*Por Fernando Trota

O mercado de venture capital (VC) é fundamental para o crescimento das startups – especialmente aquelas que buscam escalar rapidamente e precisam de capital para desenvolver tecnologia de ponta. No entanto, a busca por investimento deve ser feita com cautela e planejamento, pois uma captação mal estruturada pode comprometer tanto o negócio quanto a motivação do próprio empreendedor.

Uma premissa comum no ecossistema de startups é que buscar um aporte é essencial para crescer. Isso é verdade até certo ponto. Para resolver um problema de mercado de forma escalável, muitas vezes é necessário desenvolver tecnologia rapidamente, o que demanda capital antecipado. No entanto, isso não significa necessariamente que o empreendedor deva buscar investidores logo no início de sua jornada. O mercado de VC é apenas uma das opções disponíveis e, em uma ação mal planejada, o dinheiro que esses fundos oferecem pode sair caro a longo prazo.

Um exemplo claro é o da diluição de participação societária. Um sócio que possui 75% do controle de sua empresa, quando precisar captar, pode ver sua participação reduzida para 60%, por exemplo. Em casos extremos, o fundador pode ver suas decisões estratégicas limitadas, causando a sensação de que houve uma perda de controle sobre o destino do próprio negócio. 

Além da diluição, outro ponto crítico é a estrutura do financiamento, que pode incluir taxas de juros elevadas ou cláusulas contratuais complexas. Esses fatores podem sobrecarregar a empresa com compromissos financeiros que se tornam insustentáveis ao longo do tempo. Uma startup que se endivida demais, ou que aceita condições de financiamento desfavoráveis, pode ver seu fluxo de caixa pressionado a ponto de não conseguir honrar suas obrigações sem comprometer sua operação e crescimento.

Portanto, o planejamento adequado é essencial. Antes de qualquer acordo, é preciso avaliar cuidadosamente as necessidades reais de capital e as implicações de cada oferta recebida. A captação deve ser vista como uma ferramenta para alavancar o crescimento, e não como um fim em si mesma. É fundamental que haja uma visão clara sobre o impacto da entrada de novos investidores no modelo de negócios, na governança corporativa e no futuro da empresa.

Outro ponto relevante é a escolha do parceiro financeiro. Não são apenas os aspectos das finanças que importam, mas também o alinhamento de valores e a visão de longo prazo. Um investidor estratégico, que compartilha da missão e visão da empresa, pode ser um grande aliado na construção de um negócio sustentável. Porém um parceiro desalinhado pode gerar conflitos e desentendimentos que prejudicam a evolução da organização.

O processo de captação exige mais do que habilidade de negociação e vontade de crescer: ele pede também uma reflexão profunda sobre o que se está disposto a ceder em troca do capital e quais são as consequências dessa troca. Nem sempre mais dinheiro significa mais sucesso. Em alguns casos, pode significar mais problemas.

A busca por capital deve ser conduzida com a mesma cautela e rigor com que se desenvolve o produto ou serviço oferecido pela startup. O empreendedor precisa estar preparado para as complexidades que acompanham o investimento externo e garantir que os termos acordados não coloquem em risco a visão original da companhia.

A captação é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa para a expansão, mas deve ser utilizada com discernimento e estratégia, para que não se torne um obstáculo no caminho do sonho empreendedor.

*Fernando Trota é CEO da Triven


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