O Setembro Amarelo, campanha nacional dedicada à prevenção do suicídio e à conscientização sobre saúde mental, recoloca o tema no centro das discussões corporativas. Em 2024, dados do Ministério da Previdência Social apontaram mais de 472 mil afastamentos de trabalhadores brasileiros relacionados a transtornos mentais e comportamentais. Entre os diagnósticos mais recorrentes estão depressão, ansiedade e transtornos de adaptação.

Tatiana Pimenta, fundadora e CEO da Vittude, empresa que atua com gestão estratégica de programas de saúde mental, avalia que a questão já não pode ser tratada como pauta secundária. Para ela, a crise silenciosa afeta indicadores relevantes, como retenção de talentos, absenteísmo e engajamento, com repercussões diretas na competitividade e na imagem das companhias.

Segundo Tatiana, o tema ultrapassou a esfera de campanhas de conscientização pontuais. Tornou-se assunto de governança e gestão de riscos, com impacto sobre resultados financeiros e até sobre compliance regulatório. A executiva considera que ignorar a saúde psicológica dos profissionais compromete não apenas a produtividade, mas também a reputação das organizações em seus setores de atuação.

Presenteísmo e impactos ocultos

Além dos afastamentos formais, o ambiente corporativo enfrenta um desafio pouco visível: o presenteísmo. O termo descreve a situação em que colaboradores permanecem fisicamente no trabalho, mas apresentam desempenho reduzido por questões emocionais.

De acordo com o Censo de Saúde Mental da Vittude, pesquisa realizada com mais de 100 mil respondentes, esse fenômeno compromete em média 31% da capacidade produtiva da força de trabalho. O impacto se traduz em metas não atingidas, retrabalho, queda no engajamento e perda de eficiência operacional.

Na avaliação de Tatiana, a atenção ao presenteísmo é tão importante quanto aos índices de absenteísmo, uma vez que o prejuízo causado pela baixa performance é constante e menos perceptível, mas igualmente nocivo ao desempenho organizacional.

Regras regulatórias e obrigações futuras

A discussão ganha ainda mais relevância com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), prevista para entrar em vigor em maio de 2026. A nova redação reforça que empresas devem incluir os riscos psicossociais em suas políticas de gestão ocupacional.

Desde 2022, a norma já determina a necessidade de contemplar esses fatores, mas o texto atualizado deixa a obrigação explícita. Para especialistas, o movimento regulatório confirma a tendência de que a saúde mental passará a ser monitorada com o mesmo rigor de outros aspectos de segurança no trabalho.

Tatiana ressalta que o cumprimento da norma deve ser visto não apenas como obrigação legal, mas como parte da estratégia de proteção ao capital humano e intelectual. Negligenciar essa dimensão, afirma, ameaça a sustentabilidade da cultura organizacional e compromete a reputação da marca empregadora.

Saúde mental como indicador estratégico

A inserção do tema na pauta de conselhos e diretorias reflete a percepção de que cuidar da saúde psicológica deixou de ser medida assistencial e passou a compor os indicadores de gestão. Empresas que estruturam programas preventivos, de suporte contínuo e de monitoramento conseguem reduzir riscos, aumentar engajamento e preservar talentos.

Na visão da CEO da Vittude, o futuro das organizações dependerá da capacidade de antecipar cenários, proteger colaboradores, sustentar culturas saudáveis e liderar mudanças estruturais. A era do improviso, afirma, chegou ao fim: o crescimento sustentável exige planejamento também nessa frente.

Especialistas apontam que o desafio imediato das organizações será integrar a saúde mental à estratégia de negócios. Isso significa estabelecer métricas, alinhar políticas internas, oferecer apoio psicológico acessível e capacitar gestores para lidar com o tema de forma adequada.

Os dados recentes indicam que a questão não pode mais ser ignorada. A sobrecarga emocional, os afastamentos recorrentes e a perda de desempenho criam obstáculos para a competitividade. A consolidação de práticas voltadas ao cuidado psicológico aparece, portanto, como componente essencial da gestão empresarial no Brasil.


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