“Nossa missão é transformar a ciência de dados em algo cada vez mais acessível”. Assim se iniciou, em São Paulo, mais uma edição do Open Data Science Conference, maior evento de ciência de dados e inteligência artificial do mundo. Pela primeira vez no Brasil, o ODSC recebeu especialistas da área para debaterem tendências e o futuro da tecnologia.

“O ODSC dá uma visão única do que está acontecendo neste mercado. A ciência da dados e a inteligência artificial estão saindo do hype para caminharem para a era da produtividade”, explica Sheamus McGovern, fundador e CEO da conferência.



Machine Learning e Inteligência Artificial

O conteúdo do evento é guiado por três áreas-chave. “Dados de uma pesquisa de 2017 mostraram que 88% dos projetos de IA não passam da fase piloto”, disse Sheamus. Por isso, a importância de investirem em uma das áreas citadas por ele: MLOps. “É a colaboração entre machine learning, engenharia de software e práticas de DevOps”, explica. “Isso possibilita que aprendizagem de máquinas em nível empresarial otimize o impacto dos negócios.”

Sheamus McGovern, CEO da ODSC

Sobre a segunda ferramenta, AutoML, Sheamus diz que é “uma ferramenta de produtividade, não de substituição do cientista de dados.” Como resultado, esta área otimiza a precisão, custo, estabilidade e recursos de machine learning para as empresas. “Também ajuda pessoas com pouco ou nenhum conhecimento em machine learning a produzirem modelos personalizados de alta qualidade”, afirma.

Por fim, Sheamus cita Responsible AI. “É a forma ética, honesta, transparente e responsável de se utilizar inteligência artificial”, diz. Dessa forma é possível identificar vieses e se basear em dados livres de discriminação por raça, gênero ou qualquer outro critério. “As empresas precisam conhecer os riscos de trabalhar com inteligência artificial, além de se prepararem para uma regulamentação da tecnologia”, completa Sheamus.

O futuro das máquinas

Quando falamos do pensamento leigo de inteligência artificial, logo chegamos a referências de filmes. Em uma visão utópica, pode-se relacionar IA com Andrew Martin, o robô interpretado por Robin Willians em O Homem Bicentenário. Já em uma visão distópica, no entanto, chegamos ao universo da Skynet, dos violentos filmes O Exterminador do Futuro.

Roteiristas e diretores de cinema, entretanto, erraram bastante sobre realidade do futuro. De acordo com Martha Gabriel, especialista em inteligência artificial, nada disso chegará perto do representará a tecnologia nas próximas décadas.

Para ela, uma coisa é certa: as máquinas não extinguirão profissões, mas as transformarão. “Tudo o que for passível de ser automatizado, irremediavelmente será. Então, se prepare desde já para se dedicar a outras funções e deixe para os robôs o que eles já fazem melhor que nós”, afirma.

Martha Gabriel, especialista em inteligência artificial

A especialista explica que existem três estágios para a inteligência artificial: aprendizagem – que é onde estão chatbots e assistentes virtuais; inteligência – rede avançada treinada para aprender com dados personalizados, e o último estágio é consciência – capaz de autoaprendizagem e cognição. Até 2060, é previsto que os robôs sejam capazes de realizar todas as tarefas humanas.



Para um futuro não tão próximo, a previsão é de que humanos e máquinas evoluam em conjunto. “Nossa busca é ser um humano aumentado, uma simbiose cibernética”, afirma Martha. Por ora não vamos tão longe. Entretanto, o poder da IA já é uma realidade no dia a dia da sociedade: 85% dos relacionamentos de consumidores com as empresas em 2020 acontecerão sem nenhuma interação humana. “Uma pessoa mediada empoderada por tecnologia torna-se melhor do que o maior expert humano trabalhando sem tecnologia.”

O futuro dos negócios

Um dos destaques do evento foi o painel que debateu o impacto de IA no futuro dos negócios. Participaram Leonardo Santos, CEO da Semantix; Éder Gigliotti, CEO da Smartbreeder; Renato Barbosa, arquiteto da AWS, e Alexandre Chiavegatto, professor da USP. Quem moderou o bate-papo foi Geraldo Santos, diretor-geral do STARTUPI.

Painel sobre o futuro das profissões com IA

“O ODSC no Brasil representa um salto muito grande no sentido de conseguir reunir, em um único lugar, toda essa comunidade existente no Brasil. Estava faltando, no Brasil, exatamente isso: reunirmos, em um único momento, todos os profissionais deste segmento”, diz Geraldo, ao se referir ao evento inédito no país.

Éder pontuou que este mercado no Brasil está se tornando cada vez mais rico e maduro. “Trabalho com big data, deep learning, aprendizado de máquina, há mais de 20 anos, antes mesmo de utilizarmos este termo. Mas já utilizávamos aquele grande volume de informações no dia a dia, para tomada de decisão mais assertiva”, diz.

No vídeo abaixo, ele comenta sobre os mercados que serão mais impactados com a Inteligência Artificial.



Leonardo, da Semantix – uma das principais apoiadoras para a chegada do evento no Brasil, também celebrou a edição do evento. “Dados podem – e vão – mudar a vida das pessoas. Isso não é mais um diferencial competitivo, é questão de sobrevivência”, afirma. “Queremos empoderar as pessoas para que possamos treinar e capacitar as máquinas, e portanto nos prepararmos para este novo mundo.”

No vídeo abaixo, ele comenta por que as empresas e startups devem investir em Big Data e Inteligência Artificial.



Necessidades e oportunidades

Durante o bate-papo, Renato, da AWS, disse a realidade das empresas brasileiras em relação a machine learning, entretanto, ainda está longe de ser a ideal. Para ele, muitas companhias ainda não conseguem entender a necessidade destas tecnologias para a saúde dos negócios. “A necessidade do cliente de atender melhor o cliente e de começar a implementar machine learning em seus processos é proporcional. Nosso trabalho é exatamente entender o negócio do cliente e como podemos auxiliá-lo a chegar ao próximo nível, por meio das nossas tecnologias.”

“A capacidade de tomar decisões inteligentes a partir de dados é transformadora em todas as áreas”, explica Alexandre, professor da USP. Para ele, o grande desafio da área da saúde em relação à IA, na qual é especialista, é capital humano. “Nós não temos profissionais suficientes que saibam machine learning, porque dados e tecnologia nós temos. O que falta é atrairmos jovens para esta área, que tem uma demanda gigantesca”, completa.

Explicando os dados (e nada de gráficos de pizza)

Tão importante quanto ter os dados corretos e saber interpretá-los é apresentar corretamente as informações para o público a quem se destina. Para falar sobre pontos-chave para um storytelling, o cientista de dados Isaac Reyes subiu ao palco do ODSC Brasil.

Isaac Reyes, cientista de dados

A primeira chave é a audiência. “Ao apresentar um gráfico, você precisa saber a quem se destina aquela informação. Se eu estou apresentando para o Snapchat dados sobre o crescimento de redes sociais entre adolescentes nos últimos anos, por exemplo, darei ênfase à informação mais importante para o meu cliente”, explica. Ou seja: nada de termos genéricos ao se referir ao seu público. Ao apresentar uma informação relevante por meio de um gráfico, vá direto ao ponto de interesse da audiência.

O segundo ponto é o conteúdo visual. Não há nada mais maçante que uma série de gráficos difíceis de entender e sem atrativo nenhum. “Nós podemos utilizar diversas ferramentas, como cores, formatos e bordas. O importante aqui é a pessoa reconheça imediatamente a informação naquele gráfico quando olhar para ele, sem ter que ir e voltar os olhos da legenda diversas vezes”, diz o especialista. Para isso, agrupe informações complementares na mesma cor ou formato, facilitando a compreensão do leitor.

Isaac destacou a importância da narrativa para a boa compreensão de uma apresentação. “Você tem que contar uma história com seus dados para torná-los memoráveis. Ninguém se lembra de porcentagens, mas se lembra de histórias impactantes”. Por exemplo, em um gráfico que mostra a história dos smartphones, desde o primeiro iPhone até a ascensão da Huawei, a narrativa pode fazer alusão a uma conhecida história sobre batalhas ou até mesmo à Bíblia, citando a história da criação, como fez Isaac.

Formatos

De qualquer forma, o importante é que a forma de falar sobre aquelas informações prenda a atenção dos leitores, facilitando a compreensão dos dados, não tornando-os mais complexos. “O título de um gráfico também deve contar uma história. Ele deve ser direto. “Se os valores do eixo X geralmente representam tempo e do Y intensidade de algo, então não há sentido em repetir esta mesma informação logo de início. Ao ler o título, a audiência precisa saber por que aqueles dados são importantes para ele”, afirma.

Por fim, ele diz que é preferível que gráficos em linha sejam priorizados, porque são mais facilmente compreendidos. Gráficos em barra não devem ser utilizados com mais de uma informação por coluna, porque “o cérebro humano tende a entender a diferença de tamanho e escala quando duas colunas estão perfeitamente alinhadas. Se uma segunda informação aparece em outra cor, na mesma barra, desalinhada, tendemos a ter mais dificuldade em entender o significado dela”.

Gráficos circulares, os famosos gráficos pizza, são melhor utilizados caso queiram enfatizar que um número específico é parte de um todo. Caso contrário, dê preferência a outras formas de expor esta informação.



Case de sucesso em inteligência artificial

Henrique Albuquerque, gerente de algoritmos e inovação de dados do Bradesco, chegou ao ODSC para falar sobre a BIA, assistente virtual da companhia. Acrônimo pra Bradesco Inteligência Artificial, a BIA começou a ser desenvolvida em 2015, em parceria entre a instituição financeira e o IBM Watson.

“Começamos a POC com 10 agências neste projeto. Na época, nosso principal desafio era otimizar processos. Temos mais de mil produtos no Banco, e para os gerentes atenderem uma solicitação de um cliente sobre um produto específico, muitas vezes eles ligavam na nossa central de atendimento e este processo poderia levar até 10 minutos. Um cliente esperar este tempo todo é inviável. Por isso, a BIA nos ajudou a melhorar muito o atendimento ao cliente e a produtividade dos nossos colaboradores”, explica Henrique.

Henrique, do Bradesco, falando sobre a inteligência artificial do banco

Hoje, a BIA já está disponível para todos os correntistas Bradesco pelas redes sociais, WhatsApp e apps do Bradesco e banco Next. Atualmente, mais de 28 milhões de pessoas possuem conta no Bradesco. Para ajudar na gestão da inteligência artificial, o banco criou uma central que conta hoje com 55 pessoas. Eles realizam a supervisão do algoritmo e curadoria das conversas em linguagem natural com a IA. “Grande parte dessas pessoas migraram do call center da empresa para levarem sua expertise com atendimento ao cliente para BIA”, explica.

Aprimoramentos constantes em relação à inteligência artificial não estão apenas no algoritmo, deve ser levada em consideração também ética. De acordo com um relatório da ONU, divulgado no início deste ano, atribuir assistentes virtuais exclusivamente ao gênero feminino reforça estereótipos sexistas, uma vez que elas são desenvolvidas para serem submissas, e sempre utilizam vozes femininas. “Estamos trabalhando no Bradesco para que o acrônimo BIA seja entendido de uma forma mais neutra”, explica.

A ODSC Brasil contou com patrocínio da Semantix, AWS, RedisLabs, Confluent, Pitney Bowes, AT&T, Syncsort, Elastic, Nvidia, Knime e teve AASA como Parceiros Estratégicos importantes comunidades de AI e Data Science como AI Brasil, School of AI Campinas, ABStartups, ABRIA, Data Science Academy, ABINC, Cloudera e The AI Academy.

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