*Por Fernando Nery
A relação entre os conselhos administrativos e os colaboradores sempre foi fundamental para o sucesso das empresas, mas as pesquisas recentes evidenciam um distanciamento preocupante entre esses dois grupos. Apesar de parecer algo ultrapassado, ouvir diretamente os trabalhadores sobre suas experiências e expectativas ainda é uma prática essencial. Dados da EY mostram que conselhos de grandes empresas, avaliadas em US$10 bilhões ou mais, analisam trimestralmente os dados de capital humano em 78% dos casos. No entanto, essa prática não se traduz em uma conexão real com os funcionários, o que gera uma lacuna crescente.
Os números são claros: apenas 22% dos diretores participam de sessões de escuta com os funcionários, e menos da metade realiza visitas aos locais de trabalho. Não surpreende, portanto, que os conselheiros avaliem sua própria capacidade de compreender as questões dos funcionários com uma média de apenas 3,6 em 5, e a percepção sobre o sentimento dos trabalhadores da linha de frente seja ainda mais baixa, com 3,2 em 5. Essa distância reflete um problema estrutural: os conselhos muitas vezes se baseiam exclusivamente em relatos dos altos executivos, ignorando o ponto de vista de quem realmente está na linha de frente.
Um exemplo marcante dessa desconexão está nas iniciativas de treinamento e desenvolvimento. Enquanto 84% das pessoas consideram essencial que suas organizações ofereçam programas de capacitação para manter suas habilidades atualizadas, 51% dos executivos acreditam que esses programas são “uma perda de tempo”. Além disso, há uma enorme discrepância na percepção de satisfação: 65% dos altos executivos acreditam que os funcionários estão muito satisfeitos com os programas de treinamento, mas apenas 32% dos colaboradores compartilham essa visão.
Os conselhos também deixam a desejar nesse aspecto e apenas 25% das lideranças veem o treinamento e o desenvolvimento como uma das principais prioridades de governança, e somente 8% supervisionam regularmente a eficácia desses programas. As métricas relacionadas ao treinamento são consideradas úteis por apenas 16% dos conselheiros. Esses números reforçam a falta de alinhamento estratégico entre o board e as reais necessidades dos funcionários, o que pode impactar diretamente a retenção de talentos e a competitividade das empresas.
Existem caminhos para aproximar o conselho dos funcionários
É essencial que os conselhos reavaliem suas práticas para superar essa desconexão. Há caminhos como participar ativamente de eventos e reuniões com funcionários, buscar perspectivas diversas por meio de interações com executivos de nível médio e revisar métricas relacionadas ao treinamento de forma mais regular. Essas ações não apenas aproximam o board dos colaboradores, mas também permitem decisões mais bem informadas e alinhadas às demandas do mercado.
A verdade é que o futuro das empresas depende de uma relação mais próxima e transparente entre conselhos e funcionários. Ignorar essa necessidade é comprometer o engajamento, a inovação e a capacidade de adaptação organizacional. Para prosperar, os conselhos precisam ouvir, entender e agir com base no que realmente importa para seus colaboradores. Essa é uma lição que nenhuma empresa pode se dar ao luxo de ignorar.
*Fernando Nery é CEO da P3
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