* Por Igor Romeiro
A oferta pública inicial de ações da fintech Nubank, o maior unicórnio da América Latina, é um teste para a tendência que vem se consolidando nos últimos anos: o IPO de startups. Até 2017, nenhuma operação desse tipo ocorreu. O movimento começa entre 2018 e 2019 (5 operações). Em 2020 foram 4 e 2021 intensificou o ritmo, mostrando que é possível encurtar o caminho entre o início do negócio e a abertura de capital. Será?
A resposta é não. Captar recursos com a finalidade de financiar uma ideia e tirá-la do papel requer um planejamento adequado do empreendedor. O risco é de que o salto seja grande demais, ou em palavras corriqueiras, o passo seja mais largo que as pernas e, com isso, se frustram tanto o dono da ideia quanto os investidores.
A sustentabilidade de um negócio requer um plano de ação bem delineado no longo prazo, testes de mercado e um crescimento de acordo com a demanda que deve gerar receita. O que vemos, em muitos casos, é o contrário, cada vez mais startups e fintechs, ao gerar consumo de seu produto, na verdade, ampliam seus custos. Vendem crescimento e não ganhos financeiros. Tal contexto, num primeiro momento, pode parecer uma boa conversa para vender o negócio, porém os riscos intrínsecos são elevados e levam a decepções.
Portanto, mesmo que seja mais longo, o passo a passo da captação deve ser respeitado. Claro que, dependendo do andamento dos negócios, pode até ser possível acelerar o processo sem necessariamente passar por todos os estágios, mas sempre com cautela e avaliação. Os ranges não são uma regra e, muitas vezes, podem sobrepor outras fases, principalmente o Bootstrap, pois há muitos empreendedores que, em conjunto com os sócios investem muito do próprio bolso. Observar os 10 passos antes do IPO deve ser a prioridade do empreendedor.
1) Nível: Bootstrapping
Origem capital: Capital Próprio.
Objetivo: Concepção – Investem na ideia para tirá-la do papel, abertura de empresa, hospedagem e criação do site, criar o produto ou desenvolver o serviço, obter os primeiros clientes.
Valor do Investimento: R$ 5mil até R$ 50 mil.
2) Nível: FFF (Family, Friends and Fools)
Origem capital: Amigos e familiares que querem ajudar o empreendedor.
Objetivo: Concepção – aumentar a base dos primeiros clientes, investindo pouco recurso em micro marketing.
Valor do Investimento: R$ 50 mil até R$ 100 mil.
3) Nível: Programas de aceleração
Origem capital: Aceleradoras e Incubadoras.
Objetivo: Validação – A ideia é desenvolver o negócio com testes, colher feedbacks, melhorar, testar, feedbacks etc. As incubadoras ajudam a promover o negócio com rede de contatos;
Valor do Investimento: R$ 100 mil até R$ 200 mil.
4) Nível: Investidores-anjo
Origem capital: Pessoas Físicas com expertise para investir em startups.
Objetivo: Ajudar na contratação dos primeiros funcionários, abrir contatos comerciais para o produto/serviço, ajudar o empreendedor a não cometer erros, aconselhar sobre planejamento futuro etc..
Valor do Investimento: R$ 100 mil até R$ 400 mil.
5) Nível: Pré-seed e Seed
Origem capital: Micro Ventures Capital, Grupos de Investidores em PJ e alguns Equities Crowdfunding.
Objetivo: Encontrar o PSF (problem-solution fit ou adequação do problema à solução), ou seja, o produto ou serviço se encaixar a uma necessidade real que os clientes têm.
Valor do Investimento: R$ 500 mil até R$ 1 milhão.
6) Nível: Seed
Origem capital: Equity Crowdfunding e fundos Ventures Capital.
Objetivo: Atingir o PMF (Product Market Fit ou adequação do produto no mercado) e criar o MVP (Minimum Viable Product ou Produto Mínimo Viável) aumentando a tração em vendas e marketing;
Valor do Investimento: R$ 1 milhão até R$ 5 milhões; alguns fundos chegam até R$ 10 milhões.
7) Nível: Série A
Origem capital: Fundos Ventures Capital.
Objetivo: Escalar o negócio focando em aumentar a base de usuários e criar novas ofertas de produtos e serviços; aprimorar processos, automatizações e novas contratações;
Valor do Investimento: R$ 10 milhões até R$ 30 milhões.
8) Nível: Série B
Origem capital: Fundos Ventures Capital e Family Office.
Objetivo: O Investimento é destinado na expansão do negócio, recrutando time, criar novos departamentos e conquistar novos mercados.
Valor do Investimento: R$ 30 Milhões até R$ 100 Milhões.
9) Nível: Série C
Origem capital: Fundos Ventures Capital, Private Equity e Bancos de Investimentos
Objetivo: Acelerar a empresa lançando-a no mercado internacional e/ou adquirindo novas companhias e se preparar para o IPO.
Valor do Investimento: R$ 100 milhões até R$ 500 milhões.
10) Nível: Série D e E
Origem capital: Fundos Ventures Capital, Private Equity, bancos de Investimentos e Fundos de Hedge;
Objetivo: Algumas Startups necessitam entrar nesta série para se capitalizar antes da abertura do IPO ou para alguma fusão;
Valor do Investimento: R$ 300 milhões até R$ 700 milhões.
Estes são os 10 níveis iniciais antes de atingir o IPO, quando a empresa pode levantar o capital para comprar startups mais novas e serve para porta de saída para que os investidores passados vendam suas participações da startup para obter o lucro dos investimentos. Um bom desempenho no IPO e pós-IPO requer um planejamento claro do futuro.
* Igor Romeiro é sócio-fundador da plataforma de investimentos em startups Efund.
0 comentário