Pense rápido: quantas pessoas você conhece que têm, realmente, um trabalho perfeito? Que fazem o que amam, interagem com pessoas maravilhosas, nunca enfrentam sobrecarga, ganham tanto quanto acham que merecem, não precisam apagar incêndios, jamais enfrentam problemas de relacionamento, desconhecem a palavra frustração, podem sair mais cedo para se dedicar a seus hobbies e passam todos os fins de semana esperando pela manhã de segunda-feira?

Para além das postagens muitas vezes fantasiosas das redes sociais, acredito que não haja ninguém que se encaixe em todos esses requisitos. E é perfeitamente normal que seja assim. Trabalhar pode e deve ser prazeroso, mas exige disposição e coragem para enfrentar os mais diversos desafios, todos os dias. Afinal, o trabalho envolve o contato estreito com pessoas que pensam diferente, com ambientes distintos e com expectativas que não são iguais as suas por parte de quem pede e de quem executa. Impossível acreditar que tudo isso possa funcionar em perfeita harmonia durante todo o tempo.

No meu dia a dia, observo de perto a angústia provocada pela busca de um trabalho perfeito que na verdade não existe. Os profissionais perdem o sono pensando naquilo que falta, naquilo que não ocorre exatamente da maneira como gostariam, e se esquecem de considerar também aquilo que o trabalho lhes traz de bom, de gratificante, e nas pessoas que conquistaram para sua vida.

A idealização funciona como uma grande armadilha. Em minha trajetória como coach, percebi claramente que os profissionais mais felizes no trabalho não são as que têm o job description dos sonhos – até porque isso varia de uma pessoa para outra –, mas, ao contrário, as que são realistas. Conseguem enxergar as qualidades daquilo que fazem, conseguem encontrar motivos para ficar contentes, mesmo que nem tudo ocorra como gostariam. Conseguem, enfim, manter a resiliência e seguir em frente, mesmo diante de adversidades.

Ser realista não é sinônimo de ser cego. Em qualquer circunstância, pode haver o inaceitável e o inadmissível, problemas impossíveis de contornar, momentos em que precisamos buscar outros caminhos. Não precisamos buscar pontos positivos em uma situação claramente insustentável, mas sim entender que esses momentos são exceção, não regra.

Falar parece mais fácil do que fazer, mas tentar enxergar tudo por um novo prisma vale a pena. Eu mesma sirvo de exemplo. Escolhi justamente a área de gestão de conflitos para me especializar, e posso garantir que mato dois leões por dia, não apenas um. Lido com o estresse, com o dissenso e com a tensão, meus e dos outros, praticamente todos os dias, estou longe de viver num mundo de fantasias. Mas, apesar dessas dificuldades, ou talvez até mesmo por causa delas, aprendi a amar o meu trabalho. Os problemas são inúmeros, mas as conquistas também. Basta equacionar a energia que vou dedicar a um lado e ao outro. Tudo é uma questão de prioridade.

* Allessandra Canuto é especialista em gestão estratégica de conflitos, sócia da AlleaoLado, empresa focada em constelação organizacional, treinamentos, consultoria e coaching para empresas, e autora do livro A culpa não é minha.

Originalmente publicado neste site

Ronaldo Faria Lima
Desenvolvedor de software há 23+ anos. Escreveu software para indústrias diversas, como telecomunicações e hospitality, em sistemas que variam de aplicações de missão crítica a sistemas embarcados em plataforma móvel celular.

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