


A história de Lucas Marques é exemplo de que as origens não determinam nossos caminhos. Foi a leitura de uma revista, aos 14 anos, que fez seu sonho mudar de dimensão. Hoje, à frente do Méliuz, trabalha para dar a outras pessoas essa mesma oportunidade.
Não era uma leitura comum para alguém da sua idade. Mas, desde os 14 anos, incentivado por um professor, Lucas lia a Revista Exame toda semana. E foi esse hábito que moldou o que sonhava ser quando crescesse.
Até então, seus referenciais eram diferentes. Lucas viveu os primeiros anos de vida na roça, como ele mesmo diz, em uma cidade com menos de 10 mil habitantes no interior de Minas Gerais, chamada Coqueiral. Sua mãe fazia queijo fresco para vender e seu pai cuidava da plantação para depois vender o que era produzido na cidade ao lado. Mas quando ele e sua irmã começaram a estudar, decidiram se mudar para Varginha em busca de uma educação melhor para os filhos.
Foi ali que a visão de futuro de Lucas começou a ser desenhada. Enquanto boa parte da família continuou trabalhando na fazenda, ele tinha outros sonhos. Muitos deles inspirados pela revista que lia. Lucas conta que uma das edições da revista Exame que mais o marcaram tinha Luiz Edmond na capa, presidente da Ambev na época. O título da matéria ele não esquece: “De trainee a CEO em 12 anos”.
Essa reportagem, ao lado de tantas outras sobre o mercado financeiro, despertaram nele duas vontades:
1. Ser trainee da Ambev
2. E investir em ações da Bolsa de Valores
A primeira exigia uma jornada longa de preparo. Já a segunda, poderia se iniciar naquele instante. Os pais chegaram a vender um boi e uma vaca para emprestar o dinheiro – e, com ele, Lucas fez seus primeiros investimentos. Assim, ele começou seu primeiro emprego.
A sorte cumpriu seu papel. Era uma época em que todo mundo ganhava dinheiro com ações. Mas o desempenho de Lucas também falou alto. Ainda adolescente, chegou a ficar em segundo lugar no ranking do Folhainvest, o simulador online de investimentos da Folha de SP. Você pode imaginar a surpresa de quem trabalhava na Bolsa quando o elevador se abriu e dele saiu um garoto de 15 anos, no prédio do centro de São Paulo, para receber o reconhecimento.
300 km longe de casa
Esse interesse levou Lucas de Varginha a BH para estudar Economia na UFMG. Mas, no primeiro dia de aula, veio o banho de água fria da professora:
— Se você escolheu esse curso porque acha que vai investir em ações, você escolheu errado.
— Ok, escolhi errado. – foi o que ele pensou.
Na falta de uma grade curricular, Lucas decidiu criar a sua. Ao lado de alguns amigos, formou um grupo de estudos que se reunia no intervalo das aulas para estudar sobre as oscilações da Bolsa. Foi assim que conheceu Israel Salmen que, um ano depois dele, também descobria no primeiro dia de aula que o curso de Economia não era sobre ações.
Os investimentos iam bem, mas aquele outro sonho do trainee da Ambev continuava vivo. Para ele se realizar, era preciso comprovar inglês fluente. Uma realidade que não era a de Lucas.
8.500 km mais longe
Foi por isso que ele tomou mais uma decisão. Vendeu todas as ações que tinha, juntou o dinheiro e foi para a Irlanda. Suas reservas eram suficientes para pagar o curso e os primeiros custos, nada mais. Ele precisaria encontrar logo um emprego. Em menos de um ano, fez um pouco de tudo: foi lavador de pratos, camareiro, barista em um café da cidade…e, assim, aprendeu inglês.
De volta ao Brasil, passou um ano estagiando na Oi até se formar. Assim, enfim aos 21 anos, o segundo sonho se realizou. Entre 72 mil candidatos, Lucas foi aprovado no processo de trainee da Ambev.
Nada da boca para fora
Lá dentro, Lucas conheceu em primeira mão a cultura que sempre admirou, desde antes do grupo 3G ser conhecido. Aprendeu que nada lá é da boca para fora. O sentimento de dono, a força da cultura e o foco em resultados são valores vivos pelos corredores, em tudo o que as equipes fazem.
Alguns anos mais tarde, Lucas estava realizado. Estava feliz, pelo menos até o expediente acabar. Mas, à noite, quando sentava no bar para conversar com os amigos que estavam empreendendo, surgia uma sensação estranha. Uma dúvida. Numa noite, caiu a ficha: se ele gostava mais de ouvir as histórias deles do que as próprias, tinha algo de errado ali.
Depois de quase quatro anos, já como gerente da Ambev, tomou uma das decisões mais difíceis da sua vida: pedir demissão para empreender.
A startup que não existia nem no papel
Começou explorando algumas ideias, conversando com amigos, até que uma delas ganhou um impulso maior. Ele foi selecionada pelo SEED, programa de incentivo do governo de Minas, entre mais de 1600 startups concorrentes. Com esse impulso, teria capital, espaço de trabalho e mentorias para dar os primeiros passos.
A startup não tinham nem PPT, mas o objetivo era usar tecnologia para melhorar a política brasileira. Assim nasceu o Projeto Brasil. A janela de oportunidade estava próxima com as Eleições presidenciais de 2014. O tempo era curto. Em quatro meses, Lucas e seus sócios tiveram que aprender a ouvir os usuários e traduzir os dados em mudanças imediatas.
“Fomos de um site que apresentava os programas eleitorais, mas que ninguém lia até o final, para um game viral que chegou a 10 milhões de usuários.”
Lucas Marques
O desafio, porém, estava na monetização. O empreendedor aprendeu, logo cedo, que quem ganha as Eleições não é, necessariamente, quem tem as melhores propostas, mas sim quem tem mais dinheiro para a campanha. Por isso, esses costumam ser os candidatos com mais conflitos de interesse. E, justamente eles, seriam os únicos com capital suficiente para apoiar o projeto. Era um ciclo vicioso do qual Lucas não queria participar.
A startup que precisava de ajuda
Enquanto buscava uma saída para o desafio da monetização, recebeu um dia a visita de Israel, e seu sócio Ofli Guimarães, atuais Empreendedores Endeavor. Aquele era o terceiro ano do Méliuz e eles precisavam de ajuda. O crescimento era cada vez mais acelerado e, sozinhos, eles não poderiam olhar tudo de perto.
“Comecei a conversa convicto de que não aceitaria a proposta, com o Projeto Brasil a pleno vapor, mas depois de duas horas, fizemos um acordo: eu trabalharia no Méliuz quinta e sexta e nos outros dias cuidaria da minha própria startup.”
Lucas Marques
No primeiro dia, Lucas tocou o interfone do apartamento onde o Méliuz ficava em Belo Horizonte – e também onde Israel morava -, ligou seu computador pessoal e começou a falar com as pessoas. Não havia um descritivo da sua função, nome do cargo, muito menos metas e entregáveis. Lucas foi desbravando e contribuindo com todas as áreas, trazendo a bagagem da Ambev para o dia a dia da startup. Com o tempo, começaram a olhar mais para os resultados, melhorar os fluxos, redesenhar os processos e ganhar eficiência.
Um dia, Israel compartilhou com ele um link de uma reportagem:
— Lucas, descobri o que você é aqui no Méliuz.
“Eu cliquei para ver. Então, eu era COO, Chief Operating Officer. Mudar o cargo no LinkedIn foi fácil, mas levou um tempo até entender, de fato, meu papel.”
Lucas Marques
Hoje, Lucas entende que significa trabalhar para a empresa entregar o máximo resultado possível, com o menor custo possível.
O sonho grande em uma cultura ganha-ganha-ganha
Algumas coisas são simplesmente não-planejáveis. Em pouco tempo, o empreendedor estava completamente apaixonado pela cultura do Méliuz. Os valores da scale-up são muito alinhados com o que ele sempre acreditou. A convicção de que “nada é impossível” lembrava o sonho grande na Ambev. O “espírito empreendedor” era como o sentimento de dono. Mas, além desses valores, eles também valorizam relações “ganha-ganha-ganha”, mostrando que é possível criar uma empresa que gera valor a todos.
“Com esses valores, nós construímos uma empresa perene, lucrativa, que beneficia o time, os investidores e que prova ser possível criar um negócio que cresce muito com todo mundo ganhando.”
Por isso, no final de 2014, quando o Israel e o Ofli convidaram Lucas para ser sócio, a decisão foi fácil. Ele já amava o time, a cultura e o negócio do Méliuz e disse “sim” para seus novos sócios.
Desde então, o empreendedor já passou por quase todas as áreas da empresa. Hoje, lidera o time de Folks, como é chamada a área de Gente e Gestão por lá, e também os times de Comercial Varejo, Operações para Varejo, E-commerce e Cartão e Atendimento ao Consumidor.
De 0 a R$ 100 milhões em cashback
Durante toda sua história, o Méliuz já devolveu mais de R$ 100 milhões em cashback para as pessoas e hoje conta com mais de 9 milhões de usuários.
Quando Lucas começou, lá em 2014, o time de 12 pessoas já tinha conquistado os primeiros clientes de e-commerce como Submarino, Netshoes e Americanas. Hoje, já são mais de 2000 parceiros que oferecem cashback através do Méliuz.
Além disso, no final do ano passado, a scale-up deu um passo na direção de ser também uma instituição financeira. Em outubro, foi lançado o Cartão Méliuz, um cartão de crédito sem anuidade que devolve até 1,8% de cashback.
O potencial de impacto e crescimento do Méliuz sempre foi grande. Por isso, em 2016, Israel Salmen e Ofli Guimarães foram selecionados como Empreendedores Endeavor no Painel de Seleção de Dubai. Na época, sócios não fundadores não podiam participar do processo seletivo – o que sempre deixou Lucas inquieto. Sua vontade era viver aquela experiência para aprender com os feedbacks dos mentores, mesmo que levasse um não no final.
Mas não ser oficialmente um Empreendedor Endeavor nunca o impediu de agir como tal. Desde o começo, Lucas tem se dedicado a praticar give back para o ecossistema. Até hoje, abre espaço na agenda para mentorias, apadrinhamentos do programas Scale-Up e, no fim do ano passado, também se tornou investidor do Canary. Além dessas formas tradicionais, tem se dedicado a ocupar novos espaços sociais que ajudam outras pessoas a crescer.
Em 2018, Lucas fundou o Programadores do Futuro, um projeto social de empreendedorismo tecnológico para crianças e adolescentes. O objetivo é oferecer bolsas de estudo de inglês e programação para alunos negros de escolas públicas em BH.
“Gerar oportunidade para quem nunca teve, sempre foi um tema importante para mim”
Lucas Marques
Por essas iniciativas, Lucas foi convidado a participar do processo seletivo da Endeavor no ano passado. Depois de uma série de entrevistas com mentores da rede, incluindo a mentora Verônica Serra que já foi decisiva para a aprovação de outros empreendedores da rede como os fundadores do Ebanx em 2012, a banca foi unânime: Lucas é o mais novo Empreendedor Endeavor no Brasil.
O título, para Lucas, é mais que uma mera formalidade. Com a sua seleção, ele também abre caminho para que outros empreendedores, que não começaram como fundadores, também possam ser selecionados. Assim, multiplicamos o número de histórias e exemplos de todos os tipos que nos provam que o empreendedorismo é alavanca de transformação do país.
“Meu propósito, agora, é oferecer a outras pessoas a oportunidade de alcançarem a sua maior potência – e com isso trilharem caminhos completamente impensados.”
Lucas Marques
A história de Lucas Marques é o reflexo de como o exemplo e os incentivos certos podem nos levar por caminhos muito diferentes da nossa origem.
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