Competir ou colaborar? Entenda de que maneira as seguradoras e insurtechs podem encontrar caminhos para trabalharem juntas em uma indústria em plena disrupção. 

O universo de seguros tem mudado cada vez mais rápido. A disrupção segue acelerada, o volume de pessoas atendendo a conferências da área vem aumentando exponencialmente e o termo “insurtech” se tornou a palavra do momento. Tenho convivido com essas tendências há uma década. Primeiro, investindo diretamente em seguradoras, por meio do fundo de private equity Warburg Pincus, de US$ 15 bilhões, e, agora, liderando uma das maiores insurtechs do Brasil, a Pitzi.

Por isso mesmo, achei que seria interessante deixar a agenda de lado por uns 15 minutinhos para entender os caminhos desse novo mundo louco e como seguradoras e insurtechs farão para conviver nessa indústria. Acredito que as parcerias que fizemos recentemente com cinco das seguradoras com maior presença no país podem ajudar a explicar esse cenário.

Um exemplo rápido: sabe o que mais me surpreendeu na construção dessas parcerias? O quão ágeis as seguradoras podem ser quando querem. Quando fechamos um dos nossos primeiros programas com uma multinacional do setor, saímos da fase de acordo comercial para o projeto completo, 100% no ar, em menos de um mês. E isso durante os feriados de final de ano!

Outra grata surpresa é a profunda experiência dos profissionais do ramo. É bastante comum que as pessoas sejam promovidas diversas vezes dentro das seguradoras, e o resultado disso é que muitas ficam no setor por quase toda sua carreira. Isso cria um modelo semelhante ao de apprenticeship, no qual o profissional se aprimora continuamente naquele assunto. Vale notar, no entanto, que isso também pode acabar limitando um pouco a diversidade de ideias nesse mercado.

Diferenças naturais

Ao contrário de muitos, gosto de pensar que tanto seguradoras quanto insurtechs têm o mesmo objetivo: criar produtos incríveis que sejam sustentáveis e solucionem problemas importantes para os consumidores. Isso não impede, claro, que as duas tenham suas diferenças.

Uma delas é que ambas tendem a recrutar pessoas de grupos bem distintos para suas fileiras. Tipicamente, quem se candidata a vagas nas seguradoras restringe sua busca apenas a cargos funcionais nessas empresas ou, ocasionalmente, em bancos e programas de trainee. Ou seja, as seguradoras praticamente competem entre si pelo mesmo pool de talentos.

Por outro lado, durante nosso recrutamento, vemos que o candidato geralmente está escolhendo entre nós e scale-ups como Nubank, QuintoAndar e Stone – entre outras. Com isso, de uma certa maneira, o mix de habilidades e experiências que as insurtechs têm é consideravelmente diferente do que se encontra nas grandes empresas.

Quando colocamos a inovação no radar, a verdade é que as seguradoras são tão animadas e obcecadas pelo tema quanto as scale-ups, particularmente em níveis mais seniores. O motivo pelo qual as insurtechs conseguem agir mais rapidamente nesse sentido é que elas estão menos limitadas pelo legado.

Legado? Sim, legado.

Há um certo “achismo” que diz que as grandes empresas são mais lentas, com menos fome de inovar e sem muita motivação. Afinal, elas são as incumbentes. O mercado esquece, porém, que elas foram pequenas um dia e que não chegaram ao seu tamanho atual sem ter excelência na maioria das competências críticas exigidas pelo setor – incluindo inovação.

As pessoas também parecem não entender que o próprio ato de crescer cria um legado que, apesar de ser necessário em um primeiro momento, torna-se um fator limitante com o passar do tempo. Isso fica claro, por exemplo, quando se observa itens como tecnologia e organização de dados. Não é raro que empresas que começaram na década de 1970 ou 1980, e agora são enormes, ainda usem tecnologias originais dessas épocas – a não ser que tenham feito um esforço específico para reformular essa estrutura.

Acredite, pode ser bem difícil justificar o ROI de reescrever toda a sua tecnologia. Como isso não tem um efeito direto e óbvio para o negócio (como “redução de custo em X”), é complicado subir a tarefa na fila de prioridades do time de TI. Assim, diversas empresas grandes e bem-sucedidas acabam encontrando uma camada extra de lentidão quando querem implementar algo novo ou extrair dados de maneira não usual.

Insurtechs agem de forma diferente. Usando a Pitzi como exemplo, construímos a nossa tecnologia do zero, pensando no problema específico que estamos solucionando: enviar um celular rapidamente quando alguém tiver algum imprevisto. Assim, se eu quisesse ver o unit economics de um Moto X vendido pelas lojas TIM no Ceará e segurado pela Sura, conseguiria olhar isso agora mesmo, na tela do meu celular. Para uma seguradora, fazer essa análise exigiria uma requisição específica de relatório e levaria dias, no mínimo, para ficar pronto.

O elefante na sala

Outro legado problemático (mas inevitável) em grandes organizações é o processo. Processos tendem a ser criados após algum erro ter acontecido dentro da empresa e são implementados para evitar que ele ocorra novamente. Novo erro, novo processo. E por aí vai. O problema é que eles não têm data de validade, e é mais fácil criar um processo novo do que matar um antigo. Com isso, o número de processos numa empresa está diretamente relacionado ao seu tempo de vida e faz com que decisões e ações levem mais tempo para serem realizadas nas grandes companhias do que nas scale-ups, que não compartilham essa “bagagem”.

Por um lado, isso significa que as scale-ups vão errar mais. Por outro, permite que elas consigam experimentar e aprender com ciclos bem mais curtos – um ingrediente essencial para qualquer receita de inovação.

E essa é só a ponta do iceberg. Em um grande negócio, há outros “desaceleradores” similares por todo canto. Por isso, passo muito tempo refletindo sobre o assunto, tentando prevenir os desafios do legado o mais rápido possível e garantindo que consigamos acelerar, em vez de ficarmos mais lentos, conforme ganhamos escala.

Então, sim, acredito que existem algumas restrições estruturais que tornam difícil para as seguradoras competir com insurtechs em quesitos como velocidade e inovação. Porém, justamente por isso, é natural que ambas tenham muito a ganhar com parcerias. Afinal, as seguradoras podem se aproveitar da agilidade das insurtechs ao mesmo tempo em que as insurtechs podem se beneficiar da escala, expertise e do capital das seguradoras.

O post Insurtechs e seguradoras: um relacionamento promissor aparece em Endeavor.

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