavor é esse ambiente seguro, com uma rede que me ajuda a tomar decisões que vão ter um impacto direto no crescimento do isaac.
O outro ponto é poder contribuir com tudo o que aprendi ao longo da minha jornada. Eu já fazia isso de forma não estruturada, mas agora consigo ampliar o meu impacto. Uma das métricas de sucesso da minha vida profissional é conseguir causar impacto positivo na vida das pessoas”, finaliza.
O post A história do cearense que está impulsionando a educação no Brasil aparece em Endeavor Brasil.
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