*Por Janaína Lima

Esqueça o turismo para Jerusalém ou um mergulho no Mar Morto. O melhor motivo para ir a Israel hoje é conhecer Tel Aviv, o novo Vale do Silício ou Silicon Wadi – wadi é vale em árabe. A cidade ostenta a marca de um dos melhores lugares do mundo para começar um negócio e acumula centenas de venture capitals, programas de aceleração e espaços de coworking em apenas 40 km², área que corresponde às regiões como da Lapa, Penha ou Santo Amaro em São Paulo.

Israel já é o país com mais startups per capita do mundo — 1 para cada 400 pessoas — e colhe resultados com a inovação seja na economia, seja na eficiência de suas políticas públicas. O ecossistema atrai e fomenta empresas que exportam tecnologia para o mundo e também se reverte para a população, que ganha com sistemas inteligentes de informação e políticas públicas.

Mas o que essa cidade, com pouco mais de cem anos, num país de origem socialista e que tinha atividade principalmente na agricultura até poucas décadas atrás tem a ensinar para São Paulo?

Um Estado que ajuda ao invés de atrapalhar

Um plano nacional de corte de taxas iniciado nos anos 1980 deu o pontapé inicial numa economia estagnada que permitiu o surgimento do ecossistema inovador das décadas seguintes. Uma redução de 25% para 6-12% (dependendo da natureza do negócio) e o comprometimento em reduzir os obstáculos burocráticos para permitir a fusão e aquisição de empresas, por exemplos.

Incentivo público sem esquecer o privado

Yozma é o nome do programa de financiamento estatal israelense de crédito aos empreendedores. Ao invés de “doar” dinheiro a empresários já ricos sem pedir contrapartidas como no Brasil, o governo toma parte do risco mas pede aos investidores o mesmo montante prometendo o lucro do negócio. O resultado? Entre 1991 e 2000, os investimentos de venture capital israelenses passaram de US$58 milhões para US$ 3.3 bilhões.

A educação não tem medo do setor privado

Enquanto no Brasil o sistema educacional quer evitar a todo custo a participação do setor privado, em Tel Aviv essa aproximação foi uma das chaves do sucesso. As universidades sempre mantiveram contato próximo com a indústria e o governo, modernizando a oferta de cursos e realizando produtos para setores do governo. Os ganhos com licenciamentos e patentes já superam os US$2 bilhões, beneficiando todos os envolvidos.

Networking é tudo

Esqueça a regra de seis níveis de distância entre as pessoas: conectar-se é a alma do negócio em Tel Aviv. Os israelenses não têm vergonha de se apresentar e de trabalhar com amigos e conhecidos. O jeito direto e seco dos israelenses pode soar duro para os brasileiros, mas para eles é uma forma de mostrar compromisso e sinceridade. Quer ajuda? Peça. O tamanho pequeno do país e da cidade — 8 milhões e 400 mil habitantes respectivamente — ajuda, mas o mesmo pode funcionar quando pensamos a cidade de São Paulo, certo?

Errar não é humano, é israelense

A relação com o erro é um dos traços culturais marcantes dos israelenses: a falha é aceita como parte das características humanas. Em Tel Aviv é comum encontrar empreendedores que estão na sua terceira ou quarta empreitada, mas ao invés de serem tachados de perdedores são vistos como experientes. Alguns atribuem à religião judaica, mas a verdade é que esse espírito é compatível com a cultura inovadora de startups.

Resiliência e colaboração

Se no Brasil o serviço militar é visto como um fardo ou um plano B de carreira, a obrigatoriedade no exército para os jovens israelenses proporciona uma vivência única. Ao saírem, apesar da pouca idade, já acumulam pelo menos alguns anos – dois para mulheres e três para homens – de uma experiência intensa de trabalho. Aprendem também a lidar com tecnologia de ponta de inteligência artificial e programação, e valores como resultados em equipe e resiliência.

Inovação é um estado de espírito

Startups resolvem problemas do mercado, mas a tecnologia não ficam restritas ao setor privado em Tel Aviv. Na cidade, a inovação permeia o poder público e a cidade é considerada uma smart city que consegue integrar inovação e serviços estatais. Um exemplo é o DigiTel, que integra bancos de dados em diversos níveis, com mapas compartilhados para melhorar a usabilidade da cidade em sistemas de alertas de trânsito, estacionamento e serviços para pais e crianças.

Falamos sempre sobre os desafios que São Paulo enfrenta, listando dificuldades e entraves para empreender na maior cidade do Hemisfério Sul. Mas esquecemos de olhar para os exemplos e de buscar na prática modelos de sucesso que podem impactar diretamente a vida de milhares de cidadãos, gerando empregos e otimizando as políticas públicas.

A Sala de Startups, projeto que lidero na Câmara Municipal, quer construir uma São Paulo desburocratizada, inovadora e cheia de oportunidades. Vamos trazer o espírito de Tel Aviv para São Paulo, cidades irmãs no mundo do papel que agora serão parceiras na vida real. Para isso, não iremos inventar a roda, vamos aprender com quem já fez. E você, topa vir com a gente?

*Janaína Lima, 35 anos, é do Capão Redondo, advogada pós-graduada em Direito Público e Vereadora de São Paulo (NOVO). É uma jovem líder Global Shaper do Fórum Econômico Mundial, faz parte da rede NEXUS Brasil, ligada às Nações Unidas, e é Líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) desde 2015. Participou do Curso Internacional de Liderança Executiva em Desenvolvimento da Primeira Infância do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) na Universidade de Harvard (EUA) e do Curso International Program for Public Leaders na Universidade Johns Hopkins (EUA).

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