* Por Marcelo Noll Barboza

Empreender sempre foi ou é a meta de muito executivos. Na escola de negócios de Harvard onde fiz MBA há vinte anos já havia uma estatística que indicava que parte importante dos ex-alunos se tornavam empreendedores em algum momento da carreira.

Um fator que potencializa esse desejo é o destaque que as startups tem conseguido através de modelos de negócios inovadores. Essa mítica do empreender fica ainda maior em razão do fenômeno “survivors bias”, estatística a qual aponta que os casos de sucesso são muito mais noticiados, o que causa uma impressão distorcida de que a probabilidade de um resultado positivo é maior que a possibilidade real.

No entanto, vale lembrar que ter sucesso como empreendedor é a exceção e não a regra. Uma pesquisa publicada pelo jornal Wall Street Journal aponta que 75% das empresas que recebem investimentos de fundos de venture capital acabam fechando. Ou seja, mesmo que sua startup tenha sucesso em atrair investidores, a probabilidade de sucesso é pequena.

O que pode mitigar um pouco esses riscos é o fato de que executivos seniores normalmente conhecem profundamente um mercado em que decidem atuar, bem como suas ineficiências e oportunidades. Uma pesquisa do governo americano indicou que a probabilidade de sucesso de um empreendedor mais do que dobra quando ele tem experiência no setor de atuação da empresa.

Por outro lado, executivos seniores estão acostumados com a estrutura e os recursos das grandes empresas e, por isso, a adaptação ao cenário enxuto de uma startup pode ser um desafio. É importante considerar o tipo de trabalho que será feito nos primeiros anos da startup.

Executivos têm à disposição assistentes e outros executivos que se reportam a eles. Nesse contexto, uma das suas principais funções é liderar e executar por meio de outros profissionais. Já os empreendedores, precisam organizar sua própria agenda e estar dispostos a executar tarefas mais operacionais.

Outra questão diz respeito à remuneração. Executivos seniores têm bons salários, bônus, planos de opções de ações e muitas vezes benefícios como motorista. Como empreendedor, mesmo que tenha atraído investidores, o profissional tem que estar preparado para ficar um bom tempo sem salário e, dificilmente, conseguirá levar a sua empresa a um tamanho que justifique uma remuneração fixa semelhante a que tinha em uma grande empresa. Essa é uma realidade não apenas do executivo, mas uma decisão que envolve toda sua família.

Não menos importante, nesse caso, é o fator emocional. Todas as empresas passam por desafios e, caso essa seja a situação, o profissional pode explorar uma mudança para outro lugar ou pleitear uma transferência interna para outro setor. Como empreendedor, você convenceu sócios, investidores e funcionários a acreditar no seu sonho. Ou seja, você fica muito mais impactado pelas derrotas em razão de sensação de que outros dependem muito de você.

Agora, apesar de todos esses pontos, se você ainda pensa em empreender, saiba que materializar esse desejo pode trazer benefícios que os executivos não encontram nas grandes empresas.

A possibilidade de escolher seus colegas e sócios é um deles. Além disso, criar uma cultura empresarial mais alinhada com seus valores e trabalhar com algo que impacte positivamente um setor é extremamente gratificante. Por fim, uma das melhores sensações é ver sua equipe motivada e vibrando a cada conquista.

De quebra, quando o negócio dá certo, o retorno financeiro também vale muito a pena.

Marcelo Noll Barboza é o co-fundador e presidente do Labi Exames. Foi presidente e membro do conselho de administração da DASA, presidente da Valeant Farmacêutica Brasil e Argentina e vice-presidente da GE Healthcare América Latina. 

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