* Por Vitoriano Martins Jr.

Calma, você vai entender logo do que se trata, e espero passar os pontos de vistas e atritos semelhantes que várias comunidades têm passado — de forma cíclica de certa forma.

Parte desse texto é retirado de uma discussão dentro de uma comunidade e que, após conversar com colegas de outras comunidades, os mesmos falaram que passavam por atritos semelhantes.

Quando se está inserido e acompanhando comunidades há tempos, você repara que ela, assim como muitas coisas, são feitas de ciclos. Esses ciclos costumam se renovar quando há entrada de novos membros ou até mesmo reentrada de membros mais antigos. É um processo de aprendizagem de comunidade, e costuma manter os membros que se alinham ou compreendem a comunidade, algo como um filtro natural.

Para quem não leu meu outro artigo sobre comunidades, deixo o link aqui para dar uma parada, ler e voltar para se contextualizar melhor (pode ir lá que eu aguardo, são apenas três minutos de leitura).

Continuando: a comunidade é algo orgânico e que se replica no mundo, mas tem suas diferenças e semelhanças de acordo com cada região. Mas, algumas coisas estão na identidade de cada uma delas, e podemos sentir e ver que quando essas características são diferentes ou ignoradas.

Uma coisa que aprendi é que, mesmo que esteja sozinho, a comunidade não tem diretor, uma autoridade em pessoa ou um dono: você faz parte da comunidade, representa ela. É o que se pode chamar de coletivo criativo, um modelo que o Sebrae reconhece, e é o que mais próximo podemos chegar da definição de comunidade. Com isso, seus membros fazem auto-gestão, mas em suas áreas de expertise ou atuação. Lembro que a comunidade tende a ser horizontal sempre, não conheço nenhuma comunidade que tenha hierarquia ou CNPJ que funcione bem (se alguém souber, diz aí nos comentários, por favor). E isso é o assunto da próxima parte: o que sempre volta a assombrar as comunidades.

Sim, a comunidade é formada por pessoas físicas — CPFs -, que fazem um trabalho voluntário de incentivo e fomento ao empreendedorismo, repassando a experiência que eles já tiveram ou simplesmente com a vontade de ajudar o próximo.

Isto dito, acho absurdo alguém cobrar as viagens de Uber que o mesmo fez para ir a eventos, ou reuniões da comunidade, já que não se ganha dinheiro (jamais!) com a comunidade. Se você é um membro da comunidade e não consegue ir a algum compromisso para representá-la, peça carona, faz online ou não vá (como já fiz muitas vezes). Vez ou outra sempre surge o assunto da criação do CNPJ e/ou fundação de uma associação para arrecadar dinheiro e ajudar a manter.

Já antecipo que não sou contra associações, inclusive é muito importante a presença delas (como ecossistemas funcionais). Mas comunidade é uma coisa e associações são outra, com funções e objetivos diferentes, que talvez se cruzem em algum momento, andam juntos, às vezes. Uma associação não pode substituir uma comunidade, pois nunca será flexível e volátil como uma comunidade tem de ser. Ainda penso que comunidades existem em vários estágios, desde os iniciais, que pregam apenas o incentivo e fomento ao empreendedor inicial, até comunidades com apoio a startups em estágio avançado, com um apoio mais abrangente.

Eu comecei e estou aqui e não foi assumindo gestão, diretoria ou sendo indicado. Foi ajudando arrumar cadeira em eventos e meetups, foi ajudando no credenciamento de eventos ou ações, foi aprendendo e escutando, lendo, fazendo cursos e workshops da área, e arrumando mais cadeira em São Paulo, arrumando mais cadeira em Londrina, e arrumando mais cadeiras em várias outras cidades…

Até que me sentia pronto para tentar ajudar mais do que arrumar cadeiras: queria organizar quem estaria falando nesses eventos, ajudando a organizá-los. Acho que isso fica de lição para quem gosta de coisas fáceis ou rápidas. Muitas coisas na vida nós conquistamos com muito esforço e uma longa caminhada.

Acredito ainda no impacto que posso causar, e por isso ainda continuo dentro da comunidade, para poder impactar novos empreendedores e ajudá-los a criarem seus negócios. Também vejo que temos muito chão pela frente, afinal, evoluir é preciso. A comunidade em si é um grande aprendizado, e continua sendo uma experiência ímpar. Só quem se doa de verdade para comunidade se encontra em casa quando viaja para outras comunidades.

Ficam algumas dicas de boas práticas para manter uma comunidade saudável, baseadas nas minhas experiências: primeiramente preze pelo ambiente seguro e aberto, então esqueça de falar inbox ou fazer reuniões individuais (claro que há exceções). Mande tudo no grupo e fale de forma aberta: a comunidade é de todos, assim como a comunicação deve ser para todos também.

A partir disso, você verá que muita coisa começa a fluir. Segundo: tenha em mente, e no papel, o que vocês têm como meta e objetivo, assim como próximos passos também. Isso ajudará muito quem está ativo na comunidade hoje, e os novos membros que entrarão — lembro que a comunidade é cheia de ciclos e sempre tem gente nova.

Por fim, podemos colocar como DNA da comunidade a diversidade, e se empenhar que tudo que for realizado pela comunidade tente ao menos ter diversidade de todas as formas, para inclusão de raças, credos e gêneros, afinal, somos todos iguais e empreendedores do mesmo jeito. Vou finalizar por aqui, e como sempre, gostaria de feedbacks, a ideia é sempre melhorar.

* Vitoriano Martins Jr. é diretor de Comunicação do Cuiabá Arsenal, Relações Públicas e Mentor do StartupMT, Mentor da rede Mentores do Brasil, Agente Centelha e Embaixador Conecta Startup Brasil, Fundador da startup SmartGrain.

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