Uma pergunta que me fazem recorrentemente é “o que falta para o Open Finance ser tão transformador quanto o Pix?”. Minha resposta usual é que o ingrediente que falta é “tempo”, porque embora o Open Finance brasileiro já tenha o recorde de volume em muitas métricas, ele ainda está em construção. Nesse contexto, há uma certa injustiça na comparação do impacto do PIX com o Open Finance, pois se tratam de inovações com maturidades diferentes.
De um lado, o Pix pode ser visto como a evolução de produtos como DOC e TED, com melhorias importantes de usabilidade e disponibilidade. O caminho percorrido pelos meios de pagamentos digitais até chegar a esse formato foi longo e serviu para “educar” tantos os profissionais da indústria financeira como os próprios clientes.
Já o Open Finance é quase que inteiramente novo, tanto no seu princípio básico, uma vez que o histórico financeiro pertence ao cliente e não às instituições, como no que diz respeito à infraestrutura tecnológica necessária para seu funcionamento pleno. O mercado segue otimista. Levantamento realizado pela Ipsos a pedido da TecBan mostra que a adesão de brasileiros ao Open Finance tem crescido. A pesquisa revela que 52% dos entrevistados estão dispostos a compartilhar dados, ante os 39% registrados em 2018 e que 67% sentem-se motivados a aderir à modalidade.
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Gerar valor com o Open Finance, no entanto, exige que as instituições invistam em tecnologia para receber e usar os dados em tempo real, novas técnicas de experimentação e inteligência de dados, assim como muita disciplina na comunicação com o cliente. Outro aspecto importante é que o Pix é um produto, enquanto o Open Finance é um “ecossistema habilitador de serviços”, o que faz com que ele precise ser utilizado em combinação com outros produtos e serviços para sua aplicação, como ouvi certo dia de uma amiga que é referência no setor financeiro.
Como o escopo é mais amplo, existe uma grande expectativa de que o Open Finance tenha um impacto maior do que teve o Pix no mercado. Mas então o que falta para que as expectativas de transformação e “explosão” de inovação se tornem realidade? Bom, nesse exato momento ainda estamos construindo os “alicerces” para isso e esse trabalho deve se estender até meados de 2024. A fase seguinte será uma etapa de intensa exploração e busca de novas soluções, o que implica em uma abordagem de experimentação, que trará grandes desafios de eficiência e velocidade devido a grande quantidade de dados disponíveis.
Para se ter uma dimensão da complexidade, imagine que quando um cliente compartilha o seu histórico financeiro de 12 meses, é normal a instituição receptora capturar cerca de três mil transações de um único cliente. Atualmente, a análise e teste de hipóteses a partir desses dados ainda é um processo laborioso e que na maioria das vezes envolve mais de uma área. Será neste momento que a Inteligência Artificial (IA) terá um papel crucial para acelerar a busca de percepções e a rápida validação de novas soluções para os clientes.
Em um futuro não tão distante, os gestores de produtos terão a IA como um assistente pessoal para “conversar” com os dados do Open Finance, um processo, que é interativo por natureza, mas que com o apoio da tecnologia será muito mais rápido já que a IA Generativa é muito mais eficiente na análise de dados do que qualquer ser humano.
Por fim, a combinação da criatividade humana com a capacidade de processamento e interpretação da IA generativa deve trazer grandes avanços na personalização de jornadas e ofertas. É provável o surgimento de novas soluções digitais que facilitarão em larga escala a gestão financeira, comparação de preços e benefícios de produtos financeiros de diferentes provedores, algo ainda bastante complexo com a infraestrutura atual. Apesar dos inegáveis avanços, em uma analogia futebolística, quando o assunto é o Open Finance, ainda estamos no primeiro minuto do primeiro tempo.
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