Fundada em 2023, a Mistral AI tornou-se referência no ecossistema europeu de inteligência artificial ao lançar modelos de código aberto e produtos voltados tanto para usuários individuais quanto para empresas. A companhia, que já captou cerca de €1 bilhão em diferentes rodadas, prepara nova captação estimada em €2 bilhões, o que deve elevar sua avaliação de mercado para aproximadamente US$14 bilhões, segundo fontes próximas às negociações.

A estratégia da Mistral combina modelos abertos, disponíveis sob licença Apache 2.0, e versões proprietárias comercializadas por meio de APIs e contratos corporativos. Essa abordagem busca atender comunidades de desenvolvedores, governos e empresas em diferentes setores. Entre seus principais produtos, destaca-se o assistente conversacional Le Chat, lançado em 2024, que superou 1 milhão de downloads nas duas primeiras semanas após a chegada ao iOS e Android.

O Le Chat passou por atualizações relevantes em 2025, incluindo modo de pesquisa aprofundada, suporte multilíngue, edição de imagens e recurso chamado Projects, que organiza interações e documentos em espaços temáticos. Em setembro, a ferramenta ganhou função de memórias, permitindo continuidade em diálogos anteriores.

Modelos e soluções da Mistral AI em diferentes frentes

O portfólio da empresa também reúne modelos voltados a diferentes frentes. O Mistral Large 2 substituiu a versão anterior como principal sistema de linguagem; o Pixtral Large, multimodal, foi apresentado em 2024; e a família Magistral, lançada em junho de 2025, introduziu novas capacidades de raciocínio. Já o Mistral Medium 3, anunciado em maio, prioriza eficiência em tarefas de programação e áreas STEM. O Voxtral, primeiro modelo de áudio aberto da companhia, chegou em julho, enquanto o Devstral consolidou-se como alternativa aberta para aplicações de código.

Além disso, a companhia apresentou variações como o Les Ministraux, para dispositivos de borda; o Mistral Saba, dedicado ao idioma árabe; e a API Mistral OCR, que converte PDFs em texto para facilitar ingestão por sistemas de IA. No mesmo período, lançou o cliente Mistral Code, concorrente de ferramentas como Windsurf, Cursor e Copilot.

A linha Devstral ganhou reforço em julho de 2025 com novas versões em colaboração com a All Hands AI, incorporando recursos de programação autônoma. Parte desses modelos sustenta o Mistral Code, assistente de desenvolvimento.

A liderança da Mistral está a cargo de Arthur Mensch, ex-Google DeepMind, ao lado de Timothée Lacroix e Guillaume Lample, ambos com passagens pela Meta. O grupo também conta com apoio de conselheiros como Jean-Charles Samuelian-Werve, Charles Gorintin e o ex-ministro Cédric O, cuja participação gerou debates sobre possíveis conflitos de interesse.

Em termos de negócios, a Mistral adotou modelo híbrido. O Le Chat oferece versão gratuita e plano pago de US$14,99 mensais desde fevereiro de 2025. Na frente corporativa, a receita vem de APIs, licenciamento de modelos e acordos estratégicos. Apesar da expansão, estimativas indicam que a receita anual ainda está na faixa de oito dígitos.

Entre as parcerias anunciadas, destaca-se o acordo de 2024 com a Microsoft, que envolveu investimento de €15 milhões e distribuição via Azure. A empresa também firmou contratos com AFP, Exército francês, CMA CGM, Orange, IBM, Stellantis, governo de Luxemburgo e a startup alemã Helsing. Em maio de 2025, integrou consórcio para criação do AI Campus na região de Paris, ao lado de Nvidia, MGX e Bpifrance.

Outro anúncio relevante ocorreu em junho de 2025, quando foi divulgado o lançamento do Mistral Compute, plataforma europeia de IA apoiada por Nvidia, prevista para 2026. O projeto contou com participação do presidente Emmanuel Macron, que tem destacado publicamente a Mistral como exemplo de inovação nacional.

A empresa também apresentou, em julho de 2025, a iniciativa AI for Citizens, voltada a auxiliar governos na aplicação de inteligência artificial em serviços públicos. No mês de setembro, lançou diretório ampliado de conectores empresariais, que integra o Le Chat a ferramentas como Asana, Google Drive, Notion, Zapier e, futuramente, Databricks e Snowflake.

No campo regulatório, Arthur Mensch e outros executivos europeus assinaram em julho um manifesto pedindo à União Europeia que adie a implementação de partes da Lei de Inteligência Artificial. A Comissão Europeia, no entanto, manteve o calendário inicial.

Com o crescimento acelerado e sucessivas rodadas de investimento, a possibilidade de aquisição por grandes grupos tecnológicos tem sido recorrente. Rumores recentes envolveram a Apple, mas Mensch declarou em Davos, no início de 2025, que a Mistral não está à venda e que a abertura de capital segue como meta futura.


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