* Por Lauro Chacon

Uma das características mais celebradas pelas empresas é a capacidade de resolver problemas. Afinal de contas, líderes devem estar prontos para fornecer respostas, certo? Para vários especialistas, no entanto, ter alguém com resposta para tudo não é o melhor caminho para a inovação: o mais indicado seria criar um ambiente que não se apoie em um ou outro indivíduo, mas sim na habilidade de todos. Em outras palavras, um processo que estimule a inteligência coletiva.

Desenvolvido pelo filósofo Pierre Levy, o conceito de inteligência coletiva refere-se a uma “inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências”. É como se elevássemos o ditado de que que duas cabeças pensam melhor do que uma para outra potência: todas as cabeças juntas, certamente, pensarão melhor do que uma ou duas.

Evidentemente, a teoria proposta por Levy e uma série de pensadores não exclui a necessidade de um líder para coordenar o andamento das operações. A tese defendida pelos especialistas neste conceito é que quanto mais as pessoas participarem do processo, melhores serão os resultados das inciativas.

O papel das lideranças, portanto, seria ajudar a orientar e organizar as etapas de produção e, além disso, identificar e selecionar ideias para reforçar a qualidade dos projetos. Outro aspecto importante da atuação dos líderes é avaliar o conhecimento específico dos colaboradores, analisando as diferentes experiências e perspectivas para montar times que possam gerar as soluções e serviços mais adequados.

O objetivo desse modelo é criar uma atmosfera participativa, que permita ir além do “vestir a camisa”. Mais do que engajar as pessoas em torno de uma meta ou cultura, a proposta é incluí-las diretamente na produção da empresa. É essa habilidade que permitirá, por exemplo, que as companhias consigam expandir suas posições como especialistas da área, minimizando e calculando os riscos.

De acordo com levantamentos de mercado, empresas com maior abertura à diversidade, por exemplo, podem ter um faturamento até 35% maior do que as companhias que relutam a esse tipo de ação. Da mesma forma, pesquisas indicam que organizações com mulheres em seus conselhos administrativos chegam a ter até 20% mais eficiência e agilidade na tomada de decisões. O que os números mostram é que tornar as equipes mais diversificadas proporciona novas perspectivas e pensamentos à operação, ampliando a capacidade de resolver problemas.

A diversidade é apenas um dos exemplos de como abrir espaço para novas ideias e pontos de vista. Outras maneiras de estimular e ampliar a participação das pessoas nos processos de inovação são investir na formação de profissionais in house, além de estabelecer as melhores práticas de mercado para atrair e reter talentos.  Além disso, pode ser bastante eficaz estabelecer estruturas internas formais voltadas para a aceleração de ideias.

Este tipo de iniciativa traz benefícios para os colaboradores, que têm a chance de obter reconhecimento, visibilidade e avanços na carreira pelas ideias apresentadas, bem como para as organizações, que passam a contar com um abastecimento contínuo de sugestões realizadas por profissionais de confiança e que conhecem de perto as reais necessidades dos clientes.

Por fim, um item essencial que não pode ser deixado de lado quando o assunto é inteligência coletiva é a multidisciplinaridade. Para isso, porém, é necessário que as empresas possuam e reforcem uma cultura organizacional baseada no incentivo ao trabalho em equipe. Em todas as situações, de qualquer forma, é aconselhável que as companhias contem com ferramentas digitais avançadas, que permitam a automação de tarefas simples e a liberação de talentos para atividades mais estratégicas e relevantes para os resultados de negócios. A tecnologia disponível hoje também permite, por exemplo, que as equipes desenvolvam projetos complexos em colaboração, conectadas, a partir de qualquer lugar e em qualquer tempo.

Ao investir nas pessoas e na infraestrutura adequada para sua atuação, as companhias têm mais chances de pensar o novo. Não é hora de buscar quem tem resposta para tudo, mas sim de realizar as perguntas certas e ter abertura para abraçar respostas que muitas vezes não conhecemos. Somente assim, com as condições corretas para o estímulo da Inteligência Coletiva, as companhias estarão prontas para inovar e gerar valor real aos clientes e a seus próprios colaboradores.

* Lauro Chacon é vice-presidente de Marketing e Capital Humano da Qintess.

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