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*Por João Kepler
No mercado de Venture Capital, a rentabilidade é medida por diferentes métricas financeiras. A Taxa Interna de Retorno (TIR) calcula em percentual a rentabilidade anual do fundo ao longo do tempo. O MOIC (Multiple on Invested Capital) mede o múltiplo do capital investido, ou seja, quanto o fundo multiplicou o dinheiro dos investidores. O DPI (Distributed to Paid-In) mostra quanto já foi devolvido aos investidores. O TVPI (Total Value to Paid-In) soma o que já foi devolvido (DPI) com o que ainda está no portfólio (RVPI, ou Residual Value to Paid-In), dando uma visão mais clara do retorno potencial total.
Essas métricas e modelo funcionam, mas tem um problema no caminho. A atualização do Valuation das Startups acontece, via de regra, apenas quando há uma nova rodada de captação. Se uma startup levanta capital a um valuation maior, os investidores ajustam sua participação para cima. Se não há novas rodadas, o valor segue congelado no tempo. O problema é que a Startup muda, o mercado muda, e não marcar os ativos corretamente e em tempo mais real possível, pode distorcer completamente a percepção real de retorno.
Agora, pensa comigo. Muitas Startups demoram anos para captar novamente ou simplesmente escolhem não levantar mais dinheiro. Isso não significa que o negócio não esteja crescendo. Pelo contrário, pode estar gerando caixa positivo. Mas, para o investidor, a falta de um novo Valuation oficial cria um vácuo. Sem novas rodadas, como saber se a Startup continua valendo o que se projetou? Lembrando que muitas vezes a precificação do Valuation de entrada leva em conta também expectativas de resultados do futuro. E mais do que isso, como garantir que o retorno do fundo não está sendo subestimado?
É por isso que a remarcação dos ativos precisa acontecer. Se não há uma nova rodada para balizar o valor, a marcação deveria levar em conta outros indicadores financeiros e de mercado, Como o crescimento de receita, EBITDA, margem operacional, múltiplos de empresas comparáveis e Efficient Growth, são algumas das métricas que poderiam ser usadas.
Mas muitos Gestores evitam essa prática porque não é uma prática comum no mercado de VC ou até mesmo porque uma reavaliação, poderia forçar uma marcação para baixo em alguns investimentos. E isso, convenhamos, não é algo que todo mundo quer mostrar no relatório. Mas dependendo do cenário e para amenizar o impacto, pode ser mais estratégico manter um valor base de entrada ou até mesmo considerar o write-off de certos ativos.
Outro ponto que pouca gente discute é o que fazer quando uma Startup decide não captar mais ou já opera de forma independente e sustentável. Nesse caso, a tese de retorno precisa ser repensada. Se a empresa gera caixa ou não precisa mais de rodadas externas, faz sentido continuar tratando como um ativo de longo prazo esperando um valorização do Valuation futuro ou um EXIT incerto? Talvez seja mais inteligente transformar essa Startup em uma Empresa geradora de dividendos, devolvendo capital aos investidores ao longo do tempo, em vez de só contar somente com uma liquidez futura.
Essa mudança de mentalidade mexe com a lógica do Venture Capital. O mercado sempre trabalhou com o modelo “all or nothing”, onde ou a startup cresce, capta mais rodadas e vende por um múltiplo gigante ou simplesmente morre no meio do caminho. Mas a verdade é que existem muitas empresas que seguem operando e gerando valor sem captar novas rodadas. Por que os fundos não podem estruturar um modelo que capture esse valor de forma contínua, sem depender exclusivamente de um Exit?
A marcação de ativos baseada apenas em rodadas de captação cria uma falsa sensação de segurança. Tem startup supervalorizada porque levantou dinheiro em um valuation alto no passado, mas nunca captou de novo para confirmar esse preço. E tem outras que estão subvalorizadas simplesmente porque nunca precisaram captar novamente. Se a marcação de ativos não reflete o momento real do mercado, os LPs dos Fundos podem não perceber a valorização do seu portfólio, que deve ser muito mais saudável do que realmente parece (pela foto da marcação apenas a mercado).
Se o Venture Capital quer continuar evoluindo, a forma única como os ativos são marcados hoje, precisa mudar. Se uma startup não levanta novas rodadas, seu Valuation não pode simplesmente ficar congelado no tempo. O certo seria olhar para dentro, analisar a realidade financeira dessas empresas e reavaliar as posições sempre que necessário. Ou então, é hora de mudar a forma como capturamos valor e considerar mecanismos que permitam retorno via dividendos, e não apenas via Exit.
Na Bossa Invest já começamos a estruturar essa mudança para além dos Reports e meetings, para tentar demonstrar no nosso App (atualizado em tempo mais real possível), outras formas de acompanhamento, métricas e marcações.Pense nisso!
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