* Por Cristian Rocha

Muito tem se discutido sobre a importância de diversas áreas da economia investirem mais fortemente no desenvolvimento do setor tecnológico para se destacarem no mercado. Enquanto em países como Estados Unidos, China e Japão a transformação digital já esteja intrínseca em seus DNAs, regiões conhecidas geograficamente como países subdesenvolvidos ainda têm um papel muito tímido e seguem engatinhando quando o assunto é criação de soluções e ferramentas tecnológicas para o impulsionamento dos negócios. Contudo, é possível observar um ímpeto muito grande em mudar essa realidade, em especial na área da saúde, com as chamadas healthtechs.

O segmento, até então considerado um dos mais tradicionais e resistentes à inovação, tem se flexibilizado e visto como a tecnologia tem sido uma grande aliada na missão de salvar vidas. Não à toa, de acordo com levantamentos da Crunchbase, a América Latina já registra mais de 140 healthtechs com potencial de crescimento. Quando transportamos a realidade para a terra canarinho, o Brasil – maior país do continente – é disparado, com mais de 60 iniciativas grandes, seguido do México (37) e do Chile (21). Mas, então, por que será que os países latinos ainda não deslancharam, de fato, no ramo da tecnologia para a saúde?

Sem dúvidas, há muitos talentos e mentes brilhantes na região, mas existem uma série de fatores que colaboram com nosso “atraso” em relação aos outros países. Um deles é justamente a falta de investimentos, seja para a mão de obra, para a aquisição de ferramentas ou, mesmo, na educação e desenvolvimento profissional. Com isso, vemos um fenômeno muito comum: a exportação de talentos, que encontram em grandes potências os recursos e retornos financeiros necessários para dar andamento em seus projetos.

Outro ponto importante é a mentalidade coletiva. Não muito tempo atrás, era comum o pensamento de que as “máquinas iriam dominar os humanos”, resultando na relutância pela busca da digitalização. E, com os países latinos sendo predominantemente conhecidos como exportadores de matéria-prima e insumos agrícolas, a alçada pela tecnologia parecia muito distante e privilégio apenas daqueles que desejavam se destacar no setor. Hoje, a mudança de comportamento da sociedade prova o contrário: aqueles que não apostam na transformação digital tendem ao ostracismo. E, com a chegada da pandemia de Covid-19 no último ano, essa necessidade passou a ficar ainda mais latente, uma vez que as instituições de saúde precisam de respostas rápidas, dinâmicas e eficientes para garantir a segurança dos profissionais e pacientes, bem como o desafogamento dos hospitais.

Mas, se por um lado há preocupações e desafios, por outro há um vasto espaço para a criação de soluções e mecanismos novos. Com isso, foi possível ver uma grande força-tarefa de entidades como Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e investidores-anjo, por exemplo, para injetar mais recursos e dar o fôlego necessário para que países latinos corram contra o tempo e tenham mais acesso à tecnologia para combater a crise socioeconômica iminente. E os frutos estão sendo colhidos.

Segundo o último relatório de Healthtechs realizado pela Distrito, somente no Brasil já atingimos a marca de cerca de 920 iniciativas no setor dentro do ecossistema de inovação do país, além de investimentos de mais de US﹩ 328 milhões nos últimos dois anos.

Logo, por mais que ainda tenhamos um longo caminho pela frente, os números e expectativas são promissores. Com mais investimentos, novas demandas e comportamentos na sociedade e um povo latino com um rico repertório criativo, a América Latina e o Brasil deixam de engatinhar e passam a se levantar e caminhar com as próprias pernas em direção ao sucesso na área.


* Cristian Rocha é diretor executivo e cofundador da Laura, empresa do mercado de healthtechs que oferece soluções de inteligência artificial para a democratização do acesso à saúde

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