* Por Ramon Silva
Ao abrir um negócio é comum o sentimento de medo e, mais do que isso, o receio de entrar em uma canoa furada. Muitos são os livros que podem nos preparar para uma formação teórica de sucesso. Como, por exemplo, o ‘The Hard Thing About Hard Things’, do Ben Horowitz, que mostra a dura realidade do empreendedorismo, e ’Secrets of Sand Hill Road’ e ‘Venture Deals’, que ensinam como levantar capital, parte fundamental do sucesso de uma startup. A parte prática, e a mais emocionante, só se aprende vivendo e errando mesmo.
Construir uma startup de sucesso requer muita determinação e principalmente resiliência. Os melhores empreendedores dos quais já ouvi falar são pessoas que nunca pensaram em desistir mesmo quando o fracasso parecia certo.
Um exemplo disso é o Elon Musk, que retirou US$ 100 milhões, ou seja, mais de 50% da sua própria fortuna, para investir na SpaceX, empresa americana de sistemas e serviços de transporte aeroespaciais. Por mais que ele soubesse que as probabilidades de sucesso seriam mínimas, ele sabia que faria algum avanço nesse campo, de forma que outra pessoa no futuro pudesse partir daquele ponto e, enfim, resolver o problema.
Mas, é importante ressaltar que existem algumas coisas importantes a se evitar também. Um erro comum é quando os empreendedores de primeira viagem tentam proteger suas ideias. E a razão pela qual esse medo não tem fundamento é que o sucesso das startups depende totalmente da execução, não somente do conceito. Ter medo que alguém possa roubar o seu conhecimento faz com que sua empresa não seja testada no mercado em forma de feedbacks e, provavelmente, esteja na direção errada.
O erro mais comum no ecossistema, no entanto, é estruturar uma equipe com pressa, sem apurar melhor quais profissionais a empresa precisa. Ter a paciência de construir um time de qualidade, composto de colaboradores de excelência e extremamente comprometidos, é um dos maiores desafios que um empreendedor possui.
O Airbnb demorou 7 meses para contratar a primeira pessoa e foi justamente essa cautela ao montar a primeira parte do grupo que permitiu, mais tarde, um crescimento exponencial não só da empresa em termos de execução, como também de um time sólido, capaz de atrair talentos por si só.
É importante perceber que o papel do CEO da startup também muda com o tempo. O foco, que em um momento inicial, está majoritariamente na construção de um produto passa, com o tempo, a estar na construção de uma empresa. Nesse momento, o líder deve passar a pensar em como criar o melhor ambiente possível para que todos ali possam alcançar o seu máximo. É sobre trazer talentos, ouvi-los, guiá-los e criar uma atmosfera que transforma potencial em potência.
Sabemos que o ecossistema brasileiro de startups registrou recorde no volume de investimentos em 2019. Segundo levantamento da consultoria em inovação Distrito, as empresas do País receberam US$ 2,7 bilhões em aportes no ano passado.
É um crescimento de 80% na comparação com 2018, quando o total foi de US$ 1,5 bilhão. Para 2020, no entanto, é possível apostar em um cenário mais conservador em termos de investimento de capital de risco. É aconselhável que empreendedores de tecnologia que procurem capital possuam modelos de negócios escaláveis, em mercados com muito potencial, e, principalmente, que foquem em construir modelos com operações positivas o mais cedo possível.
No fim, não existe fórmula mágica para o sucesso de uma startup. Com as mudanças constantes em um cenário que segue em transformação, é preciso se adaptar e executar com velocidade. Nesse contexto, um time formado com profissionais de excelência, unidos sob uma visão fascinante e capaz de executar com qualidade, em um ambiente com uma cultura forte e valores que todos compartilham são os principais ingredientes de uma receita para o sucesso.
* Ramon Silva é cofundador do Avocado, aplicativo de delivery de produtos para mães e bebês. Nascido em Belém, ainda no ensino médio fundou sua primeira startup, o Talentos Sem Fronteiras, conectando estudantes a escolas. Estudou Ciências da Computação e Business Administration na University of Southern California (USC) e voltou ao Brasil para trabalhar num fundo de High-Frequency Trading.
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