Os médicos estão relatando uma onda de pacientes com problemas respiratórios graves. O governo de Nova Déli fechou todas as escolas primárias duas vezes este mês por causa da poluição na região da capital, onde vivem mais de 46 milhões de pessoas.

Mas, apesar do ar terrível que pode estar causando danos cerebrais em crianças, algumas autoridades do governo central não reconhecem o problema, que persiste há anos na Índia, ou minimizam sua gravidade.

Em um dia especialmente poluído, quando os níveis de PM2.5, material particulado minúsculo ligado ao câncer, subiram para cerca de 60 vezes o limite de segurança em partes da capital, Harsh Vardhan, ministro da Saúde da Índia, recomendou o consumo de cenoura para combater quaisquer efeitos nocivos. Outro legislador criticou aqueles que tentaram impedir os agricultores de queimar suas colheitas e, em vez disso, sugeriu orar ao deus hindu da chuva em busca de alívio.

Até agora neste mês, o primeiro-ministro Narendra Modi se absteve de comentar publicamente sobre a poluição do ar. Ele recentemente criou um painel para analisar a situação, mas uma reunião parlamentar de alto nível sobre a poluição foi cancelada porque quase ninguém apareceu, de acordo com as agências de notícias indianas.

“As pessoas estão morrendo, e isso não pode acontecer em um país civilizado”, disseram este mês alguns juízes da Suprema Corte sobre a poluição. “Não vamos tolerar isso. Não estamos levando as coisas a sério.”

Sem soluções iminentes, alguns indianos tomam atitudes – com soluções como o bar de oxigênio.

À medida que os ventos diminuem durante os meses de inverno e os agricultores queimam as culturas para dar espaço a uma nova colheita, o ar poluído se instala sobre as cidades da Índia, misturando-se com poeira de construção, emissões de usinas de energia e fumaça de fogos de artifício que celebram os festivais.

Muitos indianos já não acreditam mais que o governo vá tomar medidas mais duras para limpar o ar, ignorando o perigo.

Sem mensagens públicas consistentes e fortes, as máscaras de poluição ainda são raras na Índia e quem as usa às vezes é ridicularizado. Este mês, as pessoas vieram para o Rio Yamuna, que é basicamente esgoto não tratado, para lavar utensílios e fazer selfies com icebergs de espuma que se formam com resíduos industriais.

Embora o governo tenha fechado as escolas duas vezes, uma organização sem fins lucrativos patrocinou uma corrida ao ar livre para crianças. Centenas de pessoas participaram, e banners do evento traziam o logotipo da estatal indiana Life Insurance Corp.

Durante alguns dias de novembro, autoridades de Nova Déli tentaram diminuir a poluição restringindo o uso de veículos particulares em dias alternados, permitindo que apenas carros com placas ímpares trafegassem nos dias ímpares, e carros com placas pares, nos dias pares.

Mas esforços como esse parecem ter um efeito mínimo na melhoria do ar, que permaneceu “grave” em toda a capital na semana passada, de acordo com dados do Comitê de Controle de Poluição de Déli.

Para os indianos preocupados com a poluição, as opções basicamente se restringem a comprar purificadores, a tampar brechas em casa com cobertores e toalhas ou a sair de vez das cidades tóxicas. Os residentes mais pobres do país não têm escolha a não ser dormir no meio da fumaça.

Na Oxy Pure, que fica no Select Citywalk, shopping sofisticado em Nova Déli, os clientes pagam de US$ 4 a US$ 6 por 15 minutos de oxigênio, que recebem através de uma cânula nasal. Eles podem escolher entre sete aromas – incluindo eucalipto, hortelã-pimenta e canela. O Oxy Pure introduziu um “especial de poluição”: cinco sessões pelo preço de quatro.

O proprietário, Aryavir Kumar, que trabalhava anteriormente com hotelaria, disse que ainda não teve lucro com o negócio, aberto em maio. Mas planeja abrir locais no aeroporto da capital e nas cidades de Mumbai e Bangalore.

“Os clientes dizem: ‘Agora temos de comprar ar fresco?’”, disse ele em uma entrevista. “Respondo: ‘Você também não paga por uma garrafa de água potável, algo que não fazia há 20 anos?’”

Em uma manhã recente, o executivo Vikram Aiyer, de 25 anos, entrou na pequena loja, decorada com um jardim do chão ao teto, fontes de água e uma réplica de uma pintura de Vincent Van Gogh, antes de ir trabalhar.

Ele escolheu o cheiro de eucalipto e um atendente em um avental branco equipou suas narinas com tubos ligados a um béquer contendo um líquido verde. Aiyer se sentou em uma cadeira de couro e respirou fundo.

“O oxigênio não adulterado melhora minha moral nesta cidade”, disse ele, fechando os olhos e expirando.

* Por Suhasini Raj e Kai Schultz, para Exame.com

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