A Neo4j, empresa sueca com sede no Vale do Silício e avaliada em mais de US$ 2 bilhões, está em uma nova fase de expansão na América Latina. Após três anos e meio na companhia, Paulo Farias assumiu em 2025 o cargo de vice-presidente e general manager para a região, liderando a estratégia de crescimento em mercados como Brasil, México, Chile e Colômbia. Além de consolidar a presença em grandes corporações e órgãos públicos, a companhia acaba de relançar seu programa de apoio a startups, com benefícios que incluem créditos em nuvem, consultoria especializada e acesso a uma comunidade global de desenvolvedores.

“Nosso desafio é consolidar no mercado latino algo que já está cada vez mais evidente globalmente: os bancos de dados em grafos como infraestrutura essencial para sistemas de inteligência artificial que utilizam grandes volumes de dados interligados”, afirma Paulo Farias, em entrevista ao STARTUPI.

De Microsoft a Neo4j: trajetória de liderança

Com mais de 20 anos de experiência em empresas como Microsoft, Oracle, Salesforce e Avanade, Farias construiu uma visão de liderança baseada na tradução de problemas de negócio em soluções tecnológicas. Ele destaca que a passagem por diferentes setores lhe deu uma visão ampla e consultiva.

“Meu objetivo como profissional sempre foi ter a capacidade de entender os problemas dos clientes e traduzir em soluções tecnológicas. Essa bagagem é o que me ajuda hoje a liderar a Neo4j na região”, explica.

O executivo foi um dos primeiros funcionários da companhia na América Latina. “Entrei na Neo4j como o funcionário número três na região. No início, o foco era expandir o negócio no Brasil, que hoje responde por cerca de 70% a 80% do faturamento latino-americano. Essa experiência me preparou para assumir a posição de liderança regional”, conta.

Casos de uso e presença regional

A Neo4j atua em setores variados, do público ao privado, sempre com foco em mapear relações complexas entre dados. No setor público, a tecnologia tem sido aplicada em prevenção a fraudes e investigações. Farias cita o Ministério da Defesa da Colômbia como exemplo: “O governo colombiano usa Neo4j para eliminar fraudes em processos de compra. É um caso que mostra a relevância da nossa tecnologia na eficiência do setor público”.

Já no setor privado, os usos vão de telecomunicações a companhias aéreas. A Latam Airlines, por exemplo, utiliza a tecnologia para gerenciamento de identidade e atendimento ao cliente. “Hoje, quando alguém liga para a Latam, em mais de 90% dos casos a companhia consegue identificar imediatamente quem é o cliente. Isso parece simples, mas é um desafio enorme em call centers, onde muitas vezes a pessoa fornece o CPF e ainda precisa repetir informações depois. O grafo permite unificar identidades dispersas em diferentes sistemas”, diz o executivo.

Outros casos incluem mapeamento de redes de energia, prevenção de fraudes no setor de seguros e criação de “gêmeos digitais” em telecomunicações, que simulam redes inteiras de distribuição de sinal.

Grafos e inteligência artificial generativa

Nos últimos dois anos, a demanda pela Neo4j cresceu impulsionada pela inteligência artificial generativa. A tecnologia de grafos é usada para reduzir as chamadas “alucinações” dos modelos de linguagem, melhorando a precisão das respostas.

“Alucinação é um nome fantasia para mentira. Se você toma decisões baseadas em informações incorretas, pode ter grandes problemas. O GraphRAG, recurso da Neo4j, vem justamente para eliminar ou reduzir drasticamente esse risco”, explica Farias.

Ele cita o caso de uma empresa de óleo e gás que, após investir em IA, atingiu apenas 65% de precisão nos resultados. “Precisão de 65% não é precisão, é erro. No setor de óleo e gás, onde cada acidente exige respostas rápidas baseadas em regras complexas, é essencial que os sistemas sejam rápidos e corretos”, complementa.

Relançamento do programa de startups

Em agosto, a Neo4j relançou globalmente seu programa de apoio a startups, com foco em empresas até a fase de investimentos Série B. Os participantes recebem até US$ 16 mil em créditos na plataforma de nuvem Aura, suporte técnico e acesso a uma comunidade global com mais de 200 mil desenvolvedores e cientistas de dados.

“O programa foi criado para acelerar o desenvolvimento e o go-to-market das startups. Queremos ajudar essas empresas a transformar ideias em produtos comercializáveis de forma mais rápida e eficiente”, explica.

Entre as startups brasileiras que já utilizam a tecnologia estão a Cognita (edtech), a Brick (insurtech) e a Hub Live (plataforma de reuniões de negócios). Globalmente, empresas como Uber, iFood e Klarna também são clientes da Neo4j.

Um dos diferenciais para startups é a redução significativa no tempo de programação. “Temos clientes que conseguiram cortar em até 80% a quantidade de linhas de código. Isso significa menos esforço de manutenção e um go-to-market muito mais rápido”, afirma o executivo.

Além disso, a tecnologia de grafos permite uma visão unificada dos dados em diferentes sistemas, conhecida como visão 360. “Isso dá ao empreendedor uma perspectiva mais completa sobre seus clientes e abre novas oportunidades de negócio, como no caso de empresas de programas de fidelidade que podem monetizar dados contextualizados”, acrescenta.

Comunidade e ecossistema

O programa de startups também oferece suporte para a mudança de mentalidade necessária para trabalhar com grafos. “Muitas vezes, as pessoas vêm de uma formação baseada em tabelas e tentam usar o grafo com essa lógica. O programa ajuda na transição para um modelo mais natural e eficiente”, afirma Farias.

Outro pilar é a comunidade global da Neo4j, que facilita a troca de experiências entre grandes empresas, cientistas de dados e fundadores de startups. Na América Latina, já são mais de 15 mil profissionais ativos. “Não fornecemos apenas tecnologia, mas também um ecossistema colaborativo. Esse ambiente de troca é fundamental para acelerar a inovação”, conclui.


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