A Endeavor é a organização líder no apoio a empreendedores de alto impacto ao redor do mundo. Presente em mais de 30 países, e com 8 escritórios em diversas regiões do Brasil.
O Scale-Up Talks reuniu responsáveis por empresas de alto crescimento em uma mesa redonda. Veja aqui o que rolou de mais inspirador na conversa.
Como se constrói uma Scale-Up? Quais desafios o empreendedor ou a empreendedora deve superar para que sua empresa cresça sólida e continuamente? Que aprendizados os responsáveis por Scale-Ups têm a compartilhar, e como pretendem manter o ritmo de operação?
Foi para responder essas e outras perguntas que, recentemente, organizamos o primeiro Scale-Up Talks. No formato de mesa redonda, reunimos quatro dos empreendedores que mais crescem no Brasil para trocarem ideias sobre as dores e os desafios de manter o crescimento de alto impacto por um período de, no mínimo, três anos.
Do encontro, participam Eric Santos, da Resultados Digitais, Fabiana Salles, da Gesto Saúde, Guilherme Azevedo, do dr.consulta e Thiago Alvarez, do GuiaBolso. A moderação ficou a cargo da Camilla Junqueira, Diretora Geral da Endeavor Brasil.
Confira abaixo os melhores momentos e acima assista ao bate-papo completo!
Quebrando a arrebentação e explorando a floresta
Para explicar o que os motiva, os empreendedores usaram metáforas que dão a medida dos desafios. Falando sobre a missão do dr.consulta, Guilherme Azevedo associou o trabalho a um desafio náutico: “o tamanho do problema da saúde no Brasil é gigantesco, e a gente se propôs a tentar achar uma solução para contribuir”, conta. “Só que são cem milhões de pessoas, e atendemos meio milhão. Nós acabamos de passar a arrebentação”.
Já Thiago Alvarez evocou a selva: “Você chega e não sabe direito para onde vai, mas sabe que tem oportunidade, e segue adiante”. Eric Santos, da Resultados Digitais, concorda: “Muita coisa estamos aprendendo fazendo pela primeira vez, porque não vemos aqui no Brasil. Estamos descobrindo conforme avançamos”, relata ele. Como explorar o mato.
Concessões dolorosas, mas necessárias
Seja no mar ou na selva, a exploração requer muito trabalho — e isso implica, necessariamente, abrir mão de aspectos importantes do lado pessoal. E o desafio de todos, nesse sentido, acaba se relacionando à família.
Eric, por exemplo, viaja muito, “e cada viagem é tempo fora de casa, tempo longe do filho”. Fabiana Salles, da Gesto Saúde, decidiu postergar a maternidade. “É uma opção. Tenho 38 anos e fiz congelamento de embriões. Mas é uma questão que está sempre presente”, conta ela.
Thiago, por sua vez, menciona o espaço mental ocupado pela empresa: “o negócio hoje toma 110% do meu tempo mental. Então, quando estou com a minha família, estar presente mentalmente é algo que tem sido uma dificuldade hoje em dia”. Para Guilherme, o maior desafio também é essa desconexão: “Quando estou com meus filhos, procuro ter a disciplina de tirar o celular da frente”.
Da dor à lição
Partindo dessas concessões, Camilla Junqueira perguntou aos participantes sobre as principais dores que enfrentaram em suas trajetórias. Os “ossos do ofício” que, geralmente inevitáveis, transformaram-se em aprendizados.
Para Thiago Alvarez, foram as demissões — principalmente os pedidos de demissão. “Quando pessoas decidem sair dessa causa, desse propósito, são momentos que te fazem refletir. Pois, se estamos construindo algo tão transformador, como que tem gente abandonando o barco?”
Fabiana Salles lembrou da própria dor do crescimento, da impessoalidade que ele acaba gerando. “Vivo isso o tempo todo. Porque, até pouco tempo, eu conseguira conversar com cada um dos colaboradores, mas hoje já não consigo”, afirma ela. “Antes, havia uma relação diferente, você cria afeto. E de repente, você não tem mais isso, e isto dói”, completa.
Para falar de suas dores, Guilherme Azevedo recorre aos répteis: “Nós temos que trocar de casca continuamente. É uma realidade brutal, porque, na velocidade em que crescemos, temos que ser uma pessoa diferente a cada três, seis meses”, conta ele. Isto implica provocar-se, evoluir constantemente. E não é fácil, porque, às vezes, “você é bom no que faz, mas a empresa precisa de você para fazer outra coisa”.
A dor de Eric Santos diz respeito a práticas centralizadoras. “Olhando o meu papel dentro da RD, tem comportamentos que foram fundamentais para trazer a empresa até aqui que hoje são perigosos”. O benchmarking é um exemplo: foi muito importante para “esticar todo mundo” no começo, mas hoje leva à ingerência. “O fato de eu saber mais ou menos o que os colaboradores sabem faz com que eu me meta em coisas onde eu não deveria me meter”, admite ele.
Colocando “gente boa” para dentro
O recrutamento foi, claro, um ponto bastante debatido. Guilherme ressaltou a importância de se ter um processo “muito robusto e escalável”. Para isso, é preciso “desenhar um processo, sistematizá-lo”, e ele tem que ser cumprido. Ele dá um exemplo: sempre que está contratando, ele se pergunta se o(a) candidato(a) pode substituí-lo, ou a qualquer diretor. “Se a resposta é não, uma luz amarela enorme surge”, completa.
Foi quando Thiago lançou uma provocação: “essa regra serve para todos? Ou serve só para pessoas que estão na alta gestão?”
Guilherme Azevedo lembrou, então, do programa de trainees do dr.consulta, que é onde a questão é mais crítica. “Nós o levamos super a sério, porque é o celeiro dos futuros líderes da empresa”. Já com relação às posições operacionais, o empreendedor frisou a importância da “trilha da carreira”. Mas o princípio também vale: “se uma vaga pode evoluir até gestor de centro médico, por exemplo, quem entrevistar os candidatos deve se perguntar se eles têm esse potencial”.
Habilidades inatas x Habilidades adquiridas
Por fim, Camilla perguntou aos empreendedores sobre as habilidades que eles tiveram que desenvolver ao longo de suas trajetórias, em face àquelas que eles já apresentavam.
Em tom de brincadeira, Fabiana afirmou que teve que desenvolver todas, “porque não tinha nenhuma”. Mas a principal, lembra ela, foi a de tomar riscos. “Estou sempre me provocando a tomar riscos, seja os mais diversos. Não só na empresa. Tipo saltar de asa delta; receber uma descarga de adrenalina para saber que as coisas ficam bem, mesmo que nos arrisquemos”.
Já Eric falou sobre sua introversão. “Tive que desenvolver a capacidade de falar em público, até pelos eventos da RD”, conta. Para ele, o ponto principal é que o(a) empreendedor(a) tenha “o mindset de aprender”: “muita gente, em diferentes níveis de carreira, quer tomar atalhos, sendo que às vezes não existe atalho”.
O empreendedor da RD citou, então, a resposta que Keith Rabois, investidor norte-americano, costuma dar a quem pergunta sobre o que ele vê de padrões em quem consegue escalar: “a única coisa que é padrão é que os caras são obcecados por aprender”, completou. “Não devemos ter medo de colocar o nosso tempo para nos desenvolvermos”.
E nós entendemos perfeitamente. Afinal, é justamente para o desenvolvimento de empreendedores por todo o país que conversas como essa contribuem tanto.
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