*Por Wendell Toledo

Uma viagem ao Vale do Silício é realmente uma jornada, iniciada pelas horas dentro de um avião, ou melhor, dois aviões. No entanto, isso não deve tirar o ânimo de quem vem visitar a região em busca de viver o ecossistema e cultura de inovação.

E é justamente em função desse ecossistema, que tem como alguns dos pilares as 15.000 Startups, instituições de ensino renomadas, como a Berkeley, aceleradoras e venture capitalists espalhadas na chamada Bay Area, entre São Francisco e San Jose, onde estou. Durante os próximos 14 dias, compartilharei minhas experiências e percepções desse cenário, casa das maiores e mais inovadoras empresas do mundo.

O mindset e a cultura do “Vale” são realmente muito peculiares e não creio que possa ser replicado, mas muitos insights estão sendo utilizados em todos os lugares, servindo como inspiração para startups de todos os cantos do mundo. Além disso, mais recentemente, empresas tradicionais de diversos setores, que incorporam ou tentam agregar métodos ágeis de gestão e processos mais horizontais.

A região vive a cultura do empreendedorismo desde a corrida pelo ouro de 1849. Isso gerou a primeira marca global nascida na região, a Levi Strauss & Co, famosa pelas tradicionais calças jeans Levi’s®. Em seguida, a comercialização de semicondutores de silício atraiu pessoas do mundo inteiro para o local. Reconhecida como lugar de oportunidades e diversidade a cidade já nasceu global e atualmente possui uma população 50% de imigrantes..

O Vale do Silício é diferente da Costa Leste. Os venture capitalists que investem na área, por exemplo, consideram em seus investimentos uma taxa de sucesso e insucesso. De acordo com os aprendizados desses primeiros dias, 90% das Startups morrem. Sobre isso, o que dizem é que a maioria acaba por problemas com o product market fit. Ou seja, muitas vezes aquele produto não é de fato necessário ou não resolve bem um problema, ou ainda, talvez o problema que deveria ser solucionado por ele nem era tão grande assim.

Aqui há valor, mas não tem luxo. São Francisco é uma cidade multicultural e também bem informal. Os profissionais e as pessoas, em geral, estão mais interessadas no que você é e fez ou está fazendo, do que no que você possui. Não se vê ostentação, carros de luxo, mansões e festas de arromba, mesmo havendo uma grande concentração de milionários e bilionários.

Aqui em São Francisco, o governo possui o papel claro de criar um ambiente favorável ao empreendedorismo. Cria-se uma empresa em apenas 1 hora em um processo online. Abre-se uma conta bancária da mesma maneira.

Em 2016, uma empresa recebeu uma licença do governo para operar patinetes com isenção de impostos para testes, durante 4 meses. Após consulta pública, a população se mostrou contra o uso, pois como venta muito, os patinetes eram colocados em qualquer lugar após o término da viagem e caiam todos pelas calçadas, dificultando o trajeto dos pedestres.

Outro fator são as famosas e imensas ladeiras de São Francisco, que tornam a utilização desse transporte quase ineficiente. O Airbnb, nascido por aqui, também tinha isenção de impostos no início da operação – o que conta muito na região mais cara dos Estado Unidos.

Uma onda de empresas que está surgindo e que ainda não se discute muito no Brasil são as Digital Native Vertical Brands. Basicamente são marcas de produtos físicos, hand-made ou slow-fashion, de alto valor agregado, em setores de beleza, design e moda. Neste modelo, a experiência do cliente é o fator mais importante para a entrega de valor. Marcas e produtos são construídas com base na forma de consumo dos nativos digitais.

O impacto social que uma startup pode causar é muito grande e aqui é sempre colocado como premissa no desenvolvimento de um produto ou serviço.

A mentalidade para soluções obsoletas tem sido mais questionador, com perguntas do tipo “como nós podemos destruir isso que não funciona mais e criar algo novo, do zero” do que “como nós podemos melhor isso”, que remete ao mindset tradicional. Nem todos estão preparados para essa mudança e a conclusão que tenho ouvido de quem está no “Vale” a bastante tempo é que um mix entre os dois modelos é o mais próximo do ideal.

Nos próximos dias, darei continuidade a minha imersão no Vale, participando de palestras e conhecendo as principais atrações da região. Em breve, trarei mais novidades desse incrível universo para os leitores do Startupi.

*Wendell Toledo é Fundador da Artluv, plataforma que conecta artistas a clientes. Wendell iniciou sua carreira no mundo da arte aos 15 anos, desenhando storyboard para um filme do Mojica. CEO da Blachere Iluminação Brasil, Toledo é formado em desenho industrial pela ESPM e Administração Financeira pela FGV, além de ter cursos pelo ITS Rio, Massachusetts Institute of Technology e pela Harvard Business School.

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