*Por Nanthaniel Popper, para New York Times News Service
Em outubro de 2017, uma equipe da SWAT invadiu a casa de Jameson Lopp na Carolina do Norte. Alguém tinha chamado a polícia e falsamente alegado que um atirador havia matado alguém e feito um refém na casa. Depois que a polícia saiu, Lopp recebeu um telefonema com mais ameaças, caso não fizesse um grande pagamento em bitcoins.
Lopp decidiu que dificultaria a situação para seus inimigos – e qualquer outra pessoa. Nunca mais o encontrariam.
Lopp, que trabalha para uma empresa de segurança de bitcoin, sempre foi obcecado por privacidade, e começou a pesquisar como uma pessoa pode desaparecer completamente do mundo corporativo e do governo nos EUA. Mas queria fazê-lo sem parar de acessar a internet e sem ter de se mudar para uma cabana na floresta.
Muitas celebridades e milionários, com receio de ladrões, paparazzi e outros predadores, tentaram alcançar a versão de privacidade completa de Lopp. Poucos conseguiram.
Lopp viu a empreitada como um tipo de experiência, para descobrir até onde teria de ir para desaparecer de bancos de dados e outros meios que mantêm nossas informações pessoais disponíveis para qualquer pessoa disposta a pagar por elas. Ele concordou em descrever os passos dados (mas fez isso de um chip de celular descartável).
1. Crie uma nova identidade corporativa.
As pessoas acabam indo parar em bancos de dados quando preenchem formulários para comprar uma propriedade, solicitam cartões de crédito ou concluem transações normais.
Lopp queria continuar a fazer essas coisas, por isso precisava de um novo nome e endereço que não revelariam suas informações pessoais. Quando perguntou a advogados especialistas em privacidade qual seria a melhor maneira de conseguir isso, ficou sabendo que precisaria criar uma empresa de responsabilidade limitada (LLC, na sigla em inglês), que serviria de nova identidade.
Para se garantir, ele estabeleceu algumas corporações que seriam usadas em diferentes situações, caso alguém o associasse a qualquer uma das LLC.
2. Abrir novas contas bancárias e obter novos cartões de pagamento.
Algumas das informações mais pessoais e amplamente rastreadas que geramos estão em nossas transações financeiras. Para fazer novas compras não ligadas a ele, Lopp abriu uma conta bancária com uma de suas novas LLCs e criou um cartão de crédito corporativo com uma empresa on-line que não exigia seu nome no cartão.
Para garantir que não se incluam muitas informações, ele faz a maioria das compras, especialmente ao comprar algo on-line, com cartões de débito pré-pagos.
3. Ter sempre dinheiro vivo.
A maneira mais anônima de comprar, claro, é simplesmente usando dinheiro vivo. Lopp agora carrega o suficiente para lidar com a maioria das transações diárias.
4. Obter um novo número de telefone.
Nossos registros telefônicos permitem que as empresas de telefonia – e qualquer pessoa que as processe ou as hackeie – saibam com quem falamos. Lopp parou de usar seu antigo número de telefone, que estava ligado ao seu nome real, e adquiriu um novo com sua identidade corporativa.
Começou também a usar um serviço para gerar novos números de telefone descartáveis que mascararam sua conta principal. Para sua conversa comigo, Lopp usou um número que começava com o código de área 917. “Criei esse número há alguns minutos e provavelmente vou excluí-lo logo depois”, disse ele.
5. Pare de usar o telefone para encontrar caminhos.
Para se certificar de que seu telefone não estivesse guardando o registro de todos os lugares em que havia estado – e potencialmente transmitindo-o para aplicativos que usa –, ele desligou todos os seus serviços de geolocalização. Quando está dirigindo e precisa de orientação, usa um dispositivo GPS dedicado que não está associado a ele.
6. Mude-se.
A antiga casa de Lopp estava totalmente vinculada a ele, por isso ele e seu cachorro precisavam de uma nova. Quando encontrou uma propriedade para comprar, usou a LLC e um cheque administrativo da conta bancária dessa mesma empresa para pagar pela casa. Uma hipoteca não seria possível.
7. Arranje um nome falso para interações casuais.
Lopp não queria que seus novos vizinhos atrapalhassem seu disfarce. Quando se apresentou a eles, usou um pseudônimo. No início, sentiu-se estranho ao dar às pessoas um nome falso. Agora, ele se sente mais estranho dando seu verdadeiro nome aos outros.
8. Crie uma VPN para usar a internet em casa.
Lopp já havia trabalhado para uma empresa de marketing on-line que conseguia ligar endereços de internet a clientes específicos usando bancos de dados comprados de outras empresas.
A fim de proteger seu endereço de internet e sua localização, ele transformou seu roteador em uma rede privada virtual, ou VPN, que faz todo o seu tráfego parecer vir de diferentes endereços em lugares diferentes.
9. Compre um carro sem graça.
A moto de Lopp e seu carro esporte Lotus Elise estavam registrados em seu nome na Divisão de Veículos Motorizados (DMV) na Carolina do Norte. Eles tinham de desaparecer. Quando comprou um carro novo, escolheu um modelo muito menos chamativo e usou a LLC para assinar os papéis. (Ele também teve de se livrar de placas chamativas, como BITCOIN.)
10. Comprar uma casa extra para enganar o DMV.
Para registrar seu carro, o DMV insistiu em um nome real – não uma LLC – e um endereço. Para satisfazer a exigência sem ter de dar seu novo endereço, ele comprou uma segunda propriedade minúscula apenas para essa finalidade. “Foi o buraco mais barato que pude encontrar e que tem uma caixa de correio física”, disse ele.
11. Configure uma caixa postal e um serviço de reenvio.
Lopp certamente não queria sua nova casa na lista de ninguém, mesmo que fosse apenas o nome de sua LLC. Para quando precisasse receber correspondência ou uma entrega, criou uma caixa postal confidencial em um centro de transporte não muito longe de sua nova casa.
Mesmo isso parecia um pouco revelador, por isso agora sua correspondência e suas encomendas chegam por meio de um serviço de reenvio, em que o remetente obtém o endereço de uma empresa privada que recebe a correspondência em um estado diferente e, em seguida, a redireciona para sua caixa postal.
12. Dominar a arte do disfarce.
Há câmeras de vigilância em todos os lugares, muitas delas com software de reconhecimento facial. Lopp não queria fazer cirurgia plástica para mudar completamente sua aparência; assim, quando resolve sair, usa óculos escuros e chapéu. Ele tinha uma barba grande, que chamava a atenção. “Tem um comprimento mais gerenciável agora, para que eu possa me misturar melhor na multidão”, disse ele.
13. Trabalhe remotamente.
Participar de uma reunião em pessoa daria a seus clientes informações sobre seus trajetos e localização. Lopp agora insiste em trabalhar remotamente, fazendo qualquer reunião por videoconferência em salas cuja localização as pessoas não conseguem identificar.
14. Criptografar dispositivos em viagens mais distantes.
Quando viajou a Tóquio recentemente, ele não tinha escolha a não ser apresentar seu passaporte na fronteira. Mas Lopp toma precauções: ele desliga seus dispositivos digitais e criptografa todos os seus dados. Dessa forma, se um funcionário da imigração ligar um dos dispositivos, suas informações ainda estarão protegidas.
15. Contratar detetives particulares para verificar seu trabalho.
Para ter certeza de que não cometeu nenhum erro, Lopp contratou detetives particulares com o objetivo de encontrá-lo. Foi um investigador que o ajudou a descobrir que seu registro do DMV o deixava vulnerável, fazendo-o comprar um imóvel para despistar.
Ele estima que seus esforços para desaparecer lhe custaram cerca de US$ 30 mil. Não espera que muitas pessoas sigam seu exemplo, mas vê a experiência como sua contribuição em um esforço mais amplo para mostrar o que é preciso para recuperar a privacidade no mundo moderno. “Eu quis testar os limites e ver o que poderia ser feito.”
*Por The New York Times
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