A startup Builder.ai, fundada em 2015, enfrentou insolvência após ser revelado que utilizava 700 engenheiros na Índia para desenvolver manualmente softwares que eram vendidos como produtos de inteligência artificial automatizada. A empresa promovia uma plataforma “no-code” com uma assistente virtual chamada Natasha, que supostamente montava aplicativos como peças de Lego. Na prática, os pedidos dos clientes eram repassados para uma equipe na Índia, que desenvolvia manualmente o software, operação escondida sob a fachada de automação.

Além da falsa automação, a Builder.ai se envolveu em um esquema contábil conhecido como “round-tripping” com a startup indiana VerSe Innovation. Entre 2021 e 2024, as duas empresas trocaram faturas de valores similares para inflar receitas diante dos investidores, segundo documentos obtidos pela Bloomberg. Essa prática permitiu que a Builder.ai superestimasse suas vendas em até 300%, atraindo investimentos e elevando sua avaliação de mercado para US$ 1,5 bilhão.

A VerSe Innovation, dona do aplicativo Dailyhunt e da plataforma de vídeos Josh, negou as acusações. Umang Bedi, cofundador da companhia, declarou à Bloomberg que “é absolutamente falso e infundado” que a empresa tenha registrado despesas ou receitas sem contraprestação. A VerSe afirmou que os serviços trocados com a Builder.ai foram verificados por auditores externos e classificou as acusações como “difamatórias e irresponsáveis”.

Em 2023, a credora Viola Credit congelou US$ 37 milhões da Builder.ai após a empresa não honrar dívidas. Desde então, a companhia entrou em processo formal de insolvência no Reino Unido, com um administrador judicial nomeado para tentar recuperar ativos. As autoridades americanas abriram investigação e emitiram intimações para que a Builder.ai entregue documentos financeiros detalhados, políticas contábeis e listas de clientes. A empresa reconheceu inconsistências nas vendas históricas, mas não detalhou o tamanho das irregularidades.

O caso da Builder.ai não é isolado. Em 2024, a Amazon anunciou o fim gradual do “Just Walk Out”, sistema que eliminava caixas em lojas de conveniência usando sensores e câmeras. Na prática, porém, o sistema dependia de mais de 1.000 funcionários na Índia para revisar vídeos e corrigir erros no processo de compra. Diante dos custos e falhas, a Amazon substituiu a tecnologia por carrinhos com scanner e caixas de autoatendimento, admitindo publicamente que o sistema original não era totalmente automatizado. 

Esses casos levantam questionamentos sobre a transparência e a real eficácia das soluções de inteligência artificial oferecidas por empresas de tecnologia. A confiança dos investidores e consumidores pode ser abalada quando promessas de inovação se revelam operações manuais disfarçadas, destacando a importância de auditorias rigorosas e regulamentações claras no setor.


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