* Por Exame.com 

A startup francesa BlaBlaCar vê no mercado brasileiro o maior crescimento de seu aplicativo para dar e receber caronas. O negócio apostará ainda mais no país, agora em um segmento cheio de concorrentes nacionais: a ocupação de assentos vazios em ônibus rodoviários.

Até o final deste ano, a startup fará parcerias com companhias de ônibus de longa distância para ofertar assentos no aplicativo em troca de uma comissão. É um primeiro passo para a monetização da BlaBlaCar em terras brasileiras — mas cheio de concorrentes nacionais.

O negócio espera superá-los por meio da sinergia com sua área de caronas, a pleno vapor. “As pessoas diziam que era um negócio que só funcionaria na Europa. Mas estamos crescendo por aqui e precisamos manter esse padrão para gerar um bem ao meio ambiente e à sociedade”, afirmou Julien Lafouge, consultor francês que se uniu à BlaBlaCar para gerenciar a operação na América Latina e hoje é diretor financeiro global da startup de caronas.

Crescimento pelas caronas

Criada em 2006, a BlaBlaCar é especializada em mediar caronas por meio de seu aplicativo. Motoristas colocam sua origem e destino e usuários interessados na rota manifestam seu interesse, ajudando a diluir os custos da viagem.

Diferente de aplicativos como 99, Cabify e Uber, o motorista define seu trajeto. O objetivo não é obter renda extra realizando viagens a outros, mas economizar na própria e trazer mais eficiência ambiental e financeira. Segundo a empresa, 86% dos usuários afirmam economizar com a BlaBlaCar. A startup de caronas já poupou a emissão de 1,6 milhão de toneladas de gás carbônico.

Globalmente, o negócio conta com 80 milhões de usuários. A startup é um unicórnio (valor de mercado de um bilhão de dólares ou mais), avaliada em cerca de 1,6 bilhão de euros. A empresa chegou a terras brasileiras em novembro de 2015. Hoje, o Brasil é o mercado que mais cresce para a BlaBlaCar dentre os 22 países atendidos. São cinco milhões de usuários brasileiros e a startup espera triplicar a base até 2022. Apenas em junho, a BlaBlaCar mediou cerca de 600 mil assentos ocupados por aqui, motoristas ou passageiros — um resultado anualizado de 7 milhões de viajantes.

O Brasil tem cerca de 208 milhões de habitantes e 50 milhões de automóveis, o que indica que ainda é possível atingir uma penetração maior no mercado nacional. “Vemos muita oportunidade. Além de extenso — só o estado de São Paulo tem o tamanho de um país europeu —, o Brasil tem muita dependência de rodovias e carros são caros”, afirmou Lafouge.

Um terço dos viajantes possui 35 anos ou mais e seu objetivo principal é ver amigos e família, com viagens de sexta-feira a domingo. Os trajetos complementam outros modais: um usuário costuma viajar de BlaBlaCar até uma estação de ônibus ou metrô.

Por isso, a BlaBlaCar focará seus esforços neste ano em cidades menores, com pouca oferta de transporte intermunicipal. Depois desse crescimento, virá a tentativa de rentabilidade em terras brasileiras. Em 2020, a empresa começará a estudar um modelo de cobrança de comissão do passageiro, enquanto o motorista recebe o mesmo valor de antes. A comissão já funciona em 60% do volume de negócios da BlaBlaCar pelo mundo, concentrado principalmente na Europa ocidental.

Em 2018, a startup de caronas obteve equilíbrio entre receitas e despesas — o que ainda não é uma meta para o negócio e talvez não se repita neste ano. “Ainda estamos em uma fase em que queimar caixa é aceitável, já que nosso objetivo é não deixarmos assentos vazios nos automóveis e precisamos crescer para isso. Mas também não podemos tomar qualquer atitude”, diz Lafouge.

Ônibus, da França ao Brasil

No final do ano passado, a BlaBlaCar recebeu 101€ milhões  (cerca de  R$430 milhões) em uma rodada de aportes e adquiriu a empresa de ônibus francesa Ouibus, que operava em 300 cidades europeias e acumulava 12 milhões de passageiros transportados na época. Com essa compra, a startup repaginou os ônibus nos últimos meses, chamada BlaBlaBus. O objetivo é oferecer viagens a partir de cinco euros por países europeus, de Portugal à Suíça.

No Brasil, a empresa adotará um modelo diferente para entrar em viagens rodoviárias até o final deste ano: parceria com empresas de ônibus. O maior gargalo da BlaBlaCar no país não está na quantidade de passageiros, e sim na de motoristas. Procurando mais oferta de assentos, a empresa está se associando a companhias de ônibus de longa distância para vender passagens em troca de uma comissão.

A decisão por se aliar a terceiros no lugar de criar ônibus próprios veio de um mercado de viagens rodoviárias já desenvolvido, segundo Lafouge. “É um setor com décadas de existência por aqui, enquanto na Europa vivíamos até pouco tempo com carros ou ferrovias”.

O objetivo da BlaBlaCar é trazer mais eficiência tecnológica às companhias brasileiras e oferecer ao passageiro uma alternativa caso queira dormir no trajeto ou levar uma bagagem grande, por exemplo. O CFO acredita que a vertical rodoviária irá estimular o uso das caronas até os pontos de partida dos ônibus, fazendo “todo o bolo crescer”. “Na França, por exemplo, nosso valor agregado está principalmente em levar viajantes do subúrbio até trens ou ônibus terceiros ou nossos. Eles podem combinar trajetos mais longos conosco.”

A BlaBlaCar enfrentará outras startups brasileiras que atuam em digitalizar o transporte rodoviário. Entre elas estão Buser (2017, sem aportes revelados), ClickBus (2013, 10 milhões de dólares em investimentos), DeÔnibus (2012, sem aportes revelados), Guichê Virtual (2013, 50 mil dólares em investimentos) e Quero Passagem (2013, sem aportes externos).

Contra players estabelecidos, a BlaBlaCar apostará em base já cativada de cinco milhões de usuários para fazer a nova vertical crescer junto com a que a trouxe até aqui. Agora, em um segmento que não tem dúvidas de potencial no Brasil.

* Por Mariana Fonseca para Exame.com.

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