*Por Luiz Gustavo Neves

O início de 2025 trouxe expectativas ambiciosas para o mercado de fusões e aquisições (M&A) nos Estados Unidos. Com juros e inflação em queda ao final de 2024, capital privado acumulado e a percepção de um governo “pró-negócios”, analistas projetavam um ano recorde de transações corporativas. A realidade, no entanto, se mostrou mais complexa, marcada por incertezas políticas e econômicas que levaram empresas e investidores a recalibrar suas previsões e estratégias.

O segundo mandato de Donald Trump trouxe mudanças abruptas na política econômica. Tarifas sobre diversos países eram alteradas quase diariamente, subsídios federais foram cancelados e muitas decisões corporativas ficaram paralisadas diante da imprevisibilidade. Em meio à volatilidade, empresas revisitaram negociações planejadas ou optaram por suspender operações temporariamente.

Ainda assim, o mercado de M&A não parou. Dados da PwC Global mostram que, embora o número de transações tenha caído 9% no primeiro semestre de 2025, o valor agregado das operações cresceu 15%. O dado revela uma inflexão: mais do que volume, o mercado passou a priorizar qualidade, avaliação criteriosa e identificação de oportunidades estratégicas de maior impacto.

A aprovação do chamado “Big Beautiful Bill” e a consolidação das tarifas trouxeram algo que antes faltava: um mínimo de previsibilidade para projeções financeiras. Para empresas e investidores, uma base regulatória mais clara é crucial, pois permite decisões fundamentadas e planejamento estratégico mesmo em meio à instabilidade. Nesse cenário, a disciplina na execução torna-se tão relevante quanto a identificação da oportunidade.

Especialistas em M&A reforçam que a volatilidade pode se transformar em vantagem competitiva para quem sabe interpretar o mercado. “Empresas capazes de avaliar riscos com precisão e agir estrategicamente tendem a capturar valor mesmo em cenários adversos”, afirma Bill Haemmerle, sócio da Wiss & Company. Scott Mozarsky, co-CEO da JEGI LEONIS, acrescenta que esperar por estabilidade pode significar perder oportunidades únicas, e que o diferencial está na execução inteligente, baseada em análise de dados e visão de longo prazo.

Outro ponto decisivo é o perfil das empresas em negociação. Startups e companhias de tecnologia, por exemplo, ocupam posição estratégica para atrair investimentos ou se tornarem alvo de aquisições, justamente por possuírem ativos intangíveis valiosos e alto potencial de inovação. Para grandes corporações, identificar esses ativos e garantir integração eficiente no pós-aquisição é fundamental para transformar oportunidades em resultados concretos.

O ano de 2025 evidencia que o mercado de M&A nos EUA exige mais do que ousadia. Ele pede análise estratégica, visão de longo prazo e execução disciplinada. Em um ambiente em que volatilidade e incerteza coexistem com oportunidades significativas, empresas que equilibram risco, planejamento e agilidade operacional se posicionam para capturar valor real. A lição é clara: o mercado não espera — ele recompensa quem entende, avalia e age com precisão.

*Luiz Gustavo Neves é cofundador e CEO do GigU.


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