*Por Ana Gozzi

Tem algo de irônico e simbólico em abrir o computador em São Paulo para estudar na universidade mais prestigiada do mundo, enquanto o próprio governo dos Estados Unidos tenta deslegitimá-la. Do lado de cá, o café esfriando, a aula começando, o módulo sobre liderança responsável. Do lado de lá, um corte de bilhões, ameaças políticas, tentativas de censura.

Harvard formou mais de 150 vencedores do Nobel. Criou presidentes, descobriu vacinas, desafiou injustiças. E agora, em 2025, precisa lutar para existir como sempre foi: livre.

O curso que faço — o CLIMB, da Harvard Business School — forma lideranças para o futuro. E o que eu não esperava era viver esse futuro no meio de uma guerra ideológica que tenta sufocar o pensamento crítico, a diversidade e a autonomia institucional.

Nos últimos meses, o governo Trump suspendeu todas as bolsas federais para Harvard. Estima-se um impacto direto de até 9 bilhões de dólares. Não se trata apenas de dinheiro. Trata-se de um recado. Uma tentativa de deslegitimar uma das instituições mais influentes e respeitadas do planeta. Harvard foi acusada de não combater o antissemitismo, de discriminar conservadores, de abandonar a excelência acadêmica. Mas o que está em jogo não são as acusações em si: é o poder de calar vozes incômodas.

Como aluna, mesmo a milhares de quilômetros de distância, senti o impacto. O clima entre os colegas mudou. Estudantes estrangeiros passaram a evitar estágios fora dos EUA, com medo de não conseguirem voltar. A universidade, pressionada, passou a revisar departamentos, discursos, estruturas. Há medo. Há tensão. E há resistência.

Estar em Harvard agora é ver de perto o que acontece quando o conhecimento incomoda. É viver a experiência de uma instituição sendo atacada por fazer justamente o que se espera dela: questionar, provocar, avançar.

Ser brasileira nesse contexto torna tudo ainda mais vívido. Porque nós, aqui, sabemos o que é lutar por educação. Sabemos o que é ver instituições sendo desacreditadas por narrativas que reduzem tudo a ideologia. E sabemos, também, que a história é escrita por quem não abaixa a cabeça.

A Harvard que frequento não é aquela das séries de TV nem dos filmes sobre gênios solitários. É feita de gente real — brilhante, comum, diversa — tentando, a cada aula, entender como liderar com ética, visão e responsabilidade. É a Harvard que, mesmo sob ataque, segue ensinando. Não porque é fácil, mas porque é necessário. E eu sigo com ela. Porque é nas trincheiras do conhecimento que o futuro se constrói.

*Ana Carolina Gozzi é co-CEO do Compre & Alugue Agora e fundadora da Artêmia Co. Advogada pela FAAP, especializou-se em Marketing Digital, Branding e Gestão de Pessoas, com pós-graduações em Diversidade & Inclusão e Direito da Mulher. Liderança jovem da Geração Z, impulsiona inovação no mercado imobiliário e na publicidade, unindo estratégia, criatividade e um olhar humanizado para transformar negócios.


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