*Por Adelmo Nunes

Em uma reunião entre jovens empreendedores, donos de uma startup recém-lançada, e investidores-anjo uma das primeiras perguntas será: quanto vale sua empresa?
A resposta não é simples. Principalmente porque, para essa modalidade de negócio, não existem parâmetros convencionais para o cálculo do valuation: não há receita, ativos ou registros de longo prazo.

É claro que um dos lados do balcão vai ditar preços mais altos e os anjos tendem a valorar para baixo, como uma estratégia para ficar com uma porcentagem considerável por um preço comedido. Mas o fator determinante para o valuation das recém-nascidas é o mercado. Quantas empresas do mesmo segmento estão sadias e gerando lucros? Quantas fecharam? Como está a demanda por produtos ou serviços oferecidos pela startup? E sim: qual é o nível de ansiedade do empreendedor para receber o aporte? Além disso, atuar em um segmento aquecido, por exemplo, com claras expectativas de crescimento, pode catapultar o valor para cima.

Justamente por não poder contar com um método tradicional de avaliação, encontramos caminhos distintos para o cálculo do valor de uma startup. Existe uma máxima, recorrente entre os consultores, sobre o valuation de uma startup ser mais uma arte do que uma ciência. Vamos conhecer alguns meios, que podem tornar o processo um pouco mais científico.

Custo de duplicação

Essa abordagem envolve calcular quanto custaria para construir, do zero, outra empresa, igual àquela que existe. Isso porque um investidor não desembolsaria mais do que esse valor. O custo para duplicar uma companhia de software, por exemplo, pode ser calculado pelo valor total do tempo de programação gasto na criação desse ativo, que envolve pesquisa, proteção de patentes e desenvolvimento de protótipos.

O grande problema com essa abordagem é que ela não reflete o potencial futuro da empresa na geração de vendas, lucros e retorno do investimento. Além disso, a abordagem de custo para duplicar não captura ativos intangíveis, como o valor da marca, que o empreendimento pode possuir mesmo em um estágio inicial.
Por esses motivos, o método é conhecido por subestimar o valor do empreendimento porque a infraestrutura física e o equipamento da empresa podem ser apenas um pequeno componente do patrimônio líquido real, quando os relacionamentos e o capital intelectual formam a base.

Mercado Múltiplo

No caso de inexistirem dados confiáveis de avaliação, em função do estágio da startup, pode-se adotar o método de Múltiplos. Utiliza-se como parâmetro outras negociações em ambiente similar, estabelecendo-se múltiplos em função das diferentes condições e características do negócio em avaliação. O desafio aqui é tornar objetivo algo subjetivo. Estabelecer o multiplicador a partir de referência de outras operações exigirá grande capacidade de quem vende e também grande capacidade de interpretação de quem compra. Enfim, um grande desafio.

Fluxo de Caixa Descontado (FCD)

Para a maioria das empresas – especialmente aquelas que ainda não começaram a gerar receita – a maior parte de seu valor está no potencial futuro. A análise de Fluxo de Caixa Descontado representa uma importante abordagem de avaliação. O FCD envolve a previsão do fluxo de caixa, usando uma taxa esperada de retorno do investimento. Uma taxa de desconto mais alta é normalmente aplicada a startups, pois há um alto risco de que ela não gere fluxos sustentáveis.

Para ser eficaz, porém, esse método dependerá da capacidade do analista de prever as condições futuras do mercado e fazer boas suposições sobre as taxas de crescimento de longo prazo. Em muitos casos, projetar vendas e ganhos além de alguns anos se torna um jogo de adivinhação.

Avaliação por estágio

Essa abordagem é frequentemente usada por investidores-anjos e empresas de capital de risco para criar um valuation aproximado. Esses valores, geralmente, são estabelecidos pelos investidores, dependendo do estágio de desenvolvimento comercial do empreendimento. Quanto mais a companhia progrediu ao longo do tempo, menor o risco que oferece e maior o seu valor.

Por esse método, startups que não têm nada além de um plano de negócios provavelmente obterão as avaliações mais baixas. Já quando a companhia consegue cumprir os marcos de desenvolvimento, os investidores estarão dispostos a atribuir um valor maior.


*Adelmo Nunes, contabilista, é diretor da Planned Soluções Empresariais.

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