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*Por Caio Telles
O mercado de cibersegurança no Brasil enfrenta um grande desafio: a escassez de profissionais qualificados. Enquanto empresas nacionais lutam para encontrar especialistas, o mercado estrangeiro atrai cada vez mais talentos brasileiros.
Essa movimentação não é por acaso. Salários mais altos, acesso a tecnologias avançadas e oportunidades de aprendizado são fatores que impulsionam essa migração.
Desequilíbrio no mercado brasileiro
A pandemia impulsionou a digitalização das empresas e aumentou a demanda por especialistas em cibersegurança. No entanto, muitos dos melhores talentos foram rapidamente absorvidos por empresas estrangeiras, criando um déficit interno. Com isso, profissionais menos experientes foram promovidos rapidamente, muitas vezes sem a bagagem técnica necessária, gerando um desequilíbrio no mercado.
Essa lacuna de talentos impacta diretamente a segurança das empresas nacionais, que acabam ficando vulneráveis a ataques cibernéticos. Além disso, a falta de um ecossistema forte de especialistas limita a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias no país.
Atratividade financeira e acesso à tecnologia de ponta
Uma das principais razões para a saída de profissionais brasileiros é a remuneração. Empresas estrangeiras oferecem salários significativamente mais altos, pagos em moedas fortes como dólar e euro. Esse diferencial financeiro, aliado à possibilidade de trabalho remoto e flexibilidade de horário, torna a proposta ainda mais atrativa.
Além disso, fora do Brasil, os especialistas têm acesso a tecnologias de ponta e ambientes mais estruturados para pesquisa e desenvolvimento. Trabalhar em mercados maduros permite o contato com desafios mais complexos e soluções inovadoras, acelerando o crescimento profissional. Por aqui, muitas empresas ainda enxergam a cibersegurança como um custo, o que limita investimentos e o desenvolvimento de novas soluções.
Além dos ganhos financeiros e do acesso a novas soluções, outros dois fatores contribuem para a decisão de um profissional de cibersegurança buscar oportunidades no exterior: a possibilidade de aprimorar o inglês e até mesmo morar fora do Brasil são aspectos valorizados por muitos especialistas.
O Brasil pode reverter essa tendência?
Para reduzir a fuga de talentos, o Brasil precisa reavaliar a forma como encara a cibersegurança. As empresas devem enxergar a área como um investimento estratégico, oferecendo salários mais competitivos, benefícios atraentes e incentivando a formação contínua dos profissionais.
O governo também pode ter um papel relevante nesse cenário, criando políticas de incentivo para o setor, promovendo investimentos em inovação e fortalecendo parcerias com instituições de ensino para formar novos especialistas.
A valorização da cibersegurança demanda ações concretas para unir esforços para reter profissionais bem qualificados. Somente dessa forma, o Brasil poderá fortalecer sua posição em um mercado tão competitivo e se tornar uma referência econômica amparada pela segurança cibernética.
*Caio Telles é cofundador da BugHunt, empresa de cibersegurança referência em Bug Bounty, programa de recompensa por identificação de falhas. É formado em Engenharia de Computação e atua na área de segurança há mais de 15 anos.
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