As organizações enfrentam pressões crescentes para modernizar processos, acelerar resultados e adotar todas as novidades tecnológicas. Nesse cenário, é fácil confundir movimento com progresso. Mas, como ensina a essência da estratégia, não se trata apenas do que escolhemos fazer, mas também do que optamos por deixar de lado. Dizer “não” é tão essencial quanto dizer “sim”.

A hiperconectividade e o fluxo interminável de informações criam um falso senso de urgência em adotar cada nova tendência tecnológica. Desde a migração para a nuvem até a implementação de soluções de IA, as escolhas parecem infinitas. Abraçar todas as possibilidades resulta em uma dispersão de recursos, energia e foco. É como tentar pintar um quadro detalhado com movimentos amplos e desordenados: o resultado é confuso e ineficaz.

Estratégia, no sentido mais puro, é um exercício de concentração. Jim Collins, autor do clássico Empresas Feitas para Vencer, destaca que as empresas verdadeiramente bem-sucedidas são aquelas que entendem profundamente no que não devem se envolver. Assim como um escultor remove pedaços do bloco de mármore para revelar sua obra-prima, as organizações precisam eliminar as distrações e os excessos para descobrir seu verdadeiro potencial.

Na prática, isso significa identificar quais iniciativas oferecem valor real e quais são apenas distrações brilhantes. Negar é doloroso porque muitas vezes envolve abandonar projetos que já consumiram tempo e recursos, ou dizer não a ideias que parecem promissoras, mas que não se alinham à estratégia central. Essa é uma lição que a Amazon aplicou ao longo de sua história, descartando categorias de produtos e ideias que não contribuíam diretamente para sua missão de centralidade no cliente.

Pense na estratégia como uma dieta tecnológica. Assim como um nutricionista aconselha a eliminar alimentos que fazem mal à saúde, as empresas também precisam cortar sistemas legados que não agregam mais valor. Da mesma forma, evitar o “consumo” excessivo de novas ferramentas tecnológicas é essencial para evitar um “indigestão digital”. Ao dizer não ao desnecessário, as organizações fortalecem seu sistema operacional interno, otimizam recursos e garantem uma execução mais ágil.

Por exemplo, ao migrar para a nuvem, muitas empresas se veem tentadas a replicar estruturas antigas sem considerar um redesenho para otimizar a operação. A decisão de abandonar arquiteturas ineficientes pode parecer radical, mas é exatamente isso que libera a agilidade necessária para competir na economia digital. É aqui que a coragem de dizer não à zona de conforto e aos velhos hábitos se torna uma alavanca de inovação.

Um dos maiores desafios da modernização digital é superar vícios corporativos, como apego à burocracia ou insistência em processos ultrapassados. Esses hábitos são como parasitas que drenam o potencial inovador das organizações. Negá-los não é apenas uma questão de eficiência, mas também de sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo.

Na modernização e aceleração digital, dizer não significa priorizar a simplicidade. Empresas como Apple e Tesla construíram sua supremacia sobre a arte de fazer escolhas focadas. Elas evitam a complexidade desnecessária, garantindo que cada decisão – desde o design de produtos até a alocação de times – esteja alinhada às suas missões essenciais. Esse foco é o que distingue os líderes dos seguidores.

Estratégia não é apenas sobre escolhas assertivas, mas também sobre escolhas corajosas. Dizer não àquilo que não agrega valor é um ato de liderança. Em um mundo onde a pressão por resultados imediatos pode levar à superficialidade, as organizações que ousam priorizar e focar colhem os frutos de uma aceleração digital autêntica e duradoura.

Ao final, a verdadeira modernização digital não é apenas sobre tecnologia, é também sobre decisões humanas. Saber o que deixar de lado é o que permite avançar de forma consistente e construir um futuro sólido. Portanto, na próxima vez que você se deparar com uma escolha estratégica, pergunte-se: o que é realmente essencial? E esteja preparado para dizer não ao resto.

*Victor Gonçalves é Chief Digital Officer na Verity.


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