* Por Juliana Bernardo
Por não sermos o que chamam de “país de primeiro mundo”, é normal que muitas pessoas num primeiro instante apontem que o Brasil não é um país inovador. Ainda mais quando olhamos para pesquisas como o Índice Global de Inovação (IGI), em que, entre 129 países, o Brasil ficou em 66º no ranking de países mais inovadores do mundo. Para termos uma ideia do todo, a China ocupa o 14º lugar, enquanto Suíça, Suécia e Estados Unidos formam o top 3, respectivamente.
Mas, ao longo do tempo, muitas coisas me fazem ter um olhar diferente sobre esse ranking e acredito que a sua visão sobre o potencial inovador do Brasil também pode mudar. Temos um potencial de diversidade excelente, algo essencial para inovação, assim como mentalidade aberta e criatividade, que é matéria-prima para inovação.
Porém, muitos “mitos” foram criados acerca de potências tecnológicas, e a maioria dos exemplos que temos são estrangeiros. Nomes como Steve Jobs, Elon Musk e Bill Gates são sempre mencionados em todos os eventos, revistas e papos de inovação como maiores exemplos a perseguir. De certa forma, isso gera em nós um viés inconsciente, uma visão consolidada de que tudo que há de mais inovador está lá fora, mas não é bem por aí.
Claro que não discuto o potencial desses inovadores e da tecnologia, mas temos cases maravilhosos dentro do Brasil que tiveram pouca ou nenhuma influência de tecnologia na inovação brasileira e em produtos ou modelos de negócios, como Habib’s, Chilli Beans, Nespresso e muitos outros.
Além disso, temos um senso social apurado. Hoje, o Brasil reúne exemplos de startups que inovam em acessibilidade para pessoas com deficiência, com soluções que vão desde a ajuda nas compras para cegos no supermercado ao aplicativo de tradução de Libras, despontando em acessibilidade e inclusão.
Também já temos um baita orgulho em ver startups brasileiras que se tornaram “unicórnios” e atingiram US$ 1 bilhão de dólares no valor de mercado. São elas: 99, Ifood, Gympass, Loggi, PagSeguro, Stone, Nubank, Arco Educação, QuintoAndar e Ebanx, que foram 100% criadas “dentro de casa”.
Sabendo do nosso problema no acesso à educação de qualidade, como explicamos o potencial inovador das favelas, da periferia, que surpreende a cada dia? Quando entendem que existe demanda não atendida, vão lá e criam, inovam, fazem acontecer.
Está claro também que a exclusão e a desigualdade social geram um nicho de negócio poderoso. E é por isso que, hoje, temos tantos projetos e fundos em ascensão, como o Investe Favela e a aceleradora de startups sociais brasileira Artemisia.
Mas esse jogo pode virar ainda mais, pois precisamos (e podemos) avançar como país inovador, mas isso só vai acontecer de forma gritante quando encontrarmos nossas necessidades mais fundamentais e resolvê-las. No caso da China, por exemplo, isso aconteceu ao responder à pergunta: como possuir dinamismo econômico numa nação com população gigante, muita pobreza e escassez de recursos naturais?
Por aqui, o que nos falta ainda está na causa raiz: investimentos em educação, tecnologia e abertura para pensar coletivamente em soluções amplas, e não olhar apenas mercado interno. O Brasil tem um enorme e possível trabalho pela frente e tenho certeza de que nosso potencial é gigante. Por isso, sigo otimista e com a certeza de que chegaremos lá. Vamos juntos?
* Juliana Bernardo é Head de Inovação e Produtos no BWG Group Brasil
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