* Por Camila Nasser
Na semana passada o Spotify divulgou os seus resultados financeiros do Q4 de 2018 — resultados animadores em termos de receita, número de assinantes e, pela primeira vez na história, lucro operacional. A empresa anunciou também estratégia agressiva para se consolidar como maior produtora e distribuidora de podcasts (hoje, está atrás apenas da Apple).
Com planos de investir de U$400 a US$500 mil em aquisições de players nesse mercado, a gigante de streaming já anunciou suas 2 primeiras aquisições (o negócio será selado nas próximas semanas): Anchor e Gimlet Media, a 1ª com foco em tecnologia para a produção e a 2ª com foco em conteúdo (destaques para os “shows” StartUp e Homecoming, ficção que originou a série no Amazon Prime com participação de Julia Roberts).
O interessante é que esse momento — e o retorno — é compartilhado com algumas dezenas de investidores.
Aquisição da Gimlet marca novo retorno para os investidores do crowdfunding
Em Novembro de 2014, a startup realizou uma oferta de US$1.5 milhão e reservou os últimos U$ 200 mil para seus ouvintes, em uma oferta de crowdfunding. No post em que anunciavam a oferta, os co-fundadores Alex e Matt falam sobre a importância da comunidade para a empresa:
“No fim das contas, o sucesso dessa empresa dependerá de nossa relação com os ouvintes. Desde que lançamos (o podcast) StartUp, suas respostas tem sido extraordinárias. E tem sido emocionante ter vocês tão intimamente envolvidos na formação da empresa.
É por isso que os convidamos para se juntar a nós. Neste momento, temos mais de U$1 milhão alocados, de um bom grupo de investidores, incluindo a Lowercase Capital, Betaworks e alguns investidores anjos como Marco Arment e Andrew Mason, que você já ouviu no (podcast) StartUp. Mas sempre foi nosso sonho dar a nossos ouvintes a chance de ser parte da empresa. Então agora reservamos os últimos U$200 mil da rodada para nossos ouvintes — nós queremos que você invista junto com esse grupo.”
Dessa oferta participaram aproximadamente 80 investidores, que tiveram a oportunidade de investir ao lado de grandes investidores como a Lowercase Capital, um dos fundos de capital de risco mais bem sucedidos do mundo (e fundado por personalidade do mercado, Chris Sacca).
Hoje, com a aquisição da empresa por US$230 milhões, esses investidores verão retorno do investimento feito há 4 anos, quando a empresa estava avaliada em U$10 milhões.
Em entrevista dada ao Recode Media, os fundadores contam sobre a venda da Gimlet para o Spotify, e respondem sobre o retorno dado aos investidores do crowd:
“Você (o investidor) será pago e terá um belo retorno. Nessa manhã, enviamos um e-mail para… acho que 80 pessoas, que colocaram entre U$1.000 e U$10.000 há quatro anos. É realmente especial e gratificante poder contar a eles.
Os e-mails que recebemos de volta, eram tão emocionantes e sentimentais, porque eles sentiram como se fossem parte de algo que realmente causou um impacto positivo no mundo e se sentiram tão felizes com isso.”
– Matt Lieber
A iniciativa de convidar a sua comunidade para investir, e nos mesmos termos de investidores “estratégicos”, é infelizmente pouco comum aqui no Brasil. Ainda que as startups investem cada vez mais na construção de comunidades e de fato acreditam no valor das redes, perdem por não ver nestas o potencial — também estratégico, ainda que de uma forma diferente — de investimento.
Assim como Gimlet, e até mesmo Uber, muitas startups poderiam (deveriam!) dar o valor às pessoas ao seu redor, que evangelizam seus negócios por genuinamente acreditar neles. Reservar um espaço em sua oferta para quem já faz parte de sua empresa não é “caridade”, é estratégia. É um outro smart money: mais colaborativo, diverso e conectado com o que você acredita.
Esse post poderia ter sido um podcast. Quem sabe, em breve?
* Camila Nasser é cofundadora e head de marketing da Kria, plataforma online de investimento em startups.
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