“Se você faz projetos para um ano, plante arroz; Se você faz projetos para dez anos, plante uma árvore; Se você faz projetos para cem anos, eduque seus filhos; Se você faz projetos para mil anos, cultive a vida interior.” (Provérbio Chinês)

A China e sua cultura milenar, seus provérbios e sua simbologia, seus mistérios e lendas, suas cores e danças, sua culinária exótica e sua presença mundial, por si só já são um “continente desconhecido” para a maioria dos reles mortais, ainda mais nós sul-americanos. A sua distância e seu regime político nos despertam uma sensação de distância inalcançável e de um lugar para se saber que existe, mas não se conhecer ou
viver. Eu resolvi visitar a China com dois propósitos muito claros: um 100% objetivo e outro 100% inspiracional. No lado objetivo a ideia era conhecer fornecedores, parceiros comerciais, estreitar in loco uma relação que já existe há algum tempo, mas algumas vezes intermediada e nunca com o nosso contato pessoal. A visita inspiracional estava por conta de entender o Crescimento Chinês, conhecer o mindset de um país que, mesmo sendo a maior população do mundo e a segunda maior economia global, cresce como se fosse uma startup.

Para minha sorte e felicidade, realizei uma das melhores Missões da minha vida e nos dois objetivos volto cheio de perspectivas, insights, ensinamentos, aprendizagem e acima de tudo uma sensação de que realmente depois do fim do mundo, tem mundo pra caramba!

Sem nenhuma pretensão de me posicionar como historiador ou mega conhecedor da evolução social e geoeconômica da China, mas com a intenção de contextualizar, para poder entrelaçar as minhas percepções sobre o que vi e senti no país que acabo de visitar, quero registrar três pontos:

1. A sociedade chinesa é sem duvida alguma a mais antiga e maior nação organizada em vigor nos dias de hoje. Sua organização política e social, com o mesmo nome, continuidade governamental, padrões de medida, moeda e
língua, têm mais de 2.200 anos, nos moldes de que se apresenta hoje, desde 221 a.c., desconsiderando totalmente os períodos pré-unificação;

2. O nome original do país é Zhõngguó, que no chinês simples significa País do Meio. Isso mostra dois sinais: um de identidade e unificação cultural, e o outro e mais relevante para o nosso tema, a visão da nação chinesa sobre seu posicionamento e oportunidades comerciais. Se você olhar o mapa-múndi, pelo menos a maioria dos disponíveis, verá a China como centro do mundo.

3. Ao longo dos seus mais de 2.200 anos o país passou por inúmeras adversidades, guerras com países vizinhos, a Guerra do Ópio, guerras internas, inclusive sendo uma liderada por um camponês que se denominava filho de Deus e irmão de Jesus Cristo, e que levou a morte de mais de 20 milhões de chineses (mais que o numero total de mortos da Primeira Guerra Mundial), centenas de “grandes fomes” que dizimaram milhões de vidas, o fim do Império e início da República (1911), a Guerra Sino-Japonesa, culminando com a Revolução Civil Chinesa, (1949), quando o Partido Comunista, liderado por Mao Tse Tsung, toma o controle e funda a República Popular da China, que nós chamamos de China Comunista.

Trazendo esses três itens para o nosso contexto, a China tem track record. Sua população, os chineses, por hereditariedade carregam dentro de si a experiência de terem vivido a muitas crises, de manterem sua cultura, de serem humildes, de trabalharem duro e de visão de futuro, usando estrategicamente sua posição geográfica no meio
do mundo.

Se você teve a oportunidade de ler o best-seller Organizações Exponenciais, do Salim Ismail, e se apaixonou por
ele, conseguiu amarrar todos os links com as suas visitas ao Vale do Silício ou a Israel, mas ainda não foi na China, só posso te afirmar uma coisa: vá e entenda nas ruas o que é Crescimento Exponencial. Até porque na China a amostragem por si só já é exponencial. São 1,4 bilhão de habitantes, então qualquer beta test com 1% da população é o equivalente a quase a soma das populações das cidades de São Paulo (12,2 milhões), Guarulhos (1,4 milhão) e Campinas (1,2 milhões).

Essa megapopulação, com uma cultura de sobrevivência e track-record de fome, aliadas à competitividade e escassez de recursos dá ao empreendedor chinês uma velocidade totalmente diferente do que estamos acostumados a ver, estudar e acompanhar na maioria das companhias do nosso hemisfério. Em algum dos seus mais de 9 milhões de quilômetros quadrados de extensão, nesse exato momento, vai ter algum chinês trabalhando para desenvolver algum algoritmo mais eficiente que os do Alibaba, Tencent e Huawei. E para que ele entre em demo, precisa suportar muito.

Mas isso vai além das salas dos programadores ou das empresas de tecnologia. Está embrenhado no DNA do chinês. Nós visitamos algumas empresas procurando produtos ou desenvolvendo novos fornecedores e, sem exagerar,
encontramos em empresas dos mais diferentes portes, um chinês muito ativo.

Para o chinês, não existe sábado, domingo, feriado, horário do almoço ou fim do expediente. Ele e toda a sua organização, falando de empresas, querem fazer negócios. Visitamos empresas no domingo, tivemos reuniões às 10h da noite, abrimos uma RFQ num site de serviços de compras B2B online em um sábado e até o domingo de manhã tínhamos 39 propostas.

O chinês é tech, conectado, te rastreia no LinkedIn, no Facebook, no Instagram, no Whatsapp (usando redes de VPN), no WeChat, em qualquer lugar. Faz café-da-manha, almoço, jantar, happy-hour, late happyhour, almoço de domingo, para fazer negócios. Sua visão de negócios é global, ele enxerga os clientes overseas em qualquer
ramo de atuação, aprendem novos idiomas em dois ou três meses, estudando intensivamente via internet para serem mais competitivos.

Seu potencial de produção comparado aos outros países do mundo é no mínimo uma dezena de vezes maior.

Com uma população gigante e com a economia pulsando há anos, a China investiu na educação, então tem um conjunto muito interessante de jovens cada vez mais capacitados e de uma população mais simples, gigantesca, e sem capacitação acadêmica-escolar, que abastece suas fábricas de mão-de-obra muito barata. Sua legislação e seu regime de trabalho, sem burocracia ou leis protecionistas, faz do país um competidor sem igual. O operário chinês trabalha e ganha por dia trabalhado, via transferência eletrônica através do WeChat, ou seja, se tem trabalho ele tem salário, no dia. Se não tem trabalho, a empresa não tem o custo. Pode parecer injusto, mas é, sem discussão alguma, mais competitivo principalmente no mundo globalizado. Apesar de que o problema na fábrica chinesa não é a falta de trabalho, mas sim o excesso dele.

Com esse volume de mão-de-obra disponível, a China se posicionou como a fábrica do mundo, recebendo encomendas globais e com isso mantendo suas indústrias trabalhando de sol a sol, ininterruptamente. Uma das suas maiores cidades é Shenzhen, que há 40 anos não existia e hoje tem mais de 12,5 milhões de habitantes, um PIB de mais de US$ 350 milhões e crescimento no último ano de 7,5%. Essa cidade é a fábrica do mundo e com certeza, onde quer que você viva, todos os dias passam pelas suas mãos dezenas de produtos fabricados em Shenzhen. E se você é daqueles que acha que os produtos da China são falsificações, têm baixa qualidade, são “XingLing”, você precisa se atualizar, precisa entender o que é a nova China.

Nas fábricas, as máquinas são feitas na Alemanha, na Finlândia, no Japão ou em Israel, os melhores fabricantes de máquinas do mundo. As equipes de vendas são formadas por jovens famintos pelo crescimento do pais que estudam com a disciplina oriental e o foco no mercado global, um conjunto vencedor e muito competitivo.

Ao mesmo tempo, o governo Chinês e sua cultura milenar, tem experiência e respeito pelo passado com credibilidade no futuro para juntos planejarmos o desenvolvimento do país. A cidade de Shanghai possui a bolsa de valores mais
valiosa da Ásia e a segunda mais valiosa do mundo. A cidade passou por um processo de repaginação que se iniciou na década de 90 e transformou totalmente a sua imagem e sua percepção pelo mundo.

O governo, vendo as possibilidades de expansão exponencial global dos negócios chineses entendeu que a cidade deveria ter uma imagem que expressasse a sua representatividade e sua posição frente ao mundo, mesmo que naquele momento isso fosse uma visão de futuro. Como a cidade se delimitava as margens do rio Huangpu, o governo resolveu recomeçar a cidade na outra margem do rio, transformando uma área que há 20 anos era uma fazenda improdutiva em um dos skylines mais famosos do mundo, uma Shanghai futurista, pujante e inconfundível.

Para isso, o governo chinês, através de suas instituições financeiras, financiou organizações que quisessem investir na área, mas que além de interesse econômico tivessem projetos arquitetônicos que fossem relevantes para a nova imagem da cidade.

Na China o tradicional convive com o moderno, e eles se relacionam de forma muito harmônica. A arquitetura chinesa é uma das mais modernas da atualidade. Dentre os 10 edifícios mais altos do mundo, 6 estão na China. Mas muitas edificações clássicas chinesas, bairros inteiros, tradicionais, continuam pujantes no meio das cidades. Isso mostra além de uma expressão de crescimento e vanguardismo, respeito às tradições. Outro sinal de que o país quer estar entre os primeiros, e que trabalha duro para produzir tecnologia de ponta para seu crescimento urbano.

Com todo esse conjunto favorável para os negócios B2B e para o desenvolvimento de novas tecnologias, vendendo e produzindo uma infinidade dos mais variados produtos para o mundo, a China criou, também de forma exponencial, um número expressivo de homens de negócios que com a expansão global de suas vendas têm se tornado empresários bem sucedidos e ansiosos pelo consumo de bens de luxo e alto valor.

A China é o maior consumidor do mundo das marcas de luxo no segmento fashion, lá são vendidos o maior volume de automóveis de luxo e quase que exclusivos. Marcas como Rolls Royce, Benthley, Masserati, Ferrari, Porsche, Tesla, dentre tantas, hoje tem na China o seu maior mercado. O mesmo aconteceu com o mercado de vinhos de alto valor, onde mais de 70% da safra mundial é comercializada para a China.

Em um outro lado, também estão os trabalhadores dessa indústria que com todo esse crescimento e globalização passaram a valer mais, e se transformaram numa multidão de clientes dos mais variados níveis. Todos passaram a consumir mais, e com isso foi acelerado um mercado interno tão favorável quanto o externo, levando o país para um consumo desenfreado, resultado de uma demanda crescente por goods produzidos na China ou em qualquer outra parte do globo. Quando você anda nas ruas das cidades chinesas você sempre vai se deparar com uma multidão de consumidores ávidos por comprar os mais variados produtos, dos mais variados níveis, fazendo da China um dos maiores mercados do mundo.

A tecnologia faz do país uma nação ágil e desenvolvida, o seu e-commerce vende em único dia promocional mais do que todo o e-commerce do Brasil em um ano. Seus meios de pagamento são os mais ágeis do mundo, utilizando desde aproximação de devices até transferências de moeda via apps de mensagem, como WeChat, TenPay, AliPay.
Nas grandes cidades, você compra qualquer coisa pela internet e a maioria com entrega em menos de uma hora.

O transporte público tem uma cobertura invejável para qualquer cidade brasileira com uma combinação de aplicativos de compartilhamento, taxis, metros, barcos, ônibus, bondinhos, bicicletas e patinetes, além das “motocicletas” eletrônicas, que levam você para qualquer lugar, do jeito que você quiser. Um país com uma logística real, física e digital, que atende a sua taxa de crescimento. Um país admirável, e para nós sul-americanos que consideramos a China o fim do mundo, vale confirmar que lá tem mundo pra caramba!

O post O crescimento exponencial e a China aparece em Endeavor.

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