* Por Eduardo L’Hotellier

No início de carreira, quando eu observava os líderes das maiores empresas do país, via neles uma competitividade com a qual eu não me identificava muito. A vida me levou para o caminho do empreendedorismo e, desse lado de cá, pelo menos, as coisas são bem diferentes. Unidos pelos mesmos desafios, que muitas das vezes envolve a dura missão de vencer as barreiras internas do país e conseguir tirar uma empresa do papel e escalar os negócios, nós, fundadores de startups, juntamos forças para aprender uns com os outros e matar um leão por dia, ao invés de nos vermos como meros concorrentes.

Sempre costumo dizer nas minhas
palestras que uma das minhas melhores lições sobre empreender é não ter medo de
contar sobre seu negócio, porque dificilmente alguém irá roubar sua ideia a
ponto de você perder sua oportunidade. Afinal, as pessoas já estão preocupadas
e apaixonadas demais pelas próprias ideias para terem tempo de pensar na sua.
Soma-se a isso o fato de que empreender no Brasil é tão difícil que essa
deveria ser a última das nossas preocupações.

Quando eu comecei, lá em 2010,
contei minha ideia de negócio para o máximo de pessoas possível, de diferentes
segmentos. Isso me ajudou, e continua ajudando, a ver todos os lados do negócio
e, até mesmo, prever o que poderia dar errado desde mesmo do início. Além
disso, consegui entender pontos de vista diferentes dos meus, o que me agregou
muito. Algumas ideias das milhares que você ouve quando compartilha seu plano
de negócio vão ajudar a moldar ou redefinir sua empresa rumo ao sucesso.

E essa mesma lição lá do início
do meu negócio continuo trazendo para o GetNinjas até os dias de hoje. Alguns
empresários mais tradicionais dirão que é loucura, por exemplo, contar sobre os
planos da sua empresa para outros empresários com segmentos de negócios
similares. Isto é, empresas que acabam cruzando o mesmo mercado dado a expansão
dos serviços oferecidos por cada uma. Eu acho que é a loucura mais sensata que
existe. Por que isso?

O Brasil é um dos países mais
desafiadores para se iniciar um negócio. Além da preocupação de criar um
negócio de alto impacto e possível de escalar rápido, os desafios precisam
estar ligados em resolver um dos nossos inúmeros problemas sociais ou
econômicos. No meu caso, a solução encontrada foi a de resolver a questão na
contratação de serviços. De outras empresas, foi solucionar o acesso ao
crédito, logística, ou transporte, por exemplo.

Por isso, olho para os dezenas de
empreendedores bem-sucedidos do Brasil com inspiração. Eles conseguiram tirar
uma ideia do papel mesmo diante de tamanhas adversidades, assim como também eu
tive. Nos identificamos com os mesmos problemas, desafios e oportunidades do
ponto de vista do negócio. Ao invés de nos considerarmos concorrentes, já que
disputamos a atenção dos mesmos investidores ou usuários, vemos o que melhor
podemos extrair um dos outros.

Isso vai desde um grupo no
Whatsapp com os maiores empreendedores do país, onde compartilhamos bons
contatos, testamos novas ideias ou encontramos soluções para problemas em
comum, até um happy hour, onde podemos falar sobre negócios ou questões
pessoais que também envolvem nosso trabalho. O importante é termos essa rede de
compartilhamento, esse apoio mútuo que nos inspira e motiva.

Poucas pessoas com quem você falar sobre seu negócio terão a visão de um empreendedor assim como você tem. Por isso, essa conversa de empreendedor para empreendedor continua sendo uma das mais valiosas. É preciso deixar de lado o medo de perder espaço e se lançar para algo ainda maior, o que pode ser mais colaborativo quando você conta com a ajuda de profissionais que têm a mesma vivência para resolver problemas. Juntos, os empreendedores podem ser mais fortes e superar as barreiras para iniciar um negócio no Brasil e gerar impacto social.


Eduardo L’Hotellier é CEO e fundador do GetNinjas, uma plataforma que conecta clientes a prestadores de serviços com mais de 500 mil profissionais cadastrados em mais de 200 categorias em todo o Brasil. A empresa já captou mais de R$ 47 milhões de investimento da Monashees Capital, Kaszek Ventures e Tiger Global desde seu início, em 2011.

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