capa-artigo-venture debt capa-artigo-venture debt

Publicado em: 31 de julho, 2023
Endeavor Brasil

Endeavor Brasil

A Endeavor é a rede formada pelas empreendedoras e empreendedores à frente das scale-ups que mais crescem no mundo e que são grandes exemplos para o país.

Frente às dúvidas do ecossistema sobre Venture Debt, a Endeavor realizou uma mentoria coletiva para nossa rede de Scale-ups com os especialistas Gabriela Gonçalves, do Namari Capital, e Felipe Rama, do Itaú BBA.

Como é o processo de levantar uma dívida no Brasil hoje? Quais os CKL que uma scale-up precisa?

Gabriela: É preciso ter um PMF. O crédito é muito bom em certos estágios mas não resolve a vida da empresa. Em determinados momentos o equity é a escolha mais certa. Nós gostamos de investir em empresas que fazem mais do mesmo, porque quando não temos um histórico muito claro, o risco de dívida aumenta. Quanto ao tamanho do negócio, não existe exatamente um tamanho mínimo, mas temos um cheque mínimo de 5 milhões, o porte do negócio tem que suportar esse cheque. É menos sobre tamanho e mais o quanto consegue provar da sustentabilidade do business. Outros fatores que observamos são: unit economics saudáveis, porque o negócio tem que ser replicável, os KPIs do negócio devem estar em ordem, o business plan tem que ser bem feito. Avaliamos fluxo de caixa, DRE, balanço, a tese também é essencial, mas no estágio das empresas entendemos que os bons resultados já comprovam boa parte dela. 

Equity é casamento, debt é noivado. – Gabriela Gonçalves

Além disso, procurar dinheiro quando precisa não é a melhor alternativa, porque, embora sejamos ágeis, ainda existe um prazo. Então uma dica é: procurar dinheiro quando a empresa está bem, manter um constante relacionamento com os credores é essencial No mercado americano se pega Venture Capital com Venture Debt, numa divisão de 75% Venture capital e 25% Venture Debt. Se não for possível fechar acordo em um primeiro momento, é importante manter contato, fazer update, dessa forma o credor pode conhecer a empresa. Ganhar relacionamento traz muita vantagem, criar isso na rotina do CFO faz toda a diferença.

Felipe: O banco é um banco de relacionamento e temos diversos tipos de bolsos de crédito. Dentro do universo de debt temos um cardápio extenso e é responsabilidade do banco entender qual o melhor produto para cada momento da startup, que é determinado por um longo processo de análise de crédito. Se o empreendedor se preparar visando crédito assim como se prepara para uma rodada de venture capital, passar por um crivo de crédito deveria ser tão comemorado quanto captar com fundos de Venture Capital. É importante ter os números atualizados, abertura e clareza para explicar fluxo de caixa, projeções etc, porque isso passa uma segurança enorme pro banco. Quando conhecemos a empresa, consideramos que será uma relação duradoura, embora não nos tornemos sócios. Nosso processo se inicia com o interesse, chega nos termos mínimos e depois de uma aprovação conceitual interna, nos aprofundamos muito no business plan e números. 

Temos comitê e o potencial desembolso, esse processo todo dura de 30 a 60 dias a depender da celeridade. São must have:

  • 1. Governança clara 
  • 2. Aberturas de números e informações da companhia
  • 3. Pitch atualizado
  • 4. Materiais claros 
  • 5. Números abertos para composição da análise de crédito
  • 6. Potencialmente conversar com seus clientes (visitar locais físicos se for o caso)
  • 7. Mostrar porque o seu negócio é o melhor daquele setor e por quê sua companhia é a vencedora naquele mercado
  • 8. Ter clareza do que vai ser feito com o dinheiro, saber como empregar essa dívida e seu horizonte de utilização é super importante. 

Tem um padrão de Venture Debt e geralmente qual o vencimento? Quais as taxas?

Gabriela: O prazo estabelecido depende do negócio. Por exemplo, pode levar de 18 a 48 meses. Para prazos acima de 24 a 36 meses é necessário avaliar o porte da empresa, pois o risco aumenta. Em termo de taxa, ela é variável, não tem um valor oficialmente definido, mas ela respeita um range. Em caso de negociação ou barganha no prazo, é necessário ver quanto está sendo cobrado na dívida.

Não dá pra comparar Venture Debt com dívida de prateleira. O Venture Debt é mais equivalente a uma rodada de Venture Capital, no sentido de que tem um volume maior e consegue ajudar a empresa a cumprir um plano de negócios, versus resolver apenas um problema de curto prazo. 

Felipe: O banco tem a liberdade de exigir o pagamento na rodada ou não para este potencial vencimento antecipado. A transação tem início, meio e fim. Caso não tenha um Venture Capital para pagar a dívida, ela passa por um reperfilamento – revisamos e agregamos garantias, o fluxo etc -, não tem muito segredo, pois torna-se uma nova discussão de crédito a partir do novo momento da companhia. 

Uma dúvida que surge é como fazer um trabalho misto para uma rodada de Venture Debt e Venture Capital?

Gabriela: A dívida faz sentido quando é mais barata que o equity. Raramente se encontra quem fez a conta de quanto o equity vai custar em cenários diferentes, uma vez que no momento da captação o negócio está no modelo de crescimento estável e, de certa forma também está bem precificado no equity. Os melhores momentos para captar com Venture Debt são aqueles de inflexões importantes. 

Por exemplo, uma empresa que está com um contrato que vai mudar seu perfil de receita, um produto novo que está funcionando e vai trazer uma mudança importante. Não é pivotar, mas é algo dentro do business. O mercado está crescendo e ajudamos a dar acesso a outras rodadas e a abrir o mercado.

A partir de um Series B, existe muita presença de fundos internacionais e eles já vêm alinhados com Venture Debt. Um captable bem estruturado mantém um maior alinhamento com os founders, além disso, ajuda no processo de captações mais avançadas. O objetivo final é alavancar o dinheiro deles, nem o empreendedor nem os fundos precisam se diluir sem necessidade.

Felipe: Depende da habilidade do empreendedor de construir isso, de pensar em Venture Debt além do dinheiro. Tem um fator extremamente importante, que é a aproximação do relacionamento com banco, assim ele vai fundo para auxiliar os próximos passos do negócio. Um fundo de Venture Capital excelente deveria valorizar o empreendedor que está buscando equalizar. Isso ajuda o fundo de venture capital a manter sua posição na próxima rodada e a manter uma sustentação do captable. As empresas vão mal quando se diluem muito no início e podem ter problemas em próximas captações. 

Vimos a redução de investimentos em Venture capital e o crescimento do Venture Debt para suportar esse momento. Qual a percepção de vocês? 

Gabriela: O equilíbrio é sempre bom. Com toda essa questão do valuation e equity é uma oportunidade para a classe de ativos crescer. A maior barreira do produto sempre foi o conhecimento, o processo dos empreendedores entenderem como ele funciona e qual seu valor. Muita gente nunca pensou em dívida e acaba não conhecendo o produto. Lá fora esse processo já é automático. Em termo de retomar, o que aconteceu em  2020 e 2021 foi uma bolha. Agora estamos em níveis baixos, que tendem a melhorar, mas no curto e médio prazo não alcança patamares iguais aos de 2020 e 2021.

Felipe: Sobre o mercado, em termos de juros, os fundos estão olhando outros tipos de crédito. A tendência é que no segundo semestre isso vai ser bem forte e,  então, prevemos um segundo semestre forte em retomada de negócios, com novos clientes e maior crescimento. O patamar não deve ser igual aos de 2020 e 2021, mas próximos aos de 2018 e 2019. Para bons negócios sempre terão boas oportunidades.

Publicação Original


0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder