*Por Exame.com

Depois das empresas de mobilidade urbana Lyft e Uber, da rede social Pinterest e do site de videoconferências Zoom, a próxima empresa inovadora a vender participações na bolsa americana atua em um setor inesperado para uma startup: o de alimentação.

A Beyond Meat troca produtos de origem animal por aminoácidos, lipídios e minerais retirados de plantas para criar réplicas de hambúrgueres e salsichas. Ao entregar nesta semana a documentação necessária para sua oferta pública inicial de ações (na sigla original, IPO) na bolsa americana Nasdaq, a startup projetou uma avaliação de 1,2 bilhão de dólares.

O IPO transformaria a Beyond Meat em um unicórnio, startup avaliada em um bilhão de dólares ou mais. A Beyond Meat espera levantar 183,8 milhões de dólares em 8,8 milhões de ações, com preço unitário entre 19 e 21 dólares.

Para argumentar a avaliação, a Beyond Meat ressalta ter conquistado até consumidores de carne, mercado estimado em 1,4 trilhão de dólares globalmente. Apenas lidando com os vegetarianos e veganos, 5% da população americana, dificilmente a Beyond Meat se justificaria para os estabelecimentos e muito menos para seus investidores.

Também é difícil a startup se vender com base em lucros. Em 2018, a Beyond Meat apresentou uma receita de 87,9 milhões de dólares, 133% acima do visto no ano anterior. Mas apresenta perdas líquidas desde sua criação, há dez anos. O prejuízo foi de 29,9 milhões de dólares no ano passado, pouco abaixo dos 30,4 milhões de dólares vistos em 2017. A startup afirma que continuará focando em crescimento para atender a demanda por seus produtos vegetais, gastando suas receitas em inovação, capacidade logística, produção e marketing.

O discurso atraiu investidores até o momento. A Beyond Meat já obteve 122 milhões de dólares de fundos de investimento como o Cleveland Avenue, focado em tecnologia e alimentação, e de gigantes de alimentação americanas como General Mills e Tyson Foods. A startup está em 30 mil pontos de distribuição. O desafio, agora, é levar essa empolgação para acionistas americanos comuns.

Concorrência peso-pesado

A Beyond Meat é a primeira startup do setor de foodtech a fazer uma oferta pública inicial de ações, mas já possui concorrentes capitalizados.

A principal competidora é a Impossible Foods (ou “Comidas Impossíveis”), uma também startup californiana. Criada dois anos depois da Beyond Meat, a missão da Impossible Foods é “salvar a carne e o mundo”, produzindo alimentos tão saborosos quanto a carne e o queijo sem a necessidade de seus geradores naturais. “Usar animais para produzir carne é pré-histórico e uma tecnologia destrutiva”, afirma a empresa em seu site.

A Impossible Foods já obteve 387,5 milhões de dólares em investimentos, ou 1,46 bilhão de reais. Entre seus financiadores estão fundos como o Temasek Holdings e o Sailing Capital, que investiram respectivamente nas gigantes chinesas de tecnologia Alibaba e Didi Chuxing, e personalidades como Bill Gates, o criador da Microsoft. Recentemente, a startup fechou uma parceria com a rede de fast food Burger King e criou um “Whopper Impossible”, disponível em 59 lojas de St. Louis, cidade no estado americano Missouri.

Na América Latina, um exemplo de competidor é a startup The Not Company, que usa inteligência artificial em alimentos a base de plantas. Sua não-maionese conquistou o Jeff Bezos, o homem mais rico do planeta e criador do comércio eletrônico Amazon. Neste mês, a empresa chilena deverá chegar ao Brasil, por meio de uma parceria com o grupo varejista Pão de Açúcar. A startup recebeu 30 milhões de dólares em aportes.

A concorrência vem também de grandes redes. O fast food McDonald’s já criou um lanche vegetariano, com queijo coalho no lugar do hambúrguer, e está testando um nugget vegano, feito de grão-de-bico, milho e batata. Redes como Taco Bell e Chipotle, de comida mexicana, estão respectivamente testando menus vegetarianos e expandindo opções vegetarianas e veganas.

A julgar pelo seu crescimento, a Beyond Meat sabe fazer comidas saborosas e aproveitar um mercado com potencial. Resta saber se a estratégia irá superar a concorrência e render linhas azuis em seus balanços futuros — a mesma preocupação que ronda as várias empresas inovadoras americanas que estrearam ou estrearão no mercado de ações neste ano.

*Por Mariana Fonseca, para Exame.com

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