*Por Exame.com

No Brasil, mais de 300 bilhões de reais são concedidos em crédito consignado — empréstimo cujas parcelas são descontadas direto da folha de pagamento. Mas, caso você seja funcionário de uma empresa privada, dificilmente verá esse dinheiro na sua conta. O consignado privado ocupa apenas 20 bilhões de reais do montante, contra 187 bilhões de reais para servidores públicos e 130 bilhões de reais para beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Para o empreendedor Ramires Paiva, há uma oportunidade de usar a tecnologia para explorar melhor essa modalidade de crédito, que atrai pelos spreads menores. O pensamento se materializou na Creditoo, fintech que oferece empréstimo consignado privado com um processo totalmente online.

O negócio surgiu em 2016 e recebeu 1,5 milhão de dólares de investidores de peso (na cotação atual, 5,6 milhões de reais). Entre eles, Sergio Furio, criador da fintech de crédito com garantias Creditas — cotada para se tornar um unicórnio, ou startup avaliada em um bilhão de dólares, ainda neste ano. A Creditoo concedeu 15 milhões de reais em crédito consignado privado em 2018. Para 2019, tem a meta ambiciosa de alcançar uma carteira de 200 milhões de reais.

Oportunidade de mercado

De acordo com Paiva, poucos negócios focam na concessão de empréstimo consignado porque o spread, ou a diferença da taxa cobrada do consumidor e a taxa obtida pelo que oferece o crédito, é baixo na comparação com outros empréstimos. Enquanto a taxa cobrada por um consignado vai de 1,2% a 4,69% ao mêso cheque especial pratica taxas que podem chegar a mais de 16% ao mês. Os juros cobrados são menores porque o crédito consignado tem seu pagamento mais assegurado do que outras modalidades de empréstimo, com o desconto na folha de pagamentos.

A Creditoo se diferencia de outros concorrentes que oferecem crédito consignado privado por duas razões, de acordo com seu cofundador. A segurança de pagamentos pode ser ainda maior na Creditoo por conta da integração com os sistemas das empresas que queiram oferecer o consignado como benefício aos funcionários. É possível limitar o acesso do usuário ao crédito por salário e performance, por exemplo, aumentando sua probabilidade de pagamento.

Hoje, o negócio possui 600 empresas parceiras, que não pagam para oferecer o acesso ao consignado privado para seus funcionários. Paiva estima que o custo de confirmação da falta de fraudes na Creditoo pode chegar a ser 20 vezes menor do que o de outros empreendimentos de crédito com tais integrações.

Ramires Paiva, da Creditoo

A segunda diferença seria a estrutura enxuta da Creditoo, baseada em uma operação completamente online. O funcionário pode pedir crédito pelo computador ou pelo smartphone, inclusive usando o aplicativo de mensagens WhatsApp. Mais de nove em cada dez pedidos de crédito consignado passam pelo atendimento no app. O tempo de concessão varia de três a cinco minutos, beneficiado pelo acesso facilitado aos sistemas das empresas parceiras da Creditoo e por um robô de atendimento (ou chatbot). Fora isso, o negócio possui 35 funcionários na equipe.

A fintech se monetiza por meio dos juros cobrados dos tomadores do crédito consignado privado. O usuário paga uma taxa mensal de 1,75% em juros, mais uma taxa única que varia zero a 5% de acordo com o porte da empresa parceira, o perfil de risco e a quantidade de parcelas. Mesmo com a taxa única, Paiva afirma que o custo total do crédito consignado privado na Creditoo continuaria abaixo da média do mercado, de 2,7% ao mês.

A Creditoo concentra 80 mil usuários em sua plataforma e concedeu mais de três mil empréstimos. O negócio oferece empréstimos de até 50 mil reais, em 48 parcelas. Em média, seus usuários pedem 6 mil reais, a serem pagos em 17 meses. Em 2018, mais de 15 milhões de reais foram concedidos em crédito consignado privado. O empreendedor afirma que isso gerou uma economia de 2,5 milhões de reais em juros, comparando com o que seria cobrado na modalidade de crédito pessoal.

Em 2016, o negócio recebeu um investimento-anjo de Sergio Furio, fundador da Creditas, e foi incubado dentro da fintech de crédito com garantias. No ano seguinte, atraiu um aporte semente do fundo de investimentos Canary, criado por um co-fundador do site de compras Peixe Urbano e que possui entre seus participantes Paulo Veras, um dos criadores do unicórnio brasileiro de mobilidade urbana 99. Em 2018, o Canary novamente investiu na Creditoo, junto do fundo americano Global Founders Capital. A plataforma de crédito consignado privado captou ao todo 1,5 milhão de dólares em aportes.

Em 2019, a Creditoo planeja expandir sua carteira para 200 milhões de reais. Se tal projeção se confirmar, a fintech estará colada com suas parceiras de setor, como a própria Creditas.

*Por Mariana Fonseca para Exame.com

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