
*Por Ale Garcia
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deixou de ser uma promessa futurista e passou a fazer parte concreta da operação de empresas em todo o mundo. Mas, ao contrário do que se costuma imaginar, a verdadeira transformação que a IA pode provocar no Brasil não está restrita às grandes corporações ou ao universo das startups bilionárias. Ela está onde ainda não chegou com força total: nas microempresas, que compõem a base da economia brasileira.
Segundo dados do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, em 2024 foram abertas 4,25 milhões de empresas no Brasil, incluindo microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte. Deste total, 22,9% (974 mil) eram microempresas e 4,4% (190 mil) eram empresas de pequeno porte. Já levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revela que, dos cerca de 1,7 milhões de empregos gerados no Brasil no ano passado, aproximadamente 70% vieram das micro e pequenas empresas.
Essas empresas são protagonistas no cotidiano econômico e social, mas enfrentam desafios profundos de gestão. Em áreas como recrutamento, folha de pagamento, desempenho de equipes e retenção de talentos, a maioria dessas empresas atua com recursos limitados, equipes enxutas e, muitas vezes, sem qualquer estrutura formal de Recursos Humanos.
É comum que o próprio dono da empresa acumule funções de gestor, recrutador e líder operacional. Nesse cenário, o uso de inteligência artificial pode representar um divisor de águas: em vez de plataformas complexas, cheias de integrações pensadas para grandes corporações, o que faz a diferença para os pequenos negócios é uma solução simples, intuitiva e acessível. É aí que entra o WhatsApp. Ao incorporar a IA diretamente nesse canal de comunicação tão presente no dia a dia dos brasileiros, torna-se possível oferecer uma experiência conversacional, interativa e natural.
Desse modo, o microempresário não precisa aprender a usar uma nova ferramenta: ele apenas continua a conversar, agora com o apoio da tecnologia, que agiliza processos como triagem de currículos, agendamento de entrevistas e até a gestão de tarefas, tudo de forma fluida e prática.
São ferramentas que utilizam IA em canais conversacionais, oferecendo recursos de recrutamento e seleção diretamente por mensagem. Essas soluções podem ser capazes de organizar currículos, sugerir melhorias nas descrições de vagas, automatizar triagens iniciais com base em critérios técnicos e comportamentais e oferecer ao empreendedor uma lista de candidatos mais aderente às necessidades do cargo. Tudo isso sem necessidade de instalação de softwares, integração com sistemas complexos ou conhecimento técnico avançado.
A proposta não é substituir o julgamento humano, mas ampliar sua capacidade de decisão. Em vez de passar horas filtrando currículos, o dono da microempresa pode dedicar seu tempo ao que realmente importa: desenvolver o negócio, liderar a equipe e cuidar dos clientes. A IA funciona como um assistente inteligente, que simplifica o operacional e oferece dados e análises que antes eram inacessíveis.
Isso tem impacto direto no caixa das empresas. Uma contratação errada, além de frustrar expectativas, custa caro. De acordo com o CAGED, o Brasil lidera rankings de rotatividade, com uma média anual de mais de 52% de turnover. Para uma empresa de apenas 20 colaboradores, esse índice pode representar uma perda de até 65 mil reais ao ano, considerando custos com demissão, contratação, treinamento e tempo improdutivo.
Mais do que automatizar tarefas, a inteligência artificial tem o potencial de democratizar o acesso à gestão de pessoas de qualidade. Ao oferecer soluções no canal certo, com a linguagem certa, conseguimos tirar das costas do pequeno empreendedor o peso das tarefas operacionais, sem abrir mão da personalização. A IA, nesse contexto, não é uma ameaça: é uma alavanca.
Para que isso se torne realidade em escala, é preciso que o ecossistema de tecnologia olhe com mais atenção para as microempresas. São elas que sustentam a maior parte dos empregos no Brasil e que têm menos acesso a ferramentas de gestão. Se queremos um país mais competitivo, é urgente tornar a IA acessível, simples e verdadeiramente útil. Não como algo que complica, mas como algo que resolve. Na ponta, no dia a dia, no celular do dono do negócio.
A IA já é real. Falta agora torná-la relevante para quem mais precisa dela.
*Ale Garcia é cofundador e co-CEO da Sólides
Aproveite e junte-se ao nosso canal no WhatsApp para receber conteúdos exclusivos em primeira mão. Clique aqui para participar. Startupi | Jornalismo para quem lidera inovação!
0 comentário