Outro dia, ouvi que “todo mundo quer alguém pra chamar de seu”. Era pra soar romântico. Soou como posse. Essa ideia de que amar é se entregar, se submeter, se fechar parece natural hoje. Mas não é. É construção. É um controle disfarçado de afeto.

A monogamia, como conhecemos, não nasceu do amor. Nasceu da necessidade de garantir herança. Homens começaram a acumular bens, terras e filhos. E, para ter certeza de que os filhos eram deles, decidiram controlar o único território que não dominavam: o corpo da mulher.

Engels escreveu sobre isso lá atrás, quando apontou a origem do casamento como parte do surgimento da propriedade privada. Silvia Federici aprofundou ainda mais, mostrando como o capitalismo só se consolidou depois de destruir a autonomia feminina.

A mulher precisava ser domesticada. Para isso, foi arrancada da floresta, das ervas, da escolha. E colocada dentro de um contrato. O casamento virou ferramenta. A fidelidade, obrigação. O desejo, culpa.

Mas nem todas aceitaram a coleira. Nos mitos esses refúgios onde a memória resiste. Artemis e Hécate seguiram livres. Artemis, que caçava sozinha e caminhava ao lado de outras mulheres, recusava alianças e submissões. Hécate, senhora das encruzilhadas, escolhia os caminhos na escuridão: não os laços que apertam, mas os que libertam.

Enquanto arrancavam da vida real a autonomia das mulheres, essas figuras permaneciam como faíscas de um tempo em que ser livre não era exceção. Era origem. Hoje, quando falamos em liberdade afetiva, ainda ouvimos que “é fase”. Quando dizemos que não queremos ser de ninguém, nos chamam de frias, perdidas ou promíscuas.

Mas a verdade é que estamos apenas tentando lembrar. Que antes de nos ensinarem a amar como quem entrega a chave de casa, a gente corria com lobas, com flechas, com fúria. Amar, sim. Mas não nos moldes que nos ferem. Estar com alguém, sim. Mas sem desaparecer na história do outro. Porque liberdade não é o oposto do amor. É o que torna ele possível.

*Ana Carolina Gozzi é co-CEO do Compre & Alugue Agora e fundadora da Artêmia Co. Advogada pela FAAP, especializou-se em Marketing Digital, Branding e Gestão de Pessoas, com pós-graduações em Diversidade & Inclusão e Direito da Mulher. Liderança jovem da Geração Z, impulsiona inovação no mercado imobiliário e na publicidade, unindo estratégia, criatividade e um olhar humanizado para transformar negócios.


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