Na última semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a regulamentação de produtos à base de cannabis no Brasil. Com a medida, produtos feitos com cannabis para uso medicinal podem ser vendidos em farmácias, mediante prescrição médica.

A proposta submete a importação de produtos à base de cannabis para as farmácias, mas o cultivo de maconha para fins medicinais no Brasil foi rejeitado. A norma deve entrar em vigor 90 dias depois de ser publicada.

Segundo o IBGE, aproximadamente 40% da população brasileira convive com alguma doença crônica, o que é potencialmente tratável através da cannabis medicinal.

Existem diversos empreendedores que enxergaram neste mercado uma oportunidade de mercado, como a Dr. Cannabis e a Entourage Phytolab. Recentemente também foi lançado o primeiro fundo temático de cannabis do País, o Vitreo, fundado por George Wachsmann, economista pela USP com mestrado pela Stanford University. Ele trabalhou por anos na GPS investimentos, a maior gestora independente de alto patrimônio do Brasil.

Em entrevista ao STARTUPI, ele conta que tem acompanhado o mercado e a tese de investimentos em cannabis junto com o desenvolvimento medicinal do canabidiol, há bastante tempo. “Esse mercado, praticamente, existe só há uns cinco anos. E é muito comum no mundo dos investimentos você olhar para aqueles que estão baseados em tese, como as áreas de energia sustentável, de água, e até mesmo de desenvolvimento digital — são vários campos e o de cannabis é um deles. No começo do ano, a gente começou a amadurecer essa decisão para lançar o fundo. Ele possui a maior parte dos seus projetos relacionados ao uso medicinal, mas, eventualmente, como a gente investe também em alguns ETFs, podem existir nesse universo empresas com outras finalidades”, comenta.

George Wachsmann, sócio e chefe de gestão do Vitreo

O fundo funciona como um FIA, fundo de investimento em ações, e é também um fundo de investimentos no exterior. Por ter esse perfil, é preciso investir, pelo menos, 67% em ações listadas no exterior. George destaca que hoje eles investem 100% em ações listadas no Canadá e nos Estados Unidos.

Um pedaço da carteira é de ETFs, que são aqueles fundos listados em bolsa e que englobam várias apostas juntas — com 30, 40, 50 empresas diferentes neles — e uma parte da carteira eles investem em algumas empresas diretamente.

O fundo já conta com vários cases de investimento. “Nós temos fundos imobiliários que estão explorando oportunidades relacionadas ao mercado de cannabis; investimos em empresas farmacêuticas, que estão envolvidas diretamente no desenvolvimento de remédios, de novos medicamentos; investimos em empresas de cosméticos; assim como investimos em empresas que estão diretamente relacionadas à plantação, então dá para notar que existem perspectivas bem diversas nessa cadeia”.

O fundo investe também em empresas grandes e conhecidas, como a GW Pharmaceuticals, empresa biofarmacêutica britânica conhecida por seu produto de tratamento para esclerose múltipla, que foi o primeiro derivado natural de planta de cannabis a obter a aprovação do mercado.

Investimentos no Brasil

George conta que eles ainda não realizam investimentos no Brasil, pois hoje ainda não existe nenhuma empresa listada relacionada a esse setor. Até a decisão da Anvisa no início desse mês, isso sequer era algo permitido no Brasil — fora que o plantio continua não sendo permitido.

“A gente recebeu com bons olhos a novidade na aprovação da Anvisa. O Brasil é mais um dos países que está dando alguns passos em direção à regulamentação e à legalização do uso da cannabis. Ainda que não seja uma liberação total, mas parcial, ela já muda bastante o cenário para investimentos no Brasil. Já são mais de 50 países que têm algum tipo de aprovação, então o ideal é que isso cresça e que você chegue a um estágio onde todos os países do mundo liberam o uso, porque aí vai existir um mercado global robusto”, destaca.

Nos Estados Unidos, por exemplo, já há uma série de estados que liberam algum tipo de uso, mas no nível federal ainda existe uma proibição e existe até um projeto de lei que já foi aprovado na Comissão de Justiça do Congresso Americano, e que está para ser votado no plenário geral, sobre esse assunto, o que segundo George, movimentou bastante o ânimo dos investidores desse mercado recentemente.

O investidor acredita que o maior desafio dos empreendedores deste mercado com certeza é a questão da legalização. “Então assim como qualquer investimento, isso daqui exige consciência e exige perseverança dos empreendedores. É fundamental ter conhecimento técnico, dependendo do que ele estiver fazendo, é preciso ter fôlego financeiro, mas principalmente, é indispensável ter uma atenção bem crítica à evolução dessa da legislação em cada um dos países. Não adianta você ser um super empreendedor que quer investir no plantio no Brasil enquanto isso for proibido por aqui”.

O Brasil é mais um país grande e relevante a entrar dentro de um mercado global. Isso, sem dúvida nenhuma, ajuda todas as empresas. “Eu imagino que o que existe para a gente de curto prazo é que, na opinião pública, na cabeça das pessoas, na cabeça dos investidores potenciais, você começa a ver que isso não é uma tese de investimento do futuro, mas já é uma tese de investimento do presente”.

Tem muita gente que olha esse assunto com algum tabu, com algum tipo de viés sociocultural relacionando a maconha como uma droga, como um vício, entre outras coisas negativas relacionadas a isso, mas George destaca que que eles estão olhando o outro lado do muro, o lado das famílias que estão sendo beneficiadas com novos tratamentos, das pessoas que estão ganhando a batalha na luta contra as suas doenças e suas expectativas para esse mercado são as melhores possíveis.

“A gente realmente acredita que ainda há muitas descobertas a serem realizadas neste mercado. O uso da cannabis, do canabidiol e de outros derivados pode ser extremamente poderoso no tratamento de uma série de doenças ou, pelo menos, no abrandamento de seus sintomas. Ver o relato das famílias que têm alguém que sofre dessas doenças e já está se beneficiando do uso desses primeiros medicamentos nos faz ter a certeza de que estamos olhando para um mercado que tem um potencial disruptivo enorme, capaz de realmente mudar a vida de muitas pessoas. Isso é ser transformador!”, finaliza.

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